Sobre os CAPS de Curitiba- por Marcelo Kimati.

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Shirley Monteiro 15/01/2013

Caros,

Escrevo para esclarecer sobre o "fechamento" de dois Caps em Curitiba, que a mídia noticiou nesta semana.

Assumimos na última semana e encontramos uma rede na qual temos uma gestão parcial, na qual dois serviços são totalmente privados e os demais funcionam com co-gestão de OSs. No caso dos serviços privados, eles prestavam serviços à prefeitura desde o período de financiamento via APACs e não haviam sido descredenciados, no sentido de não criar desassistência, pelo que nos foi informado.

Sabíamos que esta era uma questão que teríamos de enfrentar, entretanto não antes dos primeiros meses de governo.

Na segunda-feira um dos CAPS anunciou interrupção dos trabalhos, mobilizando a mídia e apontando a SMS como responsável, uma vez que o governo anterior tramitava um contrato de renovação que anunciamos que seria revisto.

Criamos um grupo de trabalho que no mesmo dia foi ao serviço iniciar avaliação dos usuários e providenciar encaminhamento a serviços públicos. Concomitante a isso, fizemos uma denúncia aos Conselhos Regionais de Medicina, e de Psicologia, e criamos uma portaria que instituía uma Comissão de avaliação da rede e do modelo de atenção, adotado pelo município nos últimos anos.

Ao final da semana, o serviço voltou a ativa e instituímos uma co-gestão e um grupo de intervenção nos dois Caps, que passa a atuar formalmente na segunda-feira.

Nos próximos 30 dias teremos uma avaliação da rede, mas já iniciamos os trâmites para a implantação de dois serviços públicos que substituam estes privados, em 45 dias. A devolutiva da avaliação será totalmente pública e queremos a presença de todos aqueles que defendem a reforma psiquiátrica e um SUS público e universal.

Abraços a todos,

Marcelo Kimati.

Diretor de Assistência à Saúde – SMS Curitiba.

(enviado em 14/01/13).

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6 Comentários

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Por Maria Luiza Carrilho Sardenberg

Oi Marcelo,

Muito oportuna essa discussão sobre o fechamento de caps em vários locais simultaneamente.

Publiquei um post sobre isso aqui em nossa rede:

https://redehumanizasus.net/59327-saude-mental-em-sao-paulo-ameacada-de-perder-mais-um-servico-importante

Seria importante buscar deixar mais claro o que provocou este fechamento e reabertura em Curitiba. É o modelo caps de tratamento que está em jogo? Quais foram os motivos para se pensar em medida tão radical? Enfim, o que se passa, quais são as modulações pelas quais o trabalho em saúde mental está passando hoje?

Adorei ver a foto pois sou curitibana e pude matar as saudades desta terra tão bela. Por acaso é o acesso à pedreira Paulo Leminski?

 

Iza Sardenberg

Por marcelo kimati

oi Gustavo, oi Iza

eu lembro que em Amparo discutíamos como as ações de sm no psf de lá tinham uma potência gigantesca para transformar a percepção da população de um município de 65 mil pessoas e dois hps acerca da loucura. E como o CAPS terminava sendo, na ocasião, uma extensão da centralidade psiquiátrica do cuidado em sm. Concordo com o Pena, temos de sair de um período de centralidade excessiva dos CAPS para entendermos o cuidado em sm como uma atribuição da rede. Caso contrário, corremos o risco de criarmos mais e mais equipamentos para enfrentarmos a questão de ad e perpetuarmos o isolamento histórico da saúde mental.

