Drogas psiquiátricas: Um assalto à Condição Humana

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Bob Whitaker é o autor do livro: Mad in America: Bad Science, Bad Medicine, and the Enduring Mistreatment of the Mentally Ill (Loucura na América: Ciência ruim, Medicina ruim, e os contínuos maus tratos ao doente mental).

 

 

Entrevista do The Street Spirit com Robert Whitaker

Entrevistado por Terry Messman

Tradução: José C B Peixoto

 

 

O repórter investigativo Robert Whitaker, autor do impressionante livro MAD IN AMERICA, atualmente está engajado em uma fascinante linha de pesquisa: de que forma a gigantesca indústria de remédios psiquiátricos está colocando em risco a população americana ao encobrir os casos não relatados de sofrimento, angústia e enfermidade originados pelos medicamentos antidepressivos, amplamente prescritos, e os anti-psicóticos.

Whitaker expõe as massivas mentiras e encobrimentos que corromperam os processos de revisão de drogas que são realizados pelo FDA nos Estados Unidos, mostrando como são co-optados os testes de pesquisas com a finalidade de distorcer os resultados desses testes com esses medicamentos. Dessa forma escondem os sérios perigos, mesmo os efeitos colaterais mortais, de produtos com nomes conhecidos como Prozac®, Zoloft®, Aropax® e Zyprexa®.

A história se torna até mais assustadora quando nós olhamos para as táticas agressivas que estas poderosas companhias costumavam silenciar seus críticos proeminentes, difamando-os na imprensa, e usando seu dinheiro e poder para dispensar cientistas amplamente respeitados e eminentes pesquisadores médicos se ousarem assinalar os perigos e os riscos de suicídio e morte prematura causados por tais drogas.

Whitaker começa desconstruindo a exagerada eficiência dessas drogas  amplamente divulgadas como medicamentos maravilhosos – antidepressivos como Prozac®, Zoloft® e Aropax®, e as novas drogas anti-psicóticas atípicas como o Zyprexa®. Sua pesquisa mostra como eles de um modo geral são escassamente mais efetivos do que placebos no tratamento de desordens mentais e depressão, apesar da ampla adulação que eles recebem na mídia popular.

Porém ele prossegue fazendo mais declarações surpreendentes: estas novas drogas psiquiátricas contribuem diretamente para uma alarmante nova epidemia de doenças mentais induzidas por drogas. Medicamentos popularmente prescritos pelos médicos para estabilizar desordens mentais de fato estão induzindo mudanças patológicas na química cerebral e levando ao suicídio, a episódios maníacos e psicóticos, convulsões, violência, diabetes, falência pancreática, doenças metabólicas, e morte prematura.

Whitaker originalmente era repórter médico de grande reputação do Albany Times Union e também atuava para Boston Globe. Uma série que ele co-escreveu para o Boston Globe sobre os perigos da pesquisa em psiquiatria lhe deixou finalista ao Prêmio Pulitzer em 1998. Quando ele começou a sua pesquisa investigativa em temas psiquiátricos, Whitaker ainda era um partidário da história sobre o progresso que a psiquiatria vinha informando ao público nas últimas décadas.

Ele disse, "eu absolutamente acreditava no senso comum de que estas drogas anti-psicóticas realmente melhoraram as coisas e que elas revolucionaram totalmente a forma como nós tratamos a esquizofrenia. As pessoas costumavam ser presas, afastados de suas casas para sempre, e agora talvez as coisas não sejam as ideais, mas seriam muito melhores. Era uma história de progresso."

Tal história de progresso era fraudulenta, como Whitaker logo descobriu quando ele adquiriu novos insights a partir de suas pesquisas de práticas psiquiátricas de tortura como eletro-choque, lobotomia, coma por insulina, e drogas neurolépticas. Os psiquiatras informaram ao público que essas técnicas curavam psicose ao equilibrar a química do cérebro.

Mas, na realidade, a linha comum em todos estes diversos tratamentos foi a tentativa de suprimir a "doença mental" ao prejudicar deliberadamente as funções mais elevadas do cérebro. A atordoante verdade é essa, atrás de portas fechadas, o próprio stablishment psiquiátrico etiquetou estes tratamentos como "terapêutica prejudicial ao cérebro."

A primeira geração de drogas anti-psicóticas criaram uma patologia droga-induzida no cérebro ao bloquear um neurotransmissor, a dopamina, em essência obstruindo muitas funções cerebrais elevadas. De fato, quando os anti-psicóticos como a clorpromazina e o haloperidol foram inicialmente introduzidos, os próprios psiquiatras disseram que estas drogas neurolépticas eram virtualmente indistinguíveis de uma lobotomia química.

Em anos recentes, a mídia tem alardeado a chegada de medicamentos de design especial como Prozac®, Aropax® e Zyprexa®, que deverão ser superiores e ter menos efeitos colaterais que os antigos antidepressivos tricíclicos e os primeiros anti-psicóticos. Os milhões de americanos que acreditaram nesta história têm enriquecido companhias farmacêuticas como a Eli Lilly ao gastar bilhões de dólares anualmente comprando estes novos medicamentos.

