O consumo de pessoas na modernidade líquida, a cortesia e a solidão no ambiente de trabalho: pequeno ensaio
Desde a Renascença, o fenômeno da individualização vem se delineando de forma cada vez mais incisiva. A falência do Feudalismo e a ascensão do Capitalismo foram preponderantes nesse processo, levando o ser humano a migrar da vida pública para a privada, primeiro se refugiando no núcleo familiar e tendo-o como referência identitária, posteriormente, estabelecendo sua identidade a partir do trabalho. Atualmente, diante da liquefação das relações de trabalho e sua reverberação para o núcleo familiar, o indivíduo se vê órfão de uma referência identitária consistente. A presente reflexão resvala no fenômeno de liquefação social descrita por Bauman (2001) e suas implicações para as vidas humanas nas suas diferentes esferas: vida pública, privada, relacionamentos humanos, mundo do trabalho, estado e instituições sociais. Para ele, a solidez das instituições sociais (do estado de bem-estar, da família, das relações de trabalho, entre outras) perde espaço, de modo cada vez mais fugaz, para o fenômeno da liquefação. Consequentemente vivemos um tempo de transformações sociais aceleradas, nas quais as dissoluções dos laços afetivos e sociais são o centro da questão. Relacionamentos voláteis e fluidos remetem a uma sensação de leveza, descompromisso e liberdade. A outra face dessa suposta liberdade surge com a descoberta de que a completa individualização é um mito moderno e com a emergência de sofrimentos advindos, por um lado, das tensões e frustrações dessa descoberta, por outro, da criação de estratégias de sobrevivência próprias da modernidade líquida que perpassam por uma aparente cortesia e que redundam em sintomas como depressão, angústia, solidão, desamparo e desterritorialização. Diante disso, mostra-se pertinente analisar o uso de estratégias de cortesia a que recorrem os sujeitos, particularmente, no ambiente de trabalho e o sentimento de solidão oriundo dessas relações pessoais de polidez e do esgarçamento do tecido social, o que produz sofrimento e adoecimento, se tornando, portanto, um problema de Saúde Pública.
(Escrito em colaboração com Maria do Socorro Correia Lima, originalmente publicado em <https://epistemeonline.blogspot.com.br/2012/08/o-consumo-de-pessoas-na-modernidade.html>)
Por Rejane Guedes
Boa noite Walner.
Sua chegada à redehumanizasus é muito bem vinda.
As temáticas da liquefação das relações sociais, o afeto nas relações da contemporaneidade, dentre outros temas afins têm sido abordadas em outros posts que você pode conhecer ao navegar pela rede.
Selecionei alguns como sugestão de 'pistas' para sua rota de navegação, pois li em outro comentário teu a um post (https://redehumanizasus.net/13056-o-sus-e-a-internet#comment-13021), que você busca referências para estudo sobre o trabalho em rede e o SUS :
https://redehumanizasus.net/11906-cartografando-a-rhs
https://redehumanizasus.net/11926-o-que-significa-a-rhs-para-voce
https://redehumanizasus.net/13032-produzirnos-ponto-com
A tese da Lílian (autora dos posts acima) foi concluída recentemente e trata de questões interessantes que talvez se aproximem de sua pesquisa.
Aproveita e dá uma lida no post que traz um importante texto do Rogério da Costa sobre Inteligência coletiva: comunicação, capitalismo cognitivo e micropolítica
https://redehumanizasus.net/13069-deleite-de-leituras-texto-preparat-rio-2-encontro-dos-editores-da-rhs
Vamos conversando.
Boa semana.
Rejane Guedes – Natal/RN