Em Curitiba, a organização do cuidado passará por esta lógica não só com a saúde mental, mas com todas as redes. O povo da humanização nos apoiará na criação de um modelo de gestão que priorize uma concepção de cuidado transversal a todos os níveis de complexidade, centrado na prática de apoio. Assim, matriciamento, apoio institucional e uma prática de nasf que articule a rede serão prioritários. Pretendemos estruturar a própria secretaria nesta lógica, com a criação de um departamento de redes assistenciais, que tenha papel articulador e incorpore a regulação do acesso.

quanto aos CAPS, Iza, posso dizer que sou sim contra parte do modelo adotado aqui. O modelo de serviço privado, que tem finalidade exclusivamente empresarial, que mantém usuários por anos sem projeto terapêutico, que não promove autonomia, que não se articula com rede, não atende crise. Este modelo de serviço, que ainda por cima financiamos, deve ser substituído, tenha nome de hospital, hospital dia, caps, manicômio, ou qualquer outra rubrica.

abraços a todos

Marcelo Kimati

    Por Maria Luiza Carrilho Sardenberg

    Oi Marcelo,

    Teu comentário é uma alegria por trazer muitas coisas como: uma reafirmação da horizontalidade entre as diferentes categorias que lidam com a saúde mental e pela afirmação da presença dos usuários como protagonistas da construção do projeto terapêutico singular.

    Aproveito para convidá-lo a compor o Fórum sobre a Medicalização da Educação e da Sociedade, se já não estiver engajado nesta frente contra a medicalização da vida.

    Iza

    Por Maria Luiza Carrilho Sardenberg

    pela articulação potente que essa lógica de redes interligadas fará pela saúde em Curitiba. E penso como vc que a questão não se restringe ao desaparecimento do modelo caps, lógica que emergiu da luta contra o modelo ambulatorial dos anos 80,  que, em última instância, desembocava em internações hospitalares por manter um modo médico-cêntrico nas práticas.

    Qualquer modelo pode sucumbir se não atentarmos para o novo diagrama de poder que Foucault e Deleuze tão bem descreveram como produção de subjetividade. Muito mais sutil, positivante e eficaz porque não encarcera ninguém. Age insidiosamente na fonte mesma do viver. E isso pode se dar numa dimensão de atenção primária, PSF, NASF ou qualquer outro espaço de produção de saúde.

    Iza

    Por Shirley Monteiro

     Querido Marcelo,

     Estamos em Natal sentindo a sua falta, em várias e várias frentes de trabalho, e voce sabe disso !!

     Mas é muito bom que voce esteja compartilhando esses novos desafios, e a nova construção que se inicia aí em Curitiba, voce é literalmente um "reformador" aonde chega, e sempre agenciando a gestão de trabalhos mais potentes. 

     Meu trabalho de atenção psicossocial no mestrado em João Pessoa, com apoio das redes locais comunitárias junto à Unidade Saúde da Família também se fez de forma um tanto distanciada do modelo Caps, contando muito mais com a integração da equipe do PSF e acadêmicos apoiadores das relações ensino-serviço. Legal era a co-laboração dos atores da comunidade, o dono da mercearia , do chaveiro, todos em prol do 'Grupo de Acolhimento ao Imaginário em Saúde"- GraimSa.

     Vamos continuar estas conversas e compartilhamentos por aqui também, é só chamar precisando de uma força para postar !

     bjos,

     Shirley 

Por gustavonunesoliveira

Caríssimo companheiro Kimati!

minhas felicitações e todo o nosso apoio nessa nova empreitada na SMS Curitiba! Grande desafio e grande responsabilidade desse novo grupo de dirigentes tão potente e defensor do SUS.

É claro que os começos de gestão geralmente são cheios de conflitos e problemas desse tipo… Pelo que vejo muito bem encaminhado. Mas fiquei foi curioso para saber como vc vê a questão do papel do caps como equipamento na rede de atenção psicossocial. Alguns autores, como Ricardo Pena, que acabou de defender tese de doutorado na Unicamp e problematiza essa questão no seu trabalho, e eu concordo, percebem uma forte centralidade desse equipamento na rede de atenção psicossocial. Parece-me que essa centralidade tem relação inclusive com a histórica dificuldade de articulação entre serviços de saúde mental e a atenção basica. Como vc vê essa questão? E vc que já fez matriciamento na AB, quando trabalhávamos em Amparo, SP, como pretende cuidar, aí em Curitiba, dessa articulação entre AB e CAPS?

abraços,

Gustavo