A pesquisa do Whitaker nos casos trágicos de doença, sofrimento e as primeiras mortes causadas por tais drogas mostram que esses milhões de consumidores foram enganados por uma gigantesca campanha de mentiras, distorções, e pesquisas de remédios forjadas. Eminentes pesquisadores médicos que tentaram nos advertir dos perigos destas drogas foram silenciados, intimidados e difamados. Nesse processo, o FDA se tornou um cão de estimação para a poderosa indústria farmacêutica, e não um cão de guarda para a população.

Tha street spirit entrevistou Robert Whitaker sobre esta nova "epidemia" de desordens mentais, e como as companhias farmacêuticas lucraram ao venderem drogas que nos tornam mais enfermos.

A entrevista:

Street Spirit: Sua nova linha de pesquisa indica que existe um enorme aumento na incidência de doença mental nos Estados Unidos, apesar dos aparentes avanços na nova geração das drogas psiquiátricas. Por que você se refere a este aumento como uma epidemia?

Robert Whitaker: Até mesmo pessoas como o psiquiatra E. Fuller Torrey, que escreveu isso recentemente em um livro, podem dizer que parece que nós estamos tendo uma epidemia de doença mental. Quando o Instituto Nacional de Saúde Mental publica seus gráficos sobre a incidência de doença mental, você vê estes crescentes números de pessoas mentalmente enfermas. Alguns relatórios recentes dizem que quase 20 por cento dos americanos estão mentalmente doentes na atualidade.
Então o que eu quis fazer foi em dobro. Eu quis examinar exatamente o quão dramático é este aumento na doença mental, e principalmente na doença mental severa. Parte desta subida no número das pessoas ditas serem mentalmente doentes é apenas por redefinição. Atualmente nós concebemos um espectro muito grande onde lançamos todos os tipos de pessoas naquelas categorias de doença mental. Então, crianças que não ficam sentadas um tempo suficiente nas suas salas de aula parecem ter o Distúrbio de Déficit de Atenção e Hiperatividade (DDAH), além de nós criarmos uma nova enfermidade chamada de Distúrbio de Ansiedade Social.

SS: Então o que costumava ser chamada simplesmente de timidez ou ansiedade no relativo às pessoas, está agora sendo etiquetado como uma desordem mental, e você supostamente necessitará de um antidepressivo como a paroxetina para um tal de distúrbio de ansiedade social.
RW: Exatamente. Ou você precisa de um estimulante como Ritalina® para DDHA.

SS: Isso aumenta os clientes em psiquiatria, como também não aumenta o número de pessoas para as quais essas gigantescas companhias farmacêuticas podem vender suas drogas psiquiátricas?
RW: Evidente. Então parte do que nós estamos vendo é nada mais do que a criação de um mercado maior para tais medicamentos. Se você pensar sobre isto, uma vez que nós desenhamos um círculo tão grande quanto possível, ao expandir os limites da doença mental, a psiquiatria pode ter mais clientes e vender mais drogas. Então existe um incentivo econômico intrínseco para que se defina doença mental nas mais amplas perspectivas possíveis, e dessa formar transformar situações ordinárias, emoções estressantes ou comportamentos que algumas pessoas podem não gostar, tudo isso poderia ser rotulado como doença mental.

SS: Sua pesquisa também mostra que existe um aumento real nas pessoas que têm uma desordem mental severa. Agora, embora isso possa parecer contraditório, mas na verdade você acredita que muito deste aumento seria causado pelo excesso de uso de algumas dessas novas gerações de drogas psiquiátricas?
RW: Sim, exatamente. Eu examinei ao número daqueles classificados como doentes mentais severamente inválidos — pessoas que não estão trabalhando, ou que são de alguma maneira disfuncional por causa da doença mental. Então eu tentei classificar ao longo da história a porcentagem da população que é considerada como um doente mental incapacitado.
Então, em 1903, nós vemos que aproximadamente 1 de cada 500 pessoas nos Estados Unidos era hospitalizada por doença mental. Em 1955, no começo da era moderna das drogas psiquiátricas, aproximadamente uma de cada 300 pessoas era inválida por doença mental. Mais tarde, vamos para 1987, o final da primeira geração de drogas anti-psicóticas; e de 1987 adiante nós alcançamos as drogas psiquiátricas modernas. De 1955 até 1987, durante esta primeira era de drogas psiquiátricas — as drogas anti-psicóticas Amplictil® e Haldol® e os antidepressivos tricíclicos (como Tryptanol® e Anafranil®) — nós verificamos que o número de doentes mentais incapacitados aumentar em quatro vezes, chegando ao ponto onde aproximadamente uma de cada 75 pessoas serem julgadas como inválidas por doença mental.
Pois bem, ocorreu uma mudança na forma como nós cuidamos do doente mental entre 1955 e 1987. Em 1955, nós os estávamos hospitalizando. Porém, em 1987, nós passamos por uma mudança social, e a partir daí nós estávamos colocando essas pessoas em abrigos, casas de apoio, ou outro tipo de cuidado comunitário, além de dar a eles pagamentos da seguridade social (SSI/SSDI payments) por inaptidão mental. Em 1987, nós começamos a utilizar os supostamente melhores, medicamentos psiquiátricos de segunda geração como o Prozac® e os demais antidepressivos ISRS – inibidores seletivos de recaptação de serotonina. Logo em seguida, nós recebemos essas novas drogas, os anti-psicóticos atípicos como Zyprexa® (olanzapine), Leponex® e Risperidal®.
O que tem acontecido desde 1987? Bem, a taxa de inaptidão continuou a aumentar até chegar aos atuais: um para cada 50 americanos. Reflita sobre isto: um de cada 50 americanos é inválido por doença mental na atualidade. E isso ainda está num crescente. O número das pessoas mentalmente inválidas nos Estados Unidos tem aumentado na taxa de 150.000 pessoas por ano desde 1987. Isto é um aumento diário, ao longo dos últimos 17 anos, de 410 pessoas por dia ficando incapacitada por doença mental.

