Um Pouco de Lilith em cada Mulher

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Lilith, pintura de John Collier (1850-1934)

 

A tradição hebraica consagrou Adão e Eva como os primeiros seres humanos a habitarem o mundo. Entretanto, encontramos no TALMUDE que talvez as coisas não tennham sido dessa forma. No ato da criação de Adão, Deus o teria feito macho e fêmea ao mesmo tempo. Depois,  Deus o dividiu ao meio e chamou a segunda metade de Lilith e a deu casamento a Adão.

 

Tudo poderia ter caminhado bem se Lilith não houvesse se rebelado contra a tutela de seu companheiro. E as coisas começaram a se complicar durante o sexo. Lilith não aceitava o fato de ter que ficar sempre por baixo e suportar o peso do corpo do companheiro. Afinal de contas, não teria ela também sido criada do barro como foi Adão? Se sim, ela também não teria direitos iguais, não poderia escolher e também sujeitar? Porém, Adão se recusava a aceitar os pedidos de Lilith que acaba por deixa-lo com muita raiva.

Vendo que Adão não cederia, Lilith o abandona. Pela tradição hebraica, é o momento em em que o dia se despede da noite e em meio a escuridão o mundo fica a mercê dos demônios. Desconsolado, Adão sai a procura de Lilith que, usando de seus conhecimentos de feitiçaria, voa em direção do mar vermelho, habitação dos piores demônios. E é lá que ela se torna um deles. Assim, quando as mulheres tornam-se rebeldes ao poder de seus parceiros, dizia-se que elas estavam possuídas pelo espírito de Lilith.

Para compensar a tristeza de Adão, Deus lhe faz Eva, muito mais cordata e submissa, porém de caráter frágil como bem demonstrou a serpente no Jardim do Eden. De toda forma, se a mulher é vista como responsável pela tragédia da rebelião, também será culpabilizada pelas consequências da desobediência. Para Eva, a punição das dores do parto. Para Adão, o trabalho monótono e estafante para manter o sustento de si e da prole.

 

Com Razão, as mulheres diriam que os mitos foram em grande parte criados ou então selecionados pelos homens, expressam assertivas de um mundo que quase sempre pagou tributo a dominação mascdulina e a toda a problemática do poder exercido sobre e/ou contra a mulher. Para tal empreitada, as mulheres foram questionadas, culpabilziadas e até queimadas vivas. Ainda hoje estão sendo apedrejadas por prática de adultério  e até mutiladas em sua genitália em alguns países da África.

 

No dia 8 de março, lembremos mais uma vez, É o dia internacional da Mulher. Essa data, diz a tradição, é escolhida como um marco do protagonismo feminino durante a revolução industrial, exigindo melhores condições de trabalho, portanto, expressando a bela e sedutora Lilith a se rebelar e exgir a sua condição de criatura do barro e do lodo.

 

Queria deixar uma mensagem de quem adora as tantas Liliths que vivem pelo mundo afora. Diria mesmo que em cada mulher ela habita, em alguns momentos mais contida…até encarcerada, outras tantas tentando reassumir seu destino de ser também barro,  diferente na forma mas igual em direitos e deveres.

 

Existe muito da condição feminina quando estamos falando em implementar práticas humanizadas na saúde. A que mais salta aos olhos é a percepção de que as profissões de saúde são hegemonicamente compostas por mulheres e, assim, sofrem os muitos dramas e até tragédias determinadas pelas questões de gênero.

 

Superar as contradições que levam a processos de trabalho e prátifcas de gestão consideradas desumanas significa, entre tantas necessidades, lutar pela construção de relações igualitárias entre homens e mulheres. Quando esse dia chegar, não precisaremos mais de um Dia Internacional da Mulher e, tenham certeza, também não precisaremos de uma Política Nacional de Humanização.

 

Assim, só me resta desejar no dia Internacional da Mulher que num futuro breve não precisemos mais de um dia Internacional da Mulher porque todos os dias serão dias de todos, construindo relações solidárias e celebrando as boas diferenças.

 

ERASMO RUIZ