INVENÇÃO E CRIAÇÃO

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Colóquio Deleuze – Contra o julgamento, a compreensão.

 

 

Quem ouviu a fala de Luis Eduardo Aragon, médico cardiologista e psicanalista, no colóquio sobre Deleuze ( USP, agosto de 2010 ), teve a rara oportunidade de um encontro com a “compreensão no lugar do julgamento”.

 

Aragon relata apaixonadamente, como um bom leitor de Espinosa e Deleuze, a experiência paradoxal de uma mulher que procura o psicanalista a partir de um estranhamento com as próprias emoções. Quer saber o que se passa em seu corpo. Quer  um diagnóstico e a receita para sair desta condição “anormal”. O corpo parece apartado do resto, ao ser tomado por sintomas como taquicardia, tremedeira e falta de ar. Condição   nomeada pelos psiquiatras como “pânico”. 

 

O corpo é vivido como um “perseguidor” implacável. Um excesso, um transbordamento força a passagem e mina o controle antes exercido “naturalmente”. Soma-se ao sofrimento físico uma forte perspectiva moral e culposa, que aparece na fala desta mulher. Ela compartilha da ilusão de um padrão de normalidade que supõe existir concretamente no mundo…dos outros. Está submersa num território existencial que captura as subjetivações num sentido único, tomado como o padrão do sentir.

 

Vive literalmente uma figura da transcendência.

 

Deparamo-nos diariamente com essa condição paradoxal, num tempo marcado pelo combate a todo tipo de sofrimento. E nessa guerra vale lançar mão de qualquer tipo de arma. O imperativo é o anulamento da dor. A qualquer custo. 

 

Vivemos uma civilização do clichê, iludidos de “felicidade”. Todos percebem da mesma forma a mesma coisa! Cada um seria como uma “antena repetidora”. Um finito ilimitadamente repetido. Tédio no lugar de alegria. Mundo das equivalências.

E o império da comunicação joga um papel sinistro nessa reprodução do mesmo. 

 

A célebre frase de Deleuze diz tudo: “Nós perdemos o mundo, nos desapossaram dele…” Mas, mostra uma saída: “Criar sempre foi diferente de comunicar”.

 

 

Aragon faz, então, um passeio pelo pensamento de Plotino a Espinosa e Deleuze. 

Mostra como é preciso sair deste pensamento que “pensa” por uma espécie de emanação. Viver por imitação ou semelhança a um modo único, dado como normal e desejável. Apartado da vida em sua encarnação das diferenças.

 

“Ser é eterno retorno das diferenças”. Não há modelo a seguir. Há sim um desdobrar sem fim de singularidades, a imanência da vida.   

 

Contra esse mundo da negatividade, que fabrica modelos transcendentes, é preciso criar uma espécie de “máquina de guerra”. Máquina de guerra  que valoriza o pensamento no lugar da consciência e luta contra a tristeza e o ressentimento. 

 

INVENÇÃO E CRIAÇÃO COMO ANTÍDOTOS!