Psicologia e a Atenção Básica de Saúde

11 votos

 

A atenção básica de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS) é parte integral do sistema de saúde do país, do qual é função central, sendo o enfoque principal do desenvolvimento social e econômico global da comunidade. É o primeiro nível de contato dos indivíduos, da família e da comunidade com o sistema nacional de saúde, levando a atenção à saúde o mais próximo possível do local onde as pessoas vivem e trabalham, constituindo o primeiro elemento de um processo de atenção continuada à saúde.
  Transcorrido mais de 20 anos da criação do Sistema Único de Saúde (SUS), encontra-se grandes desafios em relação à Atenção Básica, pois é necessário superar a desvalorização dos profissionais na área, formação específica dos mesmos, extensa carga horária de trabalho e aperfeiçoar tecnologias de apoio gerencial que possam auxiliar os a municípios maiores, com modelos tradicionais de atenção básica.
  Para superar a desvalorização dos profissionais e a dificuldade de fixação destes profissionais (alta rotatividade), o SUS preza os que já atuam na área. Possibilitando o destaque e o reconhecimento público daqueles profissionais mais qualificados, fazendo com que não abandone seu trabalho. A campanha “SUS que dá certo” é um reconhecimento às equipes e profissionais de saúde, que mesmo com condições desfavoráveis realizam um ótimo trabalho.
  O poder púbico disputa por profissionais qualificados, mas há uma inversão de valores quando se trata de atenção básica, pois a menor parte das vagas de residência médica, por exemplo, é destinada a especialistas em atenção básica e a maior parte das vagas vai para residências médicas principalmente hospitalares.  Faz-se necessário encarar o conceito de saúde, que é um direito, para que se legitime a necessidade de se inverter a proporção de profissionais especializados na atenção básica em relação àqueles dedicados a outros serviços de saúde, afinal, não se pode oferecer um serviço público completo sem que haja profissionais qualificados e reconhecidos para colocá-lo integralmente em prática.
  O SUS é um programa público administrado por gestores municipais, estaduais e federais, porém o trabalho em saúde exige autonomia relativa dos profissionais para adequar em sua prática clínica e suas ofertas terapêuticas para a singularidade de cada comunidade e usuários. Para isto é necessário que se reestruturem os contratos e se introduza tecnologias gerencias mais participativas e ímpares. Estas atividades de apoio dos gestores às equipes acarretam em um aprendizado para o gestor e para a equipe que reflete diretamente no dado atendimento à população.
Com a implantação de políticas públicas trazidas pelo SUS, foi possível pensar na prevenção de doenças e promoção de saúde para todos indivíduos, dando atenção não somente as enfermidades físicas, mas também a saúde mental e social dos mesmos. Inúmeros profissionais foram inseridos na rede, para dar conta da demanda, entre eles o psicólogo a partir do ano de 1982, junto com ele profissionais da fisioterapia, odontologia, assistência social, enfermagem e educação física e psiquiatria uniram-se em um único grupo. A criação dessas equipes passou a atuar nos centros de saúde integrados com atuação nos níveis primário, secundário e terciário, saindo dos hospitais e postos de saúde para atuar diretamente na comunidade, deixando o individual para trabalhar de forma coletiva e colaborativa.
Esse trabalho multidisciplinar torna-se extremamente importante, válido e rico para os usuários, porém, muitas vezes, a formação dessa equipe é dificultada pelos próprios profissionais. Saber compreender o colega que atua em outra área da saúde e manter uma boa comunicação, para que o trabalho seja realizado em conjunto são fatores principais para o bom funcionamento da equipe e é nesse contexto que o psicólogo tem papel fundamental entre seus colegas.
Souza (2008) enfatiza algumas atividades que podem ser realizadas pelo psicólogo no SUS, não só com os pacientes, mas também atividades realizadas em comunidades: a avaliação de pessoas candidatas a diversos procedimentos cirúrgicos; atendimento psicoeducacional; grupos para modificação de comportamentos de risco; avaliação e delineamento de programa de intervenção para sujeitos com problemas em conformar-se com o  tratamento sugerido pela equipe de saúde que o atende; avaliação neuropsicológica para diagnóstico e sugestão de intervenção; auxilio na reabilitação de pacientes com deficiências físicas; intervenções para o domínio de sintomas, pacientes que realizam quimioterapia; atendimento em psicologia pediátrica e saúde do trabalhador.
O SUS ainda enfrenta dificuldades para colocar todos esses serviços em prática, pois muitas vezes faltam verbas, estrutura e profissionais, porém, cada vez mais são contratadas pessoas qualificadas e dispostas a realizar mudanças, para que o Sistema Único de Saúde se torne melhor a cada dia.

Andressa Nascimento e Mariana Brutti.