Cativas e Despertarás

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APRESENTAÇÃO

Considerando a importância fundamental da saúde da criança no âmbito da Atenção Básica, como meio de promoção da saúde, prevenção de agravos e recuperação do dano, o presente projeto de intervenção foi elaborado e executado pelos doutorandos Antônio Anderson Fernandes Freire, Filipe Correia Lima Rodrigues DE Medeiros e Marcela Samille Araújo de Brito, do curso de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), durante o Internato em Saúde Coletiva.  Durante este estágio, ocorrido na USF de Campinas, Macaíba/RM, estiveram diante da preceptoria o Enfermeiro Marlos Victor Fonseca de Lima e a Médica Rochelle Siqueira Melo, com tutoria da professora Vyna Maria Cruz Leite, e com colaboração da professora Vilani Medeiros de Araújo Nunes.

 

INTRODUÇÃO

Desenvolvemos nossa intervenção na Unidade Básica de Saúde (UBS) “Campinas”, que localiza-se na zona sul da cidade de Macaíba-RN e abrange quatro microáreas de saúde (Campinas 1, Campinas 2, Araçá, Lagoa Grande). A área adstrita é composta por cerca de 4200 pessoas, enquanto a adscrita possui cerca de 3500 cidadãos. A equipe que compõe a ESF Campinas é composta por uma médica, um enfermeiro, uma dentista, uma auxiliar de dentista e quatro agentes comunitários de saúde (ACS).
Após o desenvolvimento das vivências, ao longo das sete semanas de trabalho na UBS, percebemos uma baixa adesão das famílias ao programa de Crescimento e Desenvolvimento (CD), e diante da importância do tema, decidimos intervir neste ponto, a fim de facilitar o trabalho dos profissionais da unidade e melhorar a adesão e acompanhamento das crianças da área.
A estratégia de saúde da família deve ser a principal porta de entrada para a população, independente da faixa etária, a ela adscrita e, para isto, as equipes precisam fazer valer o dispositivo do acolhimento, ampliando o acesso e viabilizando a atenção integral e multidisciplinar. Diante disto, é necessário que os profissionais de saúde procurem conhecer os riscos a que a população está submetida, apontados com base epidemiológica, priorizando grupos mais vulneráveis e realizando ações de prevenção e vigilância.
Dentro do contexto da atenção básica, nas últimas décadas, tem crescido o interesse pelo desenvolvimento integral da criança, como resultado do reconhecimento de que a prevenção de problemas ou de patologias nesse período exerce efeitos duradouros para o ser humano1.
Os índices de mortalidade infantil – embora bastante reduzidos na última década – ainda são altos, em especial no nordeste brasileiro. Na maioria dos casos, os óbitos poderiam ser evitados diante de políticas públicas que fortalecessem desde o pré-natal das mulheres gestantes até o acompanhamento periódico das crianças com as consultas de CD, para prevenção de agravos e diagnóstico precoce de possíveis doenças2.
Adotar medidas para o crescimento e o desenvolvimento saudáveis, como recomendado na Reunião de Cúpula em Favor da Infância (Nova York, 1990), na Conferência Internacional de Nutrição (Roma, 1992), nas políticas de saúde da criança (1980 aos dias atuais) do Ministério da Saúde como, no PAISC, na Atenção Integrada às Doenças Prevalentes na Infância (AIDPI), no Estatuto da Criança e Adolescência, bem como na semana de saúde integral, significa garantir um direito da população e cumprir uma obrigação do Estado3.
O CD para ser desenvolvido em sua plenitude, deve abordar todos os aspectos da vida da criança. Dessa forma, o profissional deve procurar conhecer e compreender a criança em seu ambiente familiar e social, além de suas relações e interação com o contexto socioeconômico, histórico, político e cultural em que está inserida. Isto se torna fundamental, pois as ações médicas, além de serem dirigidas à criança, refletem sobre o seu meio social, a começar pela família. Sem o envolvimento desta, não alcançaremos o sucesso esperado4.
Com a decisão de trabalharmos com crianças, lembramos de um clássico literário que trata do universo infantil, mas traz ensinamentos para a vida: O Pequeno Príncipe, de Antoine de Saint-Exupéry; e uma de suas frases mais marcantes “Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas”. O autor enfatiza diversas vezes no texto que cativar significa criar interdependência, nos fez perceber que se Cativássemos a população, poderíamos Despertá-los e gerar nela uma necessidade em manter essa ligação, considerando a importância da saúde da criança. Cativando então, despertaríamos famílias e melhoraríamos sua adesão às consultas do programa CD.

OBJETIVOS

Este trabalho objetiva: facilitar o trabalho da equipe no que diz respeito ao acompanhamento de crianças de suas respectivas microáreas, através de orientações aos agentes comunitários de saúde e da elaboração de uma ficha facilitadora para consultas com o enfermeiro da unidade; atingir cobertura da totalidade de crianças em seguimento pelo programa CD, demonstrando a acessibilidade da unidade de saúde, conforme preconizado nos princípios do SUS; ampliar diagnóstico de erros no crescimento e desenvolvimento e garantir conduta adequada a cada caso bem como acompanhamento longitudinal, melhorando o perfil biológico da microárea; fornecer informação às mães sobre questões desde o pré-natal ao crescimento do seu filho, promovendo saúde entre estas famílias; formar vínculo com famílias, para enfatizar e despertar sobre a necessidade da saúde da criança.

 

METODOLOGIA

Trata-se de um trabalho intervencionista, cujos critérios de inclusão são idade de 0 a 2 anos, e residente na microárea Campinas. Criou-se uma ficha de primeira vez e de evolução para fazer parte do prontuário familiar e ser usada em todas as consultas da criança. Foram convidadas a participar todas as famílias com crianças que se encaixam nos critérios de inclusão. Em tal evento, ocorrido nas dependências da Unidade de Saúde, entre 21 e 22 de junho de 2012, foram feitas rodas de conversa na sala de espera, cadastro das crianças no SISVAN e consultas de CD com as crianças presentes, pelos doutorandos e sob supervisão dos preceptores. 

 

  

 

RESULTADOS / DISCUSSÃO
De um total de 28 crianças entre 0-2 anos existentes na microárea, foram consultadas 12, das quais 04 nunca tinham realizado nenhum tipo de acompanhamento após o nascimento; 09 das 12 crianças estavam dentro do desenvolvimento esperado, uma criança estava acima do peso para idade (Z escore > +2) enquanto que outras duas estavam abaixo do peso para idade (Z escore < -2); 05 crianças acima de 6 meses de idade não faziam reposição de ferro nem de vitamina A, sendo iniciado de imediato as reposições de acordo com a posologia adequada para cada caso.

Concluímos com estes resultados que, apesar de o objetivo de atingir a cobertura da totalidade de crianças ate 2 anos não ter sido alcançado, ainda foi conseguido formar vinculo com mais quatro famílias, cujas crianças não faziam acompanhamento anteriormente, e isso demonstra que a busca ativa favorece e fortalece a união da comunidade com sua equipe de saúde. Investir então em famílias desvinculadas da unidade de saúde contribui para a excelência do serviço.