Um Olhar sobre o Congresso de Ciências Sociais e humanas em Saúde 2011-parte 2

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A segunda-feira (18/05) prometia instigantes Mesas redondas e GTs no V Congresso Brasileiro de Ciências Sociais e Humanas em Saúde.

A escolha foi difícil, pois alguns coincidiam e fiquei a pensar o quanto seria bom que esses momentos estivessem sendo filmados, para a produção de um vídeo apresentando o Congresso ABRASCO . Infelizmente perdemos muitas palavras proferidas por conferencistas eloqüentes, pertinentes, sapientes.

Escolhi, para iniciar, a mesa redonda 8, que tratava da Biopolítica e saúde: Reflexões contemporâneas, exposta por Francisco Ortega (UERJ), Pedro Paulo Gomes Pereira (Universidade federal de São Paulo), sob coordenação de Roseni Pinheiro (IMS/UERJ).

Ortega aborda o enfoque mais geral da biopolítica enquanto uma forma de poder que repousa sob a ameaça de morte, incentivando a ‘valorização’ da vida.
Aprofunda a noção da biopolítica como uma racionalidade política, que, para ser compreendida, é preciso entender novas sociabilidades, citando especificamente os autistas e os adolescentes.
Pedro Paulo Pereira trouxe contribuições da antropologia, ilustrando com exemplos de sua pesquisa com excluídos sociais, comparando-os, de certa maneira ao conceito de ‘homo-sacer’, de Agamben, ou seja, àqueles cujas vidas não merecem ser vividas, vidas sacrificáveis.
Denuncia a existência de zonas, ou bolsões de excluídos nas quais as pessoas são abandonadas, deixadas para morrer. Denomina esses ‘guetos’ de ‘zonas de não ação’. É exatamente nesse interstício ou poro social onde ocorre a efervescência de muitas experimentações. A meu ver, por esse poro goteja um suor diferente da assepsia moldada/forjada e incentivada pela normalização das existências sociais.
Pergunta:- Porque uma política DA vida produz morte?
Reformula a pergunta para:Porque uma política SOBRE A vida produz morte?
Reconfigura ainda a pergunta: – Que vida?
 

Traz para a cena de seus argumentos a noção de tecnobiopoder, no qual o poder incide sobre um “tecno-vivo-conectado” [Olha nós por aqui!]
Relembra que o medo do contágio e o terror da epidemia povoam o imaginário contemporâneo. Segundo o conferencista, tal fenômeno diminui as trocas simbólicas e acentua o isolamento, a segregação, a assepsia social a partir da exclusão. Isso compromete por demais o vínculo social, tão importante para a adesão a projetos coletivos.
Em um só movimento há incentivo à vida e segregação dos outros, dos diferentes, dos estranhos, dos distintos.
Ilustra sua explanação com o relato de uma historia na qual a exclusão serviu de um novo modo de existência para um jovem denominado Fernando.
Explicita que o PODER (que rotula e normaliza; que enquadra e classifica) não dá conta de todas as dimensões do Fernando. Algo ESCAPA.
O jovem Fernando, um excluído das benesses sociais, ressignificou seu mundo e aprendeu a enxergar opções onde aparentemente não existiam.
O conferencista ainda põe em evidência a biopolítica como um conceito que interpela a natureza e a cultura, o mito e o discurso, compreendendo e alertando que no universo de pesquisa seria importante fazer menos perguntas e compreender mais as perguntas dos interlocutores, procurando notar a POTÊNCIA e o que ESCAPA.
Concluiu que essa discussão é um campo aberto de conceitos e aplicações que ainda precisam ser mais bem interpretados.
Isso me animou bastante.

Por hoje é só, pessoal.

Comentarei outras conferências e trabalhos apresentados em  ocasião oportuna.
Aguardo complementações, alterações e outros olhares de alguns e algumas colegas que estiveram nesses momentos aqui recortados e narrados.
Saudações nutritivas. Rejane (Re.j.e)