Olá pessoal, sou Thatiane, residente do Programa de Residência Multiprofissional Integrada da UFSM e juntamente com meus colegas estou pesquisando o tema deste post: Humanização.
Um tema bastante comum, que até parece estar na moda. Frequentemente ouvimos em palestras, artigos, nas falas de profissionais, etc.
Realmente literatura sobre ele não falta, portanto pensamos em fazer algo diferente.
Ao invés de apenas consultar o que a literatura trás, resolvemos questionar os trabalhadores, estudantes, enfim todos que estão interligados pelo tema em vários lugares do Brasil.
E qual lugar melhor do que esta rede para isto?
Assim gostaríamos de saber a opinião de vocês, lembrando que não há resposta certa ou errada, queremos saber o que vem a cabeça quando pensam na palavra humanização?
Então:
O QUE É HUMANIZAÇÃO PARA VOCÊ?
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humanização5 Comentários
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Por Rejane Guedes
Thatiane,
Veja o que dizem dois dos grandes Mestres dos primórdios do Humanizasus, Eduardo Passos e Regina Benevides em 2005:
https://www.scielo.br/pdf/icse/v9n17/v9n17a14
Lembrando que o Edu Passos continua acompanhando os movimentos em nossa RHS e de vez em quando aparece por aqui como um 'anjo guardião' de muitas conversas.
DESAFIO CONCEITUAL:
"Não podemos retomar o conceito de humanização sem considerar o cenário no qual ele vem ganhando destaque crescente em Programas no campo da saúde pública. Tal concentração temática indica o que poderíamos chamar de um modismo que, enquanto tal, padroniza as ações e repete modos de funcionar de forma sintomática. Neste sentido,é possível afirmar que a humanização ganha, no início dos anos 2000, um aspecto de conceito-sintoma.
Estamos chamando de conceito-sintoma a noção que paralisa e reproduz um sentido já dado. É como tal que o tema da humanização se reproduziu em seus sentidos mais estabilizados ou instituídos, perdendo, assim, o movimento pela mudança das práticas de saúde do qual esta noção adveio, movimento que se confunde com o próprio processo de criação do SUS nos anos 1970 e 1980.
[…].
Dos anos 1960 aos 1980, podemos, então, acompanhar o movimento instituinte pela mudança das práticas de saúde. Este movimento chega aos anos 2000 encontrando ou se chocando com o que, paradoxalmente, dele resulta: formas instituídas, marcas ou imagens vazias, slogans já sem a força do movimento instituinte. É assim que a humanização se apresenta como um conceito-sintoma presente em práticas de atenção: a) segmentadas por áreas (saúde da mulher, saúde da criança, saúde do idoso) e por níveis de atenção (assistência hospitalar); b) identificadas ao exercício de certas profissões (assistente social, psicólogo) e a características de gênero (mulher); c) orientadas por exigências de mercado que devem “focar o cliente” e “garantir qualidade total nos serviços”.
Apontar este caráter sintomático do conceito de humanização impõe que, ao mesmo tempo, identifiquemos o que aí se paralisa, mas também aquilo que insiste como índice de um movimento que não se esgota, sua face positiva. Colocar em análise o conceito-sintoma é permitir a retomada de um processo pelo qual se faz a crítica ao que se instituiu nas práticas de saúde como o “bom humano”, figura ideal que regularia as experiências concretas.
[…]
A necessidade de recolocação do problema da humanização obriga-nos, então, a forçar os limites do conceito resistindo a seu sentido instituído. Contra uma idealização do humano, o desafio posto é o de redefinir o conceito de humanização a partir de um “reencantamento do concreto” (Varela, 2003) ou do “SUS que dá certo”. Esta crítica ao Homem como figura-ideal desencarnada e ao seu sobrevôo regulatório, longe de abandonar todo e qualquer princípio de orientação, coloca em questão as práticas normalizadoras apostando, em contraste, na “normatividade” do vivo como capacidade menos de seguir do que de criar normas (Canguilhem, 1978). É neste sentido que a humanização não pode ser pensada a partir de uma concepção estatística ou de distribuição da população em torno de um ponto de concentração normal (moda). O que queremos defender é que o humano não pode ser buscado ali onde se define a maior incidência dos casos ou onde a curva normal atinge sua cúspide: o homem normal ou o homem-figura-ideal, metro-padrão que não coincide com nenhuma existência concreta."
O texto é finalizado com:
"Se partimos da crítica ao conceito-sintoma, concluímos afirmando a humanização como um conceito-experiência que, ao mesmo tempo, descreve, intervem e produz a realidade nos convocando para mantermos vivo o movimento a partir do qual o SUS se consolida como política pública, política de todos, política para qualquer um, política comum."
