Cães e Gatos No Albert Einstein
Muito interessante notícia publicada hoje na "Folha de São Paulo" sobre a visita de animais a seus donos no Hospital Albert Einstein!
Alguns paradigmas em saúde precisam ser quebrados. Estabelecem regras com base em situações e conhecimentos que perderam o sentido de sua abrangência original. Por exemplo. A ideia de assepsia levada às últimas consequências precisa ceder espaço para a construção de projetos terapêuticos singulares e as necessidades emocionais e afetivas de pacientes e trabalhadores.
Por que um hospital não pode receber os animais de estimação dos usuários? E indo mais adiante, por que um hospital não pode reproduzir no seu interior outras instâncias da vida cotidiana como teatro, cinema, comércio, espiritualidade, festividades?
Infelizmente grande parte da rede hospitalar ainda possui ambiência com marcas do deslumbramento pelas relações causais entre germes e doenças feitas por Luis Pasteur no fim do sec. XIX, uma ditadura do branco, um controle rígido que muitas vezes cerceia a liberdade dos contatos e transforma a internação hospitalar em um cárcere.
Ampliar os horários de visita na direção da visita plenamente aberta muitas vezes esbarra na cristalização das rotinas, na burocracia impessoal, em regras que afirmam necessidades de manutenção de poder corporativo de controle que se traduz em discursos paternalistas de proteção, segurança e promoção da saúde.
Quando cães, gatos e pássaros podem entrar no hospital ficamos maravilhados diante das várias possibilidades que se descortinam. Ao mesmo tempo, isso acirra a percepção das iniquidades e desigualdades.
Enquanto que em determinados espaços pacientes podem afagar seus cães, em outros pessoas morrem sozinhas porque cometeram a "deselegância" de partirem fora do horário de visitas. Enquanto em poucos lugares pacientes podem brincar com seus gatos, em outros agonizantes ficam reclusos em UTIs, afastados de seus entes queridos para viverem mais algumas horas em dor e sofrimento extremo.
Que os cães e gatos do Albert Einstein nos inspirem a radicalizar os processos de ampliação dos horários de visitas, pela busca de ambiências cada vez mais porosas com a vida cotidiana. Que lugares de produção de saúde se pareçam cada vez menos com presídios!
Veja notícia na Folha de São Paulo
Por Marco Pires
Como é muito difícil aceitar que somos muito próximos de nossos parceiros de existência poderíamos encontrar uma maneira mais divertida e amigável de reconhecer esta semelhança: Deduzindo as poucas coisas em que somos realmente diferentes dos demais animais. Uma dessas diferenças parece ser, curiosamente, o fato de que precisamos mais dos animais do que eles de nós.
Quanto mais encontramos soluções para os dilemas materiais da vida, mais escolhemos a amizade de animais para lidar com as questões fundamentais como o envelhecimento, a doença e a solidão entre multidões de humanos que se esbarram sem se tocar.
Tem sido interessante os olhares diferentes, mas não divergentes, que lançamos sobre a vida, a morte e a saúde num contexto de diversidade cultural tão intenso.
Teu post sobre a páscoa me levou de volta a infância comum e diferente que tivemos.
Um abraço Erasmo.