SS: Isso nos leva a pergunta óbvia. Se psiquiatria introduziu estas drogas tidas como maravilhosas como Prozac® e Zoloft® e Zyprexa®, porque a incidência da doença mental está subindo dramaticamente?
RW: Essa é a questão. Isto é uma pergunta científica. Nós temos uma forma de atendimento onde nós estamos usando estas drogas de um modo cada vez mais inclusivo, como supostamente nós temos medicamentos melhores e eles são a base dos nossos tratamentos, conseqüentemente nós deveríamos ver taxas de inaptidão decrescente. Esse seria o cenário esperado.
Mas ao contrário, de 1987 até o presente, nós vimos um aumento no número das pessoas mentalmente inválidas que passou de 3.3 milhões de indivíduos até os atuais 5.7 milhões nos Estados Unidos. Nesse período, nossos gastos com drogas psiquiátricas aumentaram a um nível surpreendente. Os gastos combinados com medicamentos antidepressivos e anti-psicóticos saltaram de algo ao redor de US$500 milhões em 1986 para quase US$20 bilhões em 2004. Por isso nós levantamos a questão: seria o uso dessas drogas que realmente, de algum modo, alavancou este aumento no número de doentes mentais?
Quando você examina a literatura de pesquisa, você encontra um padrão claro nos resultados com todos esses remédios – você vê isto com os anti-psicóticos, os antidepressivos, as drogas anti-ansiedade e os estimulantes como Ritalina® usada para tratar ADHD. Todas estas drogas podem restringir um sintoma alvo de forma ligeiramente mais eficaz do que um placebo o faz, por um período pequeno de tempo, digamos seis semanas. Um antidepressivo pode melhorar os sintomas de depressão melhor do que um placebo por um curto prazo.
Você verifica com qualquer classe dessas drogas psiquiátricas uma agravação do sintoma alvo de uma depressão ou psicose ou ansiedade a longo prazo, em comparação aos pacientes tratados com placebo. Então, mesmo nos sintomas alvo, existem maior cronicidade e severidade nos sintomas. E você vê uma porcentagem bastante significativa de pacientes onde sintomas psiquiátricos novos e mais severos são ativados pela própria droga.

SS: Novos sintomas psiquiátricos são criados pelas inúmeras drogas que as pessoas utilizam pois foram informadas que lhes ajudaria a recuperação?
RW: Exato. O caso mais óbvio é com os antidepressivos. Uma porcentagem das pessoas colocadas sob uso de ISRSs, porque eles têm algum grau de depressão sofrerá ou um ataque maníaco ou psicótico – induzido por drogas. Isto está bem reconhecido. Então agora, em vez de só lidar com depressão, eles estão lidando com mania ou sintomas psicóticos. E uma vez que eles apresentem um episódio maníaco induzido por drogas, o que acontece? Eles vão para um quarto de emergência, e naquele momento eles estarão sendo novamente diagnosticados. A partir de então serão informados de serem bipolares e lhes será adicionado um anti-psicótico ao uso do antidepressivo; E, naquele momento, eles estão movendo ladeira abaixo para uma incapacidade crônica.

