Jornal mineiro publica matéria sobre humanização do SUS

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Leia abaixo a matéria "Novo modelo de atendimento", publicada nesta terça-feira (16) pelo jornal Estado de Minas, que aborda os 20 anos do SUS e a contribuição da Política Nacional de Humanização. Leia também a matéria "SUS do choro e raros sorrisos" no blog da consultora Ana Rita Trajano.

 

 

Novo modelo de atendimento

Ministério da Saúde aguarda aprovação de emenda para
criar mudanças no sistema, com prioridade à prevenção de
doenças


Saúde, direito de todos, dever do estado. Baseado nesse conceito, o Sistema Único de Saúde ( SUS) , criado na Constituição em 1988, inaugurou no Brasil um novo tempo. Mas pesquisa de 2003 do Ministério da Saúde, para medir a satisfação dos usuários mostrou um resultado desastroso: algumas pessoas até elogiaram o atendimento dentro do consultório, mas praticamente todos atacaram o acolhimento em instituições de saúde. No mesmo ano, integrantes do ministério se reuniram em grupos de trabalho para criar a política de humanização. "Vimos que havia dificuldade de comunicação, raiva, necessidade de soluções", resume a consultora da Política de Humanização do ministério Edna Moura.

A partir daí foram divulgadas regras aconselháveis que nem sempre são seguidas. "Sugerimos que o atendimento não seja por ordem de chegada, mas segundo a necessidade clínica do momento e, para obter informação, não é preciso entrar numa grande fila", exemplifica Edna. Pelo menos nateoria, a rede pública de saúde brasileira só pode ser comparada, nas Américas, com os modelos praticados no Canadá e Cuba. Mas, na prática, o SUS precisa ainda de ser reinventado em algumas áreas, para de fato criar acesso aos cuidados com a saúde para todos.

O orçamento do ministério para este ano é deR$ 52 bilhões,um acréscimo de R$ 2 bilhões em relação ao ano passado. No entanto,
o financiamento ainda é um problema e um desafio. "Para implantar as ações de prevenção e criarmos um novo modelo que promova saúde, em vez de apenas cuidarmos das doenças, é preciso melhorar o financiamento, e isso só vai ocorrer quando a Emenda Constitucional 29 for regulamentada", afirma o assessor especial da Secretaria Estadual de Saúde, José Maria Borges. A emenda define quanto cada esfera do poder – União, estados e municípios – deve investir em saúde.

Enquanto as decisões em Brasília não são tomadas, os brasileiros que dependem do SUS sobrevivem como podem. Respirar pode ser um ato simples e involuntário para a maioria das pessoas, menos para a aposentada Conceição Henrique Avelar, de 81 anos. Ela tem insuficiência respiratória e, depois de uma internação em junho, saiu da Santa Casa de BH com um pedido de consulta com pneumologista e proctologista. Só ontem, três meses depois, saiu a consulta com o especialista dos pulmões. A outra só será em dezembro. "Quem tem dificuldade para respirar não devia esperar tanto. Ela vive agoniada, puxando o ar. Temos que aguardar para começar o tratamento e vê-la um pouco mais aliviada", diz a filha de Conceição, Ivanilda Avelar, de 45.

Para resolver o problema de próstata aumentada, o eletricista Adão dos Santos, de 65, esperou dois longos anos para operar. Ele insistiu em seu diagnóstico no centro de saúde. "Meus exames de sangue não atestavam a doença, mas eu tinha os sintomas. Insisti para fazer um ultra-som e ser atendido pelo especialista. Acho que ninguém deveria passar por isso. As oportunidades para tratamento deveriam ser maiores, sem tanto sofrimento", desabafa.

Mas o SUS pode ser eficiente também. Em um caso considerado exceção, uma portadora do vírus HIV, de 39 anos, nunca comprou um remédio, apesar do uso diário de quatro tipos de medicamentos. Em 13 anos com o diagnóstico, ela sempre teve acesso a exames, apesar de perceber mudanças. "Antes, era só o AZT e conheço muita gente que tinha que comprar, e não era barato", explicou.