Interface – Comunic, Saúde, Educ, v.9, n.17, p.389-406, mar/ago 2005
Por Ana Rita Trajano
Muito bom querida Rejane encontrá-la por aqui, trazendo este texto importante de Edu e Regina ( ou mais formalmente : Passos e Benevides), bjos, Ana Rita
Por Ana Rita Trajano
Thatiane, salve! Bom encontrá-la por aqui, propondo-nos este "exercício de pausa para pensarmos sobre os muitos sentidos que este termo Humanização evoca" , como disse 'nossa' querida editora Rejane.
Veja, realizamos ( Ana Maria, apoiadora da PNH-MG / coordenadora Humanização/Hemominas; e eu, consultora do MS/PNH) uma Oficina em Seminário "Para Elas – por elas, por eles, por nós", realizado em BH , do período de 21 a 22 de fevereiro/2013, cujo tema central foi "Atendimento Integral às Mulheres em situação de violências".
Fazemos parte, como apoiadoras da PNH/SUS, deste Coletivo que se articula a partir do MS/ Saúde da Mulher e da Criança/ DAPES e do Núcleo de Promoção da Saúde e Paz da Faculdade de Medicina da UFMG e procuramos contribuir em processos de formação de gestor@s e trabalhador@s, por meio de encontros/oficinas/cursos sobre a temática da Humanização do SUS em sua relação com a prevenção de violências e Promoção de Saúde e Paz.
Como estratégia pedagógica inicial desta Oficina, propomos que as pessoas presentes (gestores, trabalhadores, acadêmicos, militantes, dentre outros) fizessem este exercício de responder à pergunta: "o que é Humanização?" e escrevessem em 'tarjetas de cartolina' , e depois montamos o painel com todas as tarjetas,e, a partir daí, abrimos a conversa sobre os diferentes e comuns sentidos da Humanização para os presentes. Fiz algumas fotos, vou mostrá-las em um post que farei especialmente para continuar esta conversa com você.
Então, para mim, Humanização é uma política do SUS, transversal e instituinte, que procura favorecer processos de inclusão dos sujeitos, coletivos e conflitos, estes últimos tomados como analisadores sociais, estruturada a partir dos princípios: (1) indissociabilidade entre Atenção e Gestão do Processo de Trabalho, entre Clínica e Política, entre Produção de Saúde e Produção de Sujeitos; (2) Transversalidade – aumento do grau de comunicação intra e intergrupos, produzindo como efeito a "desestabilização das fronteiras dos saberes, dos territórios de poder e dos modos instituídos na constituição das relações de trabalho"; (3) Autonomia, Protagonismo e Corresponsabilidade dos Sujeitos e Coletivos. ( veja "Documento-Base para Gestores e Trabalhadores do SUS", que poderá ser acessado aqui na RHS mesmo ou no site do MS:
<www.saude.gov.br/humanizasus>
Então, continuaremos a conversa, veja e comente o post que vou publicar, especialmente, para vocês, e agradeço por nos incitarem a publicar nossas produções.
Grande abraço,
Ana Rita Trajano
Consultora do MS/PNH – Coletivo Regional Sudeste III-MG
Por Cláudia Matthes
https://redehumanizasus.net/2368-humanizacao-para-mime-isso
Para mim é " reencantamento do concreto " (Gastão Campos)
Grande beijo no coração,
Cláudia Peju
Por Rejane Guedes
Bom dia Thatiane.
Parabéns pela escolha da temática estudada.
Sua pergunta é um bom exercício de PAUSA para pensarmos sobre os muitos sentidos que o termo HUMANIZAÇÂO evoca.
Objetivamente meu ponto de vista diz que : Humanização é Experimentação de Vida em Ato.
Delongando mais a resposta, diria que a expressão experimentação remete o termo Humanização para o plano relacional, para a ordem do incerto, com todos os riscos de algo que possa afetar e ser afetado;
Uso o termo Vida em ato, lembrando que a morte também faz parte dessa Vida.
Quando ouvi pela primeira vez o termo 'Humanização' fiz a tradicional pergunta: -Humanizar O QUÊ ? E por acaso não somos Humanos?
Percebi, com o tempo, que essa Humanização está mais para uma AFIRMAÇÃO POLÍTICA. Uma Política que afirma a Vida em muitas dimensões. Dentre essas dimensões está o cuidado, o afeto, a escuta, o jogo de forças, a defesa das causas em favor dessa vida e muito mais.
Aqui na redehumanizasus já foram compartilhados diversos exemplos e histórias deste sentido ao qual me refiro.
Rejane Guedes-Nutricionista-Natal/RN
Sugestão: Quando o trabalho estiver concluído, que tal compartilhar conosco em forma de post na RHS?