SS: A moderna psiquiatria reivindica que esses medicamentos psicoativos corrigem uma química cerebral patológica. Existe alguma evidência que suporte essa apologia de que uma química cerebral anormal é a culpada pela esquizofrenia e depressão?
RW: Isso é o aspecto chave que todo mundo precisa entender. Realmente é a resposta que destranca este mistério do porque as drogas teriam aquele efeito problemático a longo prazo. Começamos pela esquizofrenia. Eles imaginaram que tais drogas trabalham corrigindo um desequilíbrio de um neurotransmissor: a dopamina no cérebro.
A teoria seria que as pessoas com esquizofrenia teriam sistemas dopaminérgicos hiperativos; e esses medicamentos, ao bloquear a dopamina no cérebro, consertariam tal desequilíbrio químico. Dessa forma, você obtém a metáfora de que eles são como insulina é para a diabetes; eles estão consertando uma anormalidade. Com os antidepressivos, a teoria seria de que as pessoas com depressão teriam níveis muito baixos de serotonina; As drogas elevam os níveis de serotonina no cérebro e dessa forma eles estão equilibrando essa química no cérebro.

Em primeiro lugar, essas teorias nunca surgiram de investigações sobre o que realmente estava acontecendo com as pessoas. Pelo contrário, como eles descobriram que os anti-psicóticos bloqueavam a dopamina eles teorizaram que tais indivíduos teriam um sistema dopaminérgico hiperativo. O mesmo aconteceu com os antidepressivos. Eles verificaram que os antidepressivos elevavam os níveis de serotonina; então, eles teorizaram que as pessoas com depressão deveriam ter níveis baixos de serotonina.
Mas esse é o aspecto que eu desejaria que toda a América precisa saber  e desejaria que a psiquiatria devesse esclarecer: Eles nunca puderam verificar que as pessoas com esquizofrenia teriam sistemas hiperativos de dopamina. Eles nunca puderam constatar que as pessoas com depressão teriam um sistema de serotonina hipoativo. Eles nunca provaram de forma consistente que quaisquer dessas enfermidades são associadas com qualquer desequilíbrio de substâncias químicas no cérebro. A história de que as pessoas com desordens mentais têm reconhecidos desequilíbrios químicos – isto é uma mentira. Nós definitivamente não sabemos. É algo dito apenas para ajudar vender tais drogas e ajudar a vender o modelo biológico das desordens mentais.
Mas o ponto é esse. Nós sabemos, de fato, que estas drogas perturbam a forma como estes mensageiros químicos trabalham no cérebro. O paradigma real é: As pessoas diagnosticadas com desordens mentais não têm nenhum problema conhecido em seus sistemas de neurotransmissores; e estas drogas perturbam a função normal dos neurotransmissores.

SS: Então em lugar de corrigir um desequilíbrio químico, esses medicamentos infinitamente prescritos corrompem a química cerebral e a tornam enferma.
RW: Com certeza. Stephen Hyman, um famoso neuro-cientista e antigo diretor do Instituto Nacional de Saúde Mental (INSM), escreveu um artigo em 1996 que avaliava como as drogas psiquiátricas afetam o cérebro. Ele escreveu que todas estas drogas criam perturbações em funções dos neurotransmissores. E ele observa que o cérebro, em resposta para esta droga externa, altera suas funções normais e interpõe uma série de adaptações compensatórias.
Em outras palavras, tenta se adaptar para o fato que uma droga anti-psicótica está bloqueando as funções normais da dopamina. Ou no caso dos antidepressivos, tenta compensar o fato de que você está bloqueando a re-captação da serotonina. A maneira como ele faz isso é se adaptar no sentido oposto. Então, se você for bloquear a dopamina no cérebro, o cérebro tenta liberar mais dopamina e realmente aumenta o número de receptores de dopamina. Dessa forma uma pessoa colocada sob drogas anti-psicóticas acabam tendo um número anormalmente alto de receptores de dopamina no cérebro.
Se você der a alguém um antidepressivo, e isso tenta manter os níveis de serotonina muito elevados no cérebro, ele faz exatamente o oposto. Ele cessa a produção da serotonina habitual e reduz o número de receptores de serotonina no cérebro. Então alguém que está sob uso de antidepressivo, depois de um tempo acaba com um nível anormalmente baixo de receptores de serotonina no cérebro. Assim o que Hyman concluiu sobre isso: Depois que estas mudanças aconteceram, o cérebro do paciente fica funcionando de um modo que é "qualitativamente tanto quanto quantitativamente diferente do estado normal." Então o que Stephen Hyman, antigo diretor do INSM, fez foi definir o presente paradigma de como estas drogas afetam o cérebro mostrando que elas estão induzindo a um estado patológico.

SS: Então o paradoxo é que não existe nenhuma evidência que suporte ao conclame da psiquiatria moderna de que existe algum desequilíbrio bioquímico patológico no cérebro que causa doença mental, mas se você tratar pessoas com estas novas drogas espetaculares, então você cria esses desequilíbrios patológicos?
RW: Sim, estas drogas corrompem a química normal do cérebro. Temos então aqui o real paradoxo! E a tragédia real é, que até que nós negociamos essas drogas como equilibradores químicos, fixadores químicos, quando na verdade nós estamos fazendo justamente o oposto. Nós estamos tomando um cérebro que não tem qualquer desequilíbrio químico sabidamente anormal, e ao colocar essas pessoas sob drogas, nós estamos instabilizando aquela química normal. Aqui é como Barry Jacobs, um neuro-cientista de Princeton, descreve o que acontece com uma pessoa que recebe um antidepressivo da família dos ISRSs. "Estas drogas," ele disse, "alteram o nível da transmissão sináptica para fora de taxas fisiológicas alcançadas sob condições biológicas ambientais normais. Deste modo, qualquer mudança no comportamento ou fisiologia produzida sob essas condições deveria ser apropriadamente considerada patológica ao invés de refletir o papel biológico normal da serotonina."

