O Brasil é o Terceiro Pior Lugar do Mundo para Morrer

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Estamos acostumados a ouvir sobre a "qualidade de vida", expressão ou conceito com inúmeros significados e aplicações. Quando reina uma certa confusão, estudiosos acreditam que criar índices e medidas padrão pode botar alguma ordem no caos empírico. Assim, por exemplo, o IDH é uma dessas maneiras que intentam demmonstrar o que todos intuiitivamente já sabiam: concentração de riqueza não se traduz necessariamente por viver bem. Nada mais enganoso que o PIB. Países minúsculos como a Holanda ou a Dinamarca podem apresentar possibilidades de viver bem a vida muito mais democratizadas que a norteamericana por exemplo. 

 

Pois agora estamos diante de um novo índice, o de "qualidade de morte". A revista "The Economist" realizou uma pesquisa para saber como estão morrendo as pessoas em 40 países. Cada nação recebeu pontuações baseadas em índices quantitativos e qualitativos, normalizados e transcodificados em números.

 

Os indicadores, distribuídos em 4 categorias, tratam desde a expectativa de vida, porcentagem do PIB destinado à saúde até se estudantes na área da saúde são formados para cuidados paliativos e a existência desses serviços,  se a população tem acesso mais facilitado à drogas analgésicas. Os melhores países do mundo para se morrer são o Reino Unido e a Austrália, entre inúmeros fatores por dispor de um bom sistema de saúde com eficiente rede de cuidados paliatiivos em hospices e enfermarias em hospitais. 

 

O Brasil, entre os países investigados, encontra-se em 38o lugar, perdemos apenas para a Índia e Uganda. Outra curiosidade é que ter um IDH alto pode não significar boas possibilidades de morrer bem (vide a figura que ilustra o post). Aqui adentramos às resistências culturais em aceitar a morte com cuidados no final da vida ainda mediados por alta tecnologia e obstinação terapêutica como os casos da Itália ou da Finlândia. Como bem afirmou meu amigo Ayala Gurgel: "A dignidade humana dos moribundos deixa de ser apenas uma bandeira de luta e passa a ser um indicativo moral da assistência à saúde de muitos países, não apenas como ação isolada, mas como política pública" (Vide blog da hanatos)

 

Mas voltemos os olhos ao Brasil. O que os dados afirmam de mais estarrecedor é justamente nosso nível de abandono dos moribundos. Embora nos últimos anos seja digno de nota nosso desenvovimento humano no que tange  a aspectos de saúde pública como a redução da mortalidade infantil ou o aumento da expectativa de vida, no que tange a assistência aos moribundos estamos lado a lado com Uganda.

 

É  urgente mudarmos nossa relação com a morte e o morrer. Um imenso trabalho a ser realizado que passa pela formação de trabalhadores da saúde – mediada por um ethos que afirma paradigmas errôneos como o  "combate a morte" em detrimento a produção da vida – modificações na organização e nos processos de trabalho em saúde para que a qualidade morte possa ser implementada nos serviços de saúde; e mudanças de ordem cultural  para que a sociedade perceba que morte mediada pelas tecnologias de suporte e tratamentos invasivos ferem a dignidade do ser humano.

 

O  Brasil vai carregando o pesado fardo de índices inaceitáveis de analfabetismo, trabalho infantil, mortalidade materno-infantil e, agora, demonstrado por índices e números, fica evidenciado de forma cristalina que morremos muito mal.  Um país que sediará jogos olímpicos e copa do mundo não pode conviver com índices tão vergonhosos!