Leite Materno: Alimento Sagrado, Um projeto piloto na UBS Ferreiro Torto – Macaíba

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Introdução: Este é um projeto de intervenção realizado pelos doutorandos do curso de Medicina da UFRN (Luan de Assis Almeida, Renato Fernandes Mariz e Weligton Nunes da Silva) em parceria com a SMS Macaíba, ao final do estágio supervisionado em Saúde Coletiva no município de Macaíba/RN (grande Natal), na Unidade Básica de Ferreiro Torto.

A importância do aleitamento materno tem sido abordada, principalmente sob o ponto de vista nutricional, imunológico e psicossocial; portanto, é um assunto de interesse multiprofissional. O aleitamento materno é uma das estratégias mais efetivas de vínculo, nutrição e proteção no binômio mãe-filho que podemos incentivar, além da eficácia econômica e da facilidade de acesso ao alimento. O profissional de saúde deve estar inserido no SUS atuando em nível central ou distrital, em equipe multiprofissional, para o planejamento de políticas públicas saudáveis e para o desenvolvimento de ações de vigilância à saúde da comunidade que venham promover a prática da amamentação.

O aleitamento materno tem como vantagens menor risco para o bebê de infecções, alergias, de ser obeso, de ser diabético, de cáries, além de melhor desenvolvimento.  Enquanto as mães que amamentam também gozam de muitas vantagens como: menor sangramento após o parto, aumento do vínculo afetivo com o filho, diminuição do risco de câncer de mama e de ovário, além de não ter custo. Apesar de todos os benefícios e vantagens já comprovados cientificamente e do fator custo, as taxas de aleitamento materno no Brasil, em especial o aleitamento materno exclusivo, continuam muito abaixo do recomendado, sendo de extrema importância o embasamento e compromisso do profissional de saúde quanto a essa problemática, para que o desmame precoce seja combatido com mais afinco nas Unidades Básicas de Saúde (UBS). E esse embasamento não deve ser apenas referente aos aspectos técnicos com relação à amamentação, deve ter um olhar mais amplo, levando em consideração a cultura da região e familiar, o emocional, saber escutar, valorizando a mãe como uma protagonista, para que ela se sinta realizando uma ação correta e importante quanto ao seu papel de mãe.

Vários estudos mostram que mães com passado de sucesso do aleitamento materno (preconizado) têm um índice de desmame bem inferior ao das primíparas, sendo essas um importante alvo de intervenção. Estudos também mostram que o vínculo mãe e filho, além do estímulo à amamentação no pré-natal são medidas eficientes para o aleitamento materno exclusivo.

O Brasil se comprometeu com a redução da mortalidade infantil internacionalmente, através dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio acordados com a Organização das Nações Unidas e nacionalmente, através do Pacto pela Saúde. E para atingir esse objetivo enquadram-se entre as medidas: fazer campanhas para mostrar como a vacina protege o bebê, a higiene como prevenção de algumas doenças, a nutrição adequada para o bebê e a importância do aleitamento materno.  

Segundo o Mistério da Saúde (MS), a meta é de 90% para que determinada região tenha um aleitamento materno exclusivo até os 6 meses “Muito Bom”, e entre 50 e 89% para que seja considerada como “Bom”. Além disso, MS incentiva o aleitamento materno até pelo menos 2 anos de vida. Contudo, no Brasil, segundo o MS, o aleitamento materno exclusivo até os 6 meses só ocorre em cerca de 40% dos casos, estando abaixo do preconizado.

Na realidade local temos, no município de Macaíba (RN), mais propriamente na área adscrita da UBS do Alto do Ferreiro Torto, que as crianças nascidas entre agosto de 2010 e julho de 2012 apenas 40% das mães com filhos com filhos entre 6 meses e 2 anos concluíram os 6 primeiros meses com aleitamento materno exclusivo, e entre as mães com filhos entre 0 e 6 meses apenas 42% delas estão ainda em aleitamento materno exclusivo. Todavia, 77% das mães com filhos menores que 2 anos de idade estão em aleitamento materno na área da mesma UBS. Esses dados nos ajudam a vermos que o grande problema desta área avaliada está no aleitamento materno exclusivo.

Diante de tudo dito acima, verificamos a grande importância do aleitamento materno, e que a área adscrita do Alto do Ferreiro Torto está considerada “Ruim” pelo MS em relação à cobertura do aleitamento materno exclusivo (menor que 50%). Portanto, o propósito desse projeto é aumentar essa adesão até os 6 meses de idade, principalmente, mas também a adesão do aleitamento materno não exclusivo após os 6 meses.  