SS: Um dos antidepressivos ISRS que é amplamente creditado em ser uma droga maravilhosa é o Prozac®. Porém sua pesquisa verificou que o FDA (Administração de Alimentos e Medicamentos Federal dos EEUU) tem recebido mais relatos de efeitos co-laterais sobre o Prozac® do que qualquer outro medicamento. Qual tipo de efeitos maléficos as pessoas estão relatando?
RW: Em primeiro lugar, o Prozac® e os demais sucessores da mesma família ISRSs, tem seu nível de eficácia sempre num caráter marginal. Em todos os testes clínicos dos antidepressivos, aproximadamente 41 por cento dos pacientes melhoram num curto prazo contra 31 por cento dos pacientes com placebo. Agora veja a advertência disso! Se você usar um placebo ativo nestes testes – um placebo ativo causa uma mudança fisiológica sem benefício, como uma boca seca – qualquer diferença no resultado entre o antidepressivo e placebo virtualmente desaparece.

SS: Os testes medicamentosos mais iniciais com o Prozac® foram tão pouco promissores que eles tiveram que manipular os resultados dos testes para conseguir a aprovação do FDA?
RW: O que aconteceu com Prozac® é uma história fascinante. Desde o início, eles notaram uma eficácia discretamente acima de um placebo; e eles observaram que eles tiveram alguns problemas com suicídio. Existiriam aumentadas respostas suicidas comparadas ao placebo. Em outras palavras, as drogas estavam agitando as pessoas e tornando pessoas suicidas que não tinham potencial suicida prévio. Eles estavam obtendo respostas maníacas em pessoas que não tinham sido maníacas anteriormente. Eles estavam obtendo episódios psicóticos nas pessoas que não tinham quadros psicóticos prévios. Então você estava vendo estes efeitos colaterais muito problemáticos até ao mesmo tempo em que você estava observando alguma eficácia muito modesta, se alguma, maior do que um placebo para melhorar a depressão.
Basicamente, o que a Eli Lilly (Fabricante do Prozac®) teve que fazer foi encobrir a psicose, encobrir a mania; e, dessa maneira, podia conseguir obter a aprovação para essas drogas. Um revisor do FDA até advertiu que o Prozac® parecia ser uma droga perigosa, mas seria aprovada de qualquer maneira.
Nós aparentemente estamos sabendo de tudo isso somente agora: "Oh, o Prozac® pode causar impulsos suicidas e todos esses ISRSs podem aumentar o risco de suicídio." O ponto é: isso não era nada novo. Aqueles dados já estavam documentados desde os primeiros ensaios. Você teve pessoas na Alemanha dizendo, "eu penso que esa é uma droga perigosa."

SS: Mesmo voltando ao final dos anos 1980, eles já eram conhecidos?
RW: Antes do final dos anos 1980 – no início dos anos 80, antes do Prozac® ser aprovado. Basicamente o que a Eli Lilly teve que fazer foi encobrir os riscos de mania e psicose, ocultar que algumas pessoas estavam ficando suicidas porque eles estavam ficando com esta agitação nervosa do Prozac®. Essa foi a única maneira para obter aprovação.
Existiriam várias maneiras que eles utilizaram para esse encobrimento. Uma seria simplesmente remover os relatos de psicose da base de dados. Eles também voltaram e recodificaram alguns dos resultados dos ensaios. Vamos dizer que alguém teve um episódio maníaco ou um episódio psicótico; em vez de assinalar isto, eles só apontariam para um retorno da depressão, ou coisa parecida. Então existia uma necessidade básica em esconder estes riscos desde o início, e isso foi feito.

Então o Prozac® é aprovado em 1987, e é lançado em uma campanha de marketing surpreendente. A pílula propriamente foi apresentada na capa de várias revistas! É como a Pílula do Ano [risos]. E ele parece ser muito mais seguro: um remédio dos sonhos. Nós temos médicos dizendo, "Oh, o problema real com esta droga é que nós podemos agora criar qualquer personalidade que nós desejamos. Nós ficamos tão qualificados com essas drogas que se você quiser ter muito prazer o tempo todo, tome sua pílula!"
Isso era uma tolice completa. As drogas eram apenas fracamente melhores do que placebos no alivio de sintomas depressivos no curto prazo. Você teve todos estes problemas; e nós ainda estávamos elogiando em demasia estas drogas, dizendo: "Oh, os poderes da psiquiatria são tais que nós podemos dar a você a mente que você quer – projetamos uma personalidade!" Era absolutamente obsceno. Entretanto, qual foi o medicamento, que depois de ser lançado, que mais rapidamente se transformou na droga com mais reclamações nos Estados Unidos? O Prozac®!

