RHS – Rebento da Vida.

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Mais uma vez me sinto forçado a fazer de um comentário um post, mas como não fazê-lo se vou falar de "um dispositivo para abrir dispositivos"? Ao post de Ricardo Teixeira: RHS, 5 anos afirmando a vida, respondo com esta reflexão homenagem que, penso, não pode ser apenas um comentário, embora o seja, mas o ultrapassa em afeto…

"…tem uma dimensão de abertura da PNH que obriga que ela vá para além dos dispositivos que inventamos…". (Eduardo Passos)

Ricardo que preciosidade! Quanta emoção ver e ouvir no nascimento da RHS aquilo que é sua alma e que não para de crescer para todos os lados, constituindo um corpo coletivo impessoal que faz com que não possamos mais dizer aonde está a PNH e quem são seus integrantes, porque a RHS expressa verdadeiramente o movimento PNHaguista de uma forma amorfa, que tem como único desenho um fluir de forças que estende seus limites em todas as direções.

Não me canso de repetir da potência dessa máquina expressiva, de dar voz e fazer dialogar experiências e afetos que de outra forma estariam solitários e entristecidos no seu lamuriar de ecos que só repetem.

Pois a RHS faz do eco ressonância que, de tanto se repetir, faz tudo diferir. Dialoga o Brasil de cabo a rabo, faz ecoar um dialeto tupiniquim, numa polifonia de tons, de acentos, de afetos e de políticas cognitivas que, sempre aberta, cria uma língua dentro da língua, dando expressão a um SUS atento e preocupado que não é letra de uma lei, mas vívido de uma experiência que sofre, se angustia, se ressente, mas também sente, sorri e reinventa um lugar sempre fugidio para este sem lugar que é a luta pelo SUS. Que melhor expressão para uma política pública?

Um público SUSista que se assusta, se encanta, se emociona e transborda nas páginas sem fim de um sem lugar no qual todos os encontros se abrem para o possível.

As dores do parto devem mesmo ter sido fortíssimas, pois, pela fala do Edu, tenho a impressão que foi das entranhas daquele coletivo que a RHS nasceu. Nasceu grande, nasceu forte, nasceu ávida de se disposicionar para uma disposição de não se fechar. Nasceu disposicionando os dispositivos, tornando-os incertos e indefiníveis, posto que vivos, e se fez uma ferramenta dispositiva, uma ferramenta de transformação das ferramentas. Catacrese.

Um grande HUUUUUUU para esta infante anciã, porque aparentemente nova, certamente ela veio sendo gestada desde o início por uma máquina desejante que gritava dentro daqueles que queriam um SUS em movimento e, embora nascida, não para de ser gestada por aqueles que, como numa volta a origem, sem nostalgia, estando no movimento, se recusam ao calvário do tédio e da resignação.

Parabéns a todos os corpos que compõem e põem em funcionamento esta máquina belíssima que vive e deixa viver.

A beleza de uma genialidade não está no momento em que surge, mas em cada pequeno invento infame que, se agenciando, faz com que um dia ela possa emergir como efetuação de um possível e que a cada dia ela se possibilite como um possível dentro de um possível já efetuado.

Como vejo, a RHS esteve sempre parida e nunca se pariu, pois ela é um caminho sempre já caminhado e ainda por caminhar, um feto na escuridão do útero que o força a se abrir. Aliás, mais que o feto, ela é este forçar, este forçamento, este encantamento, este rebento da vida.

Miguel Maia