Objetivos: Aumentar a amamentação exclusiva até os 6 meses; Contribuir com a redução da mortalidade infantil; Inserir o estímulo ao aleitamento materno como prioridade na UBS; Aumentar o vinculo mãe-filho, contribuindo para o desenvolvimento da criança; Aumentar o vinculo família-UBS; Estimular o apoio familiar no aleitamento materno; Ser um projeto piloto que possa, no futuro, ser implantado em toda a rede de atenção básica do município

Metodologia: 1.Capacitação dos agentes de saúde: Inicialmente, os doutorandos e a enfermeira da UBS do Alto do Ferreiro Torto, previamente embasados com as recomendações do Ministério da Saúde, vão se reunir com os agentes de saúde da mesma UBS para discutir em roda de conversa sobre o aleitamento materno, dizendo vantagens para a mãe e filho, mitos, como amamentar corretamente, entre outros tópicos descritos na cartilha. Com isso, os agentes poderão incentivar e orientar, nas visitas domiciliares, as gestantes e puérperas quanto ao aleitamento materno, assim como incentivar o pré-natal que fará com que a paciente tenha um maior vínculo com a UBS, aumentando a chance de ela amamentar corretamente. 2.Reuniões trimestrais: Ocorrerão reuniões trimestrais na UBS com mães (prioridade para as primíparas), gestantes e familiares das mães e gestantes para discutir em forma de roda de conversa, os mesmos tópicos discutidos na capacitação dos agentes; teremos a cartilha, elaborada pelos doutorandos de medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como guia para a discussão que terá a enfermeira da unidade e profissionais do Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF) para orientar o público. Além disso, cada reunião terá um dos agentes de saúde, para que este tanto ajude na orientação como continue sendo capacitado e esteja a par das atualizações recomendadas pelo Ministério da Saúde. Lembrando que a opção de roda de conversa é bastante conveniente para que o público alvo se sinta à vontade para tirar todas as dúvidas; e que ao final de cada reunião as mães terão seu cartão da gestante ou caderneta da criança carimbado com “Eu sei amamentar”, essa medida além de incentivar o público alvo, dará à UBS o controle de quem está frequentando a reunião, podendo cobrar a presença na reunião, por exemplo, durante as consultas de pré-natal ou crescimento e desenvolvimento. 3.Registro da amamentação: Para o controle dos índices de amamentação foi elaborado um livro de registro, pelos doutorandos, em que consta: nome da mãe, nome da criança, datas de nascimento de ambos, número do prontuário, datas das consultas de pré-natal e de crescimento e desenvolvimento e, por último, o registro cronológico, através dos carimbos, do aleitamento materno exclusivo ou não. Desse modo, a equipe terá um melhor controle com relação ao aleitamento materno promovido pelas mães, sendo tal livro uma importante fonte de informações para trabalhos científicos, além de ser uma forma de analisar posteriormente se a nossa intervenção atingiu as metas. O preenchimento do livro é de rápida execução, constando nome, datas e “carimbadas”, e pode ser realizado por qualquer um dos profissionais de saúde da equipe da UBS (enfermeira, médico, dentista, agentes de saúde, técnica de enfermagem ou técnica de saúde bucal), durante a consulta ou previamente, no local de espera. Um dos carimbos tem escrito “AME”, referente ao aleitamento materno exclusivo, e o outro tem “AM” referente ao aleitamento materno (não exclusivo). 4. Cartilha e Banners: Os doutorandos de medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Norte confeccionaram uma cartilha sobre pontos importantes da amamentação, a partir de informações do MS, com uma linguagem simples, para facilitar a compreensão do público alvo. Está cartilha será distribuída às gestantes no 3º trimestre gestacional, na consulta de pré-natal, pois nessa época será dada prioridade ao estimulo a amamentação durante as consultas. Também foram confeccionados 2 banners, um com informações sobre a “pega” no seio materno e outro com informações gerais sobre a amamentação. Esses banners ficaram a disposição da equipe da UBS para serem usados nas reuniões com as gestantes e nas consultas de pré-natal. 5.Consulta com especialista: A UBS já conta com o apoio do NASF com consultas de especialistas na própria unidade. Entre esses especialistas estão o pediatra e o nutricionista, que realizam atendimento uma vez por mês na unidade. Essas consultas são marcadas pelos profissionais da UBS. Foi feito uma nova organização destas marcações para que em cada um desses atendimentos dos especialistas, 2 gestantes do 3º trimestre sejam atendidas pelo pediatra e 2 gestantes do 3º trimestre sejam atendidas pelo nutricionista. O objetivo desses atendimentos com os especialistas é reforçar a importância do aleitamento materno para as gestantes.

Resultados esperados: Atingir, entre as crianças cobertas pela UBS, 50% de aleitamento materno exclusivo até os 6 meses até 2014; Aumentar, entre as crianças cobertas pela UBS, para 90% o aleitamento materno até os 2 anos, até 2014; Que todas as gestantes e seus familiares participem de pelo menos 2 reuniões de discussão sobre a importância do aleitamento materno; Que todas as gestantes compareçam a pelo menos 1 consulta com o nutricionista ou pediatra no 3º trimestre gestacional, para que recebam orientações sobre a importância do aleitamento materno.