SS: Qual foi o índice de reclamações quando o Prozac® chegou ao mercado?
RW: Nesta aferição, nós temos o Medwatch, um sistema de relato onde nós reportamos eventos adversos das drogas psiquiátricas ao FDA. A propósito, o FDA tenta manter estes relatórios negativos distantes do público. Então, em vez do FDA manter esses dados facilmente disponíveis para o público, para que você possa conhecer os riscos de tais medicamentos, é muito duro chegar a estes relatórios.
Dentro de uma década, existiram 39.000 relatos adversos sobre o Prozac® que foi enviado para o Medwatch. Acredita-se que o número de eventos adversos enviados ao Medwatch represente só um por cento do número real de tais eventos. Então, se nós conseguirmos 39.000 relatos de evento adversos sobre o Prozac®, o número de pessoas que realmente sofreram tais problemas é estimado ser 100 vezes maiores, ou aproximadamente quatro milhões das pessoas! Isso faz do Prozac® o medicamento mais reclamado da América, sem dúvida. Existiram mais relatos de eventos adversos recebidos sobre o Prozac® em seus primeiros dois anos de mercado do que tinha sido reportado ao principal antidepressivo tricíclico em 20 anos!
Lembre, o Prozac® foi lançado ao público Americano como uma droga maravilhosamente segura, e sobre o que as pessoas estão reclamando? Mania, depressão, psicose, nervosismo, ansiedade, agitação, hostilidade, alucinações, perda de memória, tremores, impotência, convulsões, insônia, náusea, impulsos suicidas. É uma grande variedade de sintomas graves.

E aqui temos o surpreendente. Não foi apenas o Prozac. Uma vez que nós tivemos os demais ISRSs no mercado, como o Zoloft® e Aropax®, em 1994, quatro antidepressivos dessa família estavam entre os 20 “tops” de reclamação entre as medicações da lista do Medwatch do FDA. Em outras palavras, todas destas drogas trazidas para comercialização começaram a ativar esta amplitude de eventos adversos. E esses não eram eventos menores. Quando você fala a respeito de mania, alucinações e depressão psicótica estamos falando de eventos adversos graves.
Prozac® foi lançado para o público americano como uma droga maravilhosa. Foi apresentado nas capas de revistas como tão seguras, e como um sinal de nossa habilidade maravilhosa de induzir o cérebro da forma como nós desejássemos. Na verdade, os relatórios estavam mostrando que nós poderíamos ativar muitos eventos perigosos, inclusive o suicídio e a psicose.
O FDA estava sendo advertido sobre isto. Eles estavam recebendo uma inundação de relatórios de eventos adversos, e o público nunca foi informado sobre isso para um longo período de tempo. Levou uma década para que o FDA começasse a reconhecer o aumento de suicídios e de violência que pode ser ativados em algumas pessoas. Isso só mostra como o FDA traiu o povo americano. Isto é um exemplo clássico. Eles traíram sua responsabilidade em agir como um cão de guarda para o povo americano. Pelo contrário eles agiram como uma agência de encobrimento dos danos e riscos dessas drogas.

SS: Levando em conta o fracasso do FDA para nos advertir sobre Prozac®, qual foi sua recente negligência no assunto do risco de suicídio com os antidepressivos para crianças tratadas com remédios como o Aropax®? Não seriam os oficiais de saúde mental da Inglaterra muito melhores que seus colegas americanos no FDA na advertência sobre os perigos de tentativas de suicídio quando esses antidepressivos foram administrados aos adolescentes?
RW: Sim. A história das crianças é incrivelmente trágica. Também é uma história realmente sórdida. Vamos voltar um pouco para ver o que aconteceu às crianças sob antidepressivos. O Prozac® chegou ao comércio em 1987. No início dos anos 90, as companhias farmacêuticas que fabricavam estas drogas estão dizendo, "O que podemos fazer para expandir o mercado para os antidepressivos?" Porque é isso que as companhias farmacêuticas fazem – elas querem chegar a um número sempre maior de indivíduos. Eles viram que eles tiveram um mercado em aberto com as crianças. Então vamos começar a vender essas drogas para crianças. E eles foram bem sucedidos. Desde 1990, o uso de antidepressivos em crianças subiu em torno de sete vezes. Eles começaram a prescrever por bem ou por mal.
Atualmente, sempre que eles fazem testes pediátricos com os antidepressivos, eles verificam que tais drogas não são mais efetivas nos sintomas objetivos da depressão do que o placebo. Isso aconteceu repetidamente nos testes pediátricos com essas drogas antidepressivos. Então, o que isso informa é que não existe nenhuma razão terapêutica real para o emprego dessas drogas nesta população de crianças, porque as drogas nem mesmo os reduzem os sintomas alvo por um curto prazo de forma melhor do que o placebo; e além do mais eles estavam causando todos os tipos de eventos adversos.
Por exemplo, em uma pesquisa, 75 por cento das crianças tratadas com antidepressivos sofreram algum evento adverso de qualquer espécie. Em um estudo pela Universidade de Pittsburgh, 23 % das crianças tratadas com um ISRS desenvolveu mania ou sintomas tipo maníaco; um adicional de 19 % desenvolveu hostilidade droga-induzida. Os resultados clínicos estavam lhe informando que você não conseguiu qualquer benefício na depressão; e você podia criar todos os tipos de problemas reais nas crianças – mania, hostilidade, psicose, e você pode até induzir suicídio. Em outras palavras, não use estas drogas, correto? Isso foi totalmente encoberto.

