As aventuras de Angelina
Como fazer uma pequena paciente de 4 anos, recém diagnosticada com Diabetes tipo I, aceitar de maneira mais tranquila a aplicação diária de insulina? Foi essa a pergunta que a mãe e avó de Pam fizeram para a equipe do Doce Alegria no Ambulatório da FURB. Pam sempre chegava arredia e chorando para as consultas e sequer olhava nos olhos dos membros da equipe. A avó e a mãe, que eram as cuidadoras da menina, estavam desanimadas com a batalha diária que se travava toda vez que chegava a hora de aplicar a insulina. A equipe conversou várias vezes e as abordagens não funcionavam. Num dia da consulta de enfermagem, Pam falou que a avó parecia um jacaré quando abria a boca. Então comecei a cantar a música dos dez indizinhos no bote. Ela imediatamente me olhou e começou a cantar. Naquele dia, a consulta foi basicamente cantar as músicas da Galinha pintadinha. Aproveitei a abertura e procurei saber do que Pam gostava. Ela me disse que adorava o personagem Angelina Ballerina (do canal pago Discovery Kids). Então falei: "lá na minha casa eu tenho uma Angelina com diabetes, você cuida dela para mim?" Pam adorou a idéia e 20 dias depois lá estava ela no ambulatório para buscar a Angelina (confeccionada por minha mãe, numa grande rede solidária!!). Adaptamos um frasco de insulina, uma seringa com agulha sem ponta e Pam foi orientada de como deveria aplicar a insulina na boneca. E recebeu uma responsabilidade: para não assustar a Angelina, a menina teria que tentar não chorar na hora da aplicação da insulina. Caso ela voltasse a resistir demais, a Angelina voltaria para minha casa. Essa experiência começou a dois meses e de lá para cá as cuidadoras de Pam relatam que a hora da aplicação melhorou cerca de 90% (ninguém espera que ela nunca mais chore né?). O controle glicêmico da menina também ficou melhor e as cuidadoras estão mais tranquila em relação ao tratamento. O vínculo com a equipe melhorou e Pam se responsabilizou, dentro do permitido para sua idade, pelo tratamento. Ela tem a incumbência de sempre trazer a Angelina nas consultas para ser examinada e contar se Pam não está chorando. Diante dos bons resultados, a equipe agora estuda criar outros mascotes para outras crianças. Tanto, que há um mês recebemos um paciente de 1 ano e meio também com diagnóstico de Diabetes tipo I. Os pais relataram as mesmas dificuldades para a aplicação de insulina. A equipe conversou com os pais, relatou o caso de Pam e sua Angelina, e adivinhem só: daqui há 15 dias, nosso pequeno ganhará um Pica-pau diabético. E daí teremos mais história.
Abraços, Tati
PS: as fotos foram autorizadas pela mãe de Pam
Por Cláudia Matthes
que bons resultados… de escutas sensíveis a demandas tão significativas.
Uma boa sugestão aos autores de estórias infantis poderem se apropriar da vida e tornar mais suportável as demandas de saúde.
Maurício de Souza e todos os demais. Já ter o louco na estorinha da turma da monica já ajuda muito. Mas um diabético já seria de bom tamanho.
Um grande abraço e um beijo por partilhar conosco essa experiência por demais significativa.
Com carinho
Cláudia Peju