A sempre antiga e renovada família e o fim do velho modelo de educação escolar
A família remonta ao tempo dos proto-humanos primatas e aos caçadores coletores da idade da pedra. Ela é mais antiga que a sociedade e suas instituições. A Família é muito mais antiga do que a escola. Em seu contexto, no entanto, a escola já é anacronicamente velha e disfuncional.
Quando a civilização humana entra em processo de mudança revolucionária, a sociedade convulsiona e os afetos transbordam da família para as comunidades. Emoções intensas contidas no ceio das famílias pelo vínculo de dependência que gera a sobrevivência de uma linhagem ao longo de muitas gerações, invadem as instituições sociais.
Foi assim no começo do século XX com as duas grandes guerras em que milhões de jovens travaram guerras de extermínio e morreram em campos de batalha berrando por suas mães. O século XIX termina no naufrágio do Titanic e inicia como consequência da conscrição dos homens em massa para a guerra, dando um novo papel para as mulheres na indústria e serviços na Europa e América do Norte.
Assim, quando vemos um jovem manifestar desprezo e nojo por professores e colegas de aula neste início de século XXI, estamos testemunhando uma crise social que beira a anomia. Estas intimidades afetivas que se extravasam da família para as instituições sociais denotam uma crise do modo familiar que acabará por reformular a sociedade e suas instituições em nome da permanência do núcleo familiar. A escola, por sua proximidade com a família é a primeira a sofrer o impacto.
Qualquer pai ou mãe, avô ou avó, tio ou tia, madrasta ou padrasto se vê obrigado a criar uma nova e volátil tradição, modo, ética e estética entre o passar de sua geração e o início da de seus filhos. Uma criança de 12 anos está em um mundo pós 11 de Setembro de 2001, ou seja, em um mundo diferente, em termos concretos e morais, daquele em que seu pai cresceu.
Paradoxalmente, como dito acima, a projeção deste cenário não é a de uma crise de extinção da família. Ela permanece. É ancestral e estável. Como bem atesta a invasão da esfera pública, com consequências violentas e trágicas para a sociedade, dos afetos eficientemente contidos na coesão do núcleo familiar. A História está repleta de exemplos de civilizações, culturas, sociedades e instituições que desabam frente a intensos surtos de modificações nas relações humanas.
Pouco importa se chamarmos estas mudanças de surtos modernização, ou de anarquia, revolução tecnológica ou crise ambiental e de desenvolvimentismo predatório. A escatologia e o messianismo que acompanham estas fases históricas são precedidos de grandes surtos de prosperidade, com mais ou menos desigualdade social, e por subsequentes desmoronamentos institucionais, degeneração dos pactos de coesão e rearranjos sociais e culturais.
A sociedade e as culturas aprendem a falar novas linguagens depois das crises. Mas a semente da renovação permanece sendo o núcleo familiar ancestral. A escola para seguir existindo, deverá se adequar ao novo modelo de núcleo familiar. Se moldar de acordo com a funcionalidade de linhagens matrilineares, e potencializá-las. De outro modo, seguirá disfuncional e sendo invadida por hordas de crianças em busca de confirmação para seus novíssimos modos familiares e tutores existenciais.
Merece uma nova visita esta original análise sobre a superação do atual modelo escolar que é, em parte, a fonte de minha reflexão acima:
Por Maria Luiza Carrilho Sardenberg
Realmente polêmico o assunto e passível de múltiplas interpretações, Marco.
Tendo a pensar, pelos caminhos que já andei, que as mudanças vêm de todos os lados, sem uma hierarquia ou primado de um motor ou outro das mesmas.
O vídeo é mesmo muito interessante: coloquial sem perder a consistência.
beijos,
Iza