SS: Como foi ocultado?
RW: Nós tivemos psiquiatras – alguns desses obviamente receberam dinheiro das companhias medicamentosas – dizendo que as crianças estão sub-tratadas e eles estão em risco de suicídio e como nós poderíamos possivelmente tratar as crianças sem essas pílulas e que tragédia seria se nós não pudéssemos usar estes antidepressivos.
Finalmente, um pesquisador proeminente na Inglaterra, David Healy, começou a fazer sua própria pesquisa na habilidade destas drogas em promover suicídio. Ele também conseguiu conseguir acesso a alguns dos resultados de pesquisas e ele “soou o alarme”. Ele primeiro soou esse alarme na Inglaterra e ele apresentou esses dados em revisões por lá mesmo. E eles verificaram que aparentemente essas drogas estão aumentando o risco de suicídio e não existe realmente nenhum sinal de benefícios nos sintomas objetivos de depressão. Então eles começaram a se mobilizar por lá para advertir os médicos a não prescrever tais drogas para a juventude.
O que acontece nos Estados Unidos? Bem, foi só depois de existir muita pressão colocada sobre o FDA que eles captaram a mensagem. O FDA reclassificou o risco dessas drogas. Eles foram lentos até mesmo para por advertências, faixas pretas, nas caixas desses produtos. Por quê? As vidas das crianças não são um bem a ser protegido? Se nós sabemos que temos demonstrações científicas dos riscos que esses remédios apresentam ao aumentar suicídio, não deveríamos ao menos publicar uma advertência sobre isso? Mas o FDA foi negligente até mesmo para colocar essa advertência nas embalagens desses produtos.

SS: Se o Prozac® é o remédio mais reclamado do país, se o Aropax® foi demonstrado ser um risco de suicídio para a juventude, como foi que esses antidepressivos continuaram a ter uma reputação tão mágica de curas para a depressão? E por que o FDA falhou em nos advertir sobre Aropax® e Prozac® para tanto tempo?
RW: Existem algumas razões para isto. Os fundos do FDA se modificaram em 1990. Um decreto permitiu que muito dos fundos do FDA viessem das indústrias farmacêuticas: o decreto PDUFA (Prescription Drug User Fee Act – Decreto de Taxa de Usuário para Drogas de Prescrição). Basicamente, quando as companhias farmacêuticas solicitavam aprovação ao FDA eles teriam que pagar uma taxa. Esses honorários se tornariam grande parte dos recursos das revisões do FDA sobre as aplicações dos medicamentos.
No final de contas, de repente, os recursos começaram a vir da indústria farmacêutica; não vinha mais do povo. Como esse decreto surgiu para renovação, basicamente os lobistas das fábricas de medicamentos estão dizendo que o trabalho do FDA não seria uma análise crítica das drogas, mas sim aprovar rapidamente essas drogas. E isso foi parte do pensamento de Newt Gingrich: seu trabalho era obter drogas para comercializar. Comece a ser parceiro da indústria farmacêutica e facilitar o desenvolvimento de medicamentos. Nós perdemos a idéia de que o FDA teria um papel de cão de guarda.
Também, de um modo humano, muitas pessoas que trabalham para o FDA abandonam para acabar indo para trabalhar para as companhias de medicamentos. A piada velha é que o FDA é um tipo de vitrina para um futuro emprego na indústria farmacêutica. Você vai lá, você trabalha por algum tempo, então você sai para a indústria de remédios. Bem, se esse é a progressão que as pessoas fazem, em essência eles estão fazendo uma rede de relações de bons meninos, para tanto eles não vão ser tão severos com as companhias farmacêuticas. Então, é isso que realmente aconteceu nos anos 1990. O FDA receberia novas ordens de marcha. As ordens eram: "Facilite a obtenção de medicamentos para o mercado. Não seja muito crítico. E, de fato, se você quiser manter seus recursos financeiros, que a partir de então estavam vindo da indústria farmacêutica, tenha certeza que você entendeu essas lições de sobrevivência."

