POR UM MINISTRO DA SAÚDE QUE SEJA GESTOR E CUIDADOR

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Nós, todos e todas da educação em saúde, dos movimentos e práticas de educação popular em saúde e das práticas integrativas e complementares, que atuamos em rede através dos movimentos populares de saúde manifestamos nossa preocupação com as notícias de bastidores que se relacionam ao Sr. Drauzio Varela como nome possível para assumir a pasta do Ministério da Saúde.

Não vemos no Sr. Drauzio Varella esta condição, do ponto de vista da integralidade e mesmo da articulação institucional requeridas, entre outras, para ocupar tão importante e complexa missão.
Compreendemos toda a dimensão político-técnica que movimenta o olhar da nossa Presidenta eleita sobre o perfil do próximo Ministro da Saúde, mas precisa que minimamente o coração da saúde seja auscultado, para além das disputas partidárias por cargos e para além do tecnocracismo burocrático. O que a grande maioria dos profissinais de saúde do SUS deseja é que tenhamos um (a) gestor (a) comprometido com o SUS e com as grandes causas e desafios do Povo Brasileiro, que não seja apenas uma personalidade midiatica, sem história que o referencie e o identifique no bojo na reforma sanitária e da luta pelo direito à saúde de toda a população brasileira.
Recentemente, o Sr. Drauzio Varella anfrontou o conhecimento vigente, cientificamente qualificado e popularmente vivenciado no que concerne as inúmeras experiências que atendem pela Política de Práticas Integrativas e Complementares de Saúde. O Sr. Drauzio não tem a real dimensão do quanto este universo é qualificado e o respaldo que tais práticas assumem no contexto socio-econômico e cultural do Povo Brasileiro. Não só por isto, mas também considerando este contexto manifestamos nossa veemente indisposição, como cidadãos, como militantes dos movimentos e como profissionais de saúde em aceitar a escolha de um ministro que não reúna as qualidades que sejam demonstradas em sua biografia e em sua prática: os compromissos com a saúde coletiva, pública e de qualidade. Assim como a nossa querida presidenta Dilma Roussef, nós todos e todas queremos uma governança que assegure o pleno desenvolvimento da gestão do SUS, que aponte para a efetividade, a eficácia e a resolutivade da concretização dos princípios do SUS. Por isto mesmo, o próximo Ministro da Saúde, espera-se que tenha compromisso histórico com estas premissas e que não deixe nenhuma dúvida quanto a sua visão de saúde pública e total isenção frente ao mercado, a grande midia e a indústria de medicamentos.
Ou seja, o Ministério da Saúde, para realizar os avanços que o nosso povo precisa – para ir ao encontro da saúde como qualidade de vida e não apenas correr atrás da doença – precisa de um grande gestor, que não tenha apenas o olhar de gerente, mas o olhar de cuidador!
 
Por isso mesmo não dá pra fazer de conta…
 
…Não dá pra fazer de conta
Que eles não reagem não
Não dá pra fazer de conta
Que a saúde já mudou
Não dá pra fazer de conta
Que as coisas se conformarão
Um dia o descaso cansa
E eles descruzarão as mãos
 
O povo dos territórios
Está dizendo que não dá
Não dá mais pra suportar
A indiferença e humilhação
Da demanda reprimida
Que alguém finge que não vê
Não há como viver em paz
Aonda tem fila pra morrer!
 
Não dá pra fazer de conta
Que é só poema ou canção
Não dá pra fazer de conta
Que se ouve sem se olhar
Não dá pra não ficar inquieto
Com as notícias no ar
Saúde também precisa
Ter coragem de se zangar
 
O povo dos territórios
Está dizendo que não dá
Não dá mais pra suportar
A indiferença e a desatenção
Tanta gente que precisa
Só do toque de acolher
Não há como viver em paz
Aonde tem fila pra morrer!
 
Em tempo 1: claro que durante o processo eleitoral todos e todas fomos à luta em favor da continuidade e dos avanços do projeto popular para o Brasil. Claro que o Presidente Lula foi fundamental para impedir as ameaças de retrocesso, mas nós, educadores e militantes, profissionais e gente do povo dos meios populares também jogamos papel importante e fundamental na articulação e mobilização para o Brasil seguir mudando. Por isso mesmo, agora temos a obrigação, de inteferirmos propositivamente, problematizadoramente, de forma participativa e cooperativa para fazer valer as transformações que a saúde e outras áreas precisam, para de fato, a gente continuar mudando. Acreditamos no discernimento, na qualidade e sensibilidade da nossa presidenta eleita Dilma Roussef. Mas, como participantes ativos das comunidades e territórios, vinculados a luta da educação em saúde e do controle social não podemos nos omitir da reflexão e contribuição permanente em defesa dos direitos humanos e sociais, do ponto de vista da educação popular em saúde, enquanto educadores populares que somos;
 
Em tempo 2: o texto poetico reflete o olhar desafiador sobre gargalos da nossa saúde, no contexto do Brasil. O poeta tem a consciência de que a superação dos graves problemas estruturais não exige apenas gerenciamento, mas financiamento e controle social. 
 
Atenciosamente,
Elias José da Silva
Educador popular e poeta, militante dos movimentos populares de saúde.