Um vestido branco na UTI para K.R
K.R, uma criança de 11 anos de idade, filha de família com baixo poder aquisitivo, de uma cidade do interior do estado do Piauí. Uma menina “estudiosa”, como identifica sua mãe, que apesar de residir na zona rural, cursa o 4º ano do ensino fundamental.
No dia 04 de março do ano em curso, chegou na companhia da sua mãe para tratamento no HILP, com queixa de desmaios, dificuldade de deambulação e desnutrição grave. Na mesma semana da internação foi diagnosticado tumor cerebral de natureza maligna, e sem possibilidades de cura. A partir de então foi submetida a um tratamento clínico para melhoria do seu estado geral, na perspectiva da realização do tratamento especializado. Entretanto, a sua clínica agravou-se cada vez mais, ao ponto de ser transferida para a UTI, encontrando-se atualmente entubada.
Na manhã de ontem (08), Francilene ( sua genitora), apesar do grande sofrimento em que se encontra, compareceu ao Serviço social para fazer uma solicitação. Aliás, a segunda, pois na sexta-feira (03), solicitou o batismo da paciente. Católica, e consciente da gravidade do Estado de saúde da filha, informou que não era batizada, e temia que ela falecesse “pagã”. O batismo foi providenciado na UTI com a presença de um padre da comunidade. O segundo pedido foi um vestido branco de “broderi”. Era um desejo seu que a filha partisse com um vestido branco, rendado, bonita como um “anjo”. Entretanto, informou que não tinha condições financeiras para a compra. Uma nutricionista do hospital, ao ser informada do pedido da Francilene, se ofereceu para doar os tecidos para a confecção do vestido. A equipe de costureiras do hospital, por sua vez, se disponibilizou pra confeccioná-lo. E assim o vestido foi construído numa cooperação solidária. Ao recebê-lo, a mãe ficou surpresa com a beleza do vestido. "Foi o vestido mais lindo que a Katielle ganhou”, repetia em choro. Passada a emoção, guardou o vestido numa cadeira próxima do leito da filha. Este episódio deixou todos os profissionais da UTI comovidos.
Sabe-se que a dor da possível perda da filha é imensurável, e que nada vai amenizá-la. Porém, a mãe/acompanhante está sendo acolhida na sua dor, nas suas necessidades, no sentido de propiciar à filha uma morte digna, humana.
Por Cláudia Matthes
nesse patchwork que a vida vai compondo, a capacidade dos trabalhadores de saúde romperem com o instituido e irem nesse e puxa e vai, proporcionando aquilo em que a técnica já não mais colabora, compondo em dar o que ainda lhes é possível, se não é possível a cura da doença o cuidado em ajeitar-se no meio da história da vida compor.
Eu particularmente penso que trabalhar a questão técnica é sempre mais simples, estar implicado/dentro faz cicatrizes na alma, por não importar para onde vai o sujeito ele (re) estará prá sempre em nossa história.
Um bjo Emilia,
obrigada por me (re)fazer pensar nisso,
Francilline, sua filha nós dá o que pensar, nos dá pesar, mas nos faz acreditar que humanizar é possivel, um beijo na alma
Peju