SS: Então as gigantes companhias farmacêuticas têm um enorme poder de cozinhar os resultados dos testes das drogas, fazendo os pesquisadores e até o próprio FDA a se curvar para a sua vontade?
RW: O FDA, em essência, foi submetido no início dos anos 90, e nós realmente vimos isto com as drogas psiquiátricas. O FDA se tornou um cão de colo para a indústria farmacêutica, e não um cão de guarda.
É só agora isto se tornou de conhecimento público. Nós temos Marcia Angel(*), uma antiga editora do New England Journal of Medicine, escreva um livro em que ela diz que o FDA se tornou um cão de companhia. Agora está basicamente bem documentado esse declínio. Como editora do New England Journal of Medicine, o o mais prestigioso jornal médico que nós temos, Marcia Angell é alguém que estava bem no coração da Medicina Americana, e ela concluiu que o FDA desaponta as pessoas americanas. E ela perdeu seu emprego no New England Journal of Medicine ao começar a criticar as companhias farmacêuticas.
Ela era a editora do jornal no final dos anos 1990 e havia um médico correspondente chamado Thomas Bodenheimer que decidiu escrever um artigo sobre como você não podia nem confiar no que era publicada nos jornais médicos por causa de toda a manipulação de resultados.
Então eles fizeram uma investigação sobre como as companhias farmacêuticas financiavam todas as pesquisas e manipulavam os resultados dos ensaios científicos, então você não poderia realmente ter confiança no que você lê nesse tipo de publicação. Eles assinalaram que quando eles tentaram conseguir um perito para revisar a literatura científica relacionada aos antidepressivos, eles basicamente não conseguiram encontrar alguém que não tivesse recebido algum dinheiro das companhias farmacêuticas.
Agora, o New England Journal of Medicine é publicado pela Sociedade Médica de Massachusetts que publica muitos outros jornais, e eles têm muita publicidade farmacêutica. Então o que acontece depois que aquele artigo ser publicado por Thomas Bodenheimer e um editorial acompanhado de Marcia Angell sobre o estado deplorável da medicina americana a respeito disto? Ambos perdem seus empregos! Ela foi demitida e o mesmo aconteceu com Thomas Bodenheimer. Pense sobre isso. Nós temos o principal jornal médico demitindo pessoas, deixando-os partir, porque eles ousaram criticar uma ciência desonesta e o processo desonesto que estava envenenando a literatura científica.
Então nós temos o FDA que está agindo como cães de companhia. Você não pode confiar na literatura científica. Tudo isso mostra como o público americano foi traído e não sabia sobre todos os problemas com estas drogas e por que foi ocultado deles. Isso tem a ver com dinheiro, prestígio e redes de velhos “bons meninos”.

SS: Isso também a ver com o silenciamento dos críticos. A Eli Lilly usa a mídia para alardear benefícios do Prozac® e dar vantagens para médicos que freqüentam conferências para ouvir sobre seus benefícios, e suborna pesquisadores. Mas eles também não usam seu poder e dinheiro para silenciar seus críticos?
RW: Um exemplo é Dr. Joseph Glenmullen, um psiquiatra que também trabalha para o Serviço de Saúde da Universidade de Harvard, e que escreveu um livro chamado Prozac Backlash (O Jogo Prozac) que advertia sobre os perigos do Prozac®. Ele entende que essas drogas estão sendo abusadas e que causam efeitos colaterais severos. Ele até levanta questões sobre os problemas de memória a longo prazo com as drogas e deficiência orgânica cognitiva. Bem, a Eli Lilly construiu uma campanha de marketing para tentar desacreditá-lo. Eles divulgaram notícias para a mídia questionando sua afiliação com a Escola Médica de Harvard, etc. Fazem tudo para silenciar os críticos.
Se você cantar a melodia que as companhias de droga querem, aos mais elevados níveis, você é pago com muito dinheiro para voar pelo mundo e dar apresentações sobre as maravilhas dessas drogas. E aqueles que vêm, e não fazem quaisquer perguntas embaraçosas, conseguem jantares de lagosta e talvez eles obtenham honorários para freqüentar essa reunião educacional. Então se você quiser ser parte dessas vantagens, você pode. Você canta as maravilhas dessa droga, e você não fala sobre seus efeitos colaterais sórdidos, e você pode conseguir um generoso pagamento como um de seus locutores convidados, ou como um de seus peritos.
Mas se você for um daqueles que estão dizendo: "E a respeito da mania, que tal a psicose?" – Eles silenciam você. Olhe para o que aconteceu para David Healy. Healy é até o melhor exemplo. David Healy tem esta reputação de extrema qualidade na Inglaterra. Ele é o escritor de vários livros na história da psicofarmacologia. Ele é como um antigo Secretário da Associação de Psicofarmacologia de lá. Ele recebeu uma oferta de trