Redução da maioridade penal.
A grande farsa da proposta de redução da maioridade penal é a de tentar encobrir o fato de que tudo tem consequências. Oferecer retribuição a um delito juvenil é uma forma de se convencer de que ser filho de um pai ausente, de uma mãe doente e ter morrido socialmente antes de ser assassinado, pode ser um fato menor. Um nada que não tem conseqüência na existência de ninguém.
É uma grande arrogância humana pensar que nós é que temos que prover a retribuição, quando o mundo nos dá mostra de que tudo tem limites. Que somos um acorde menor em uma sinfonia maior, mais extensa anterior e posterior a nós. Temos um curta margem de manobra e ela não é a liberdade para vigiar e punir. É a oportunidade de amar em meio a dificuldades, divergências e obstáculos que as vezes são tragicamente incontornáveis.
É iludir-se de que diante de um crime de alguém vilipendiado pelo destino, seria necessário impor uma punição.
Isso, certamente, devolve o sono aos bem criados e bem pensantes, na ilusão de que a desgraça só se abate sobre os maus e pecadores. Mas a questão de Jó segue posta.
O mal da moral é esconder que a miséria pode se abater sobre qualquer um. Mas mais provavelmente a uns do que a outros… E é justamente, aos que é mais provável que a desgraça se abata que se quer impor a pena.
Porque não propor cadeia ao pai ausente, ao Conselheiro Tutelar omisso, a mãe hipócrita, (sim, há mães que são surdas a angústia de seus filhos) ao moralista alçado a juiz do bem e do mal?
Ao menos saberíamos que não faz diferença. Seres humanos usam o que sabem para trucidar-se desde que ergueram a primeira pedra do chão. Não são piores nem melhores do que animais, a não ser quando se julgam escolhidos por deus. Aí são abominações que fariam mais bem a vida se deixassem de existir.
Iludam-se irmãos de miséria que querem sacrificar os doentes e os que foram adoecidos! Iludam-se até que a lamina afiada de seu deus destino volte-se sobre vós e sobre os seus.
No fim, todos nos encontraremos no eterno silêncio que redime os pecadores e seus juízes implacáveis.
Por Marco Pires
Pelo menos os criminosos sairiam das ruas, e nossos filhos estariam protegidos, escreve um amigo no Facebook.
Mas mesmo assim a desgraça ronda nossa vida. Se não é um bandido pode ser uma doença. Pode ser uma tragédia climática.
Mas o certo é que pelo menos metade de todo o mal que pode nos ocorrer é efeito de como lidamos com o fato de sermos 7 bilhões sobre a terra. Confiamos na providência, na culpa alheia e seguimos em frente como se nada mais nos dissesse respeito.
O mal sempre é pago com mal. O bem, ocasionalmente e, dependendo muito de nossos expedientes mais honestos, retorna como bem. Mas nunca é garantido.
A sociedade menos encarcerada do mundo é a japonesa. Lá a criminalidade também é muito menor. Mas a desgraça é dividida de forma tão igual quanto a riqueza.
A mais armada, a que tem mais criminalidade é a norte americana. Lá alguns Estados executam criminosos americanos e eles podem matar quem quiserem no resto do mundo. Usaram a bomba atômica duas vezes e estão na iminência de ter que usar de novo.
Estão sendo arrastados para o fosso de fundamentalismo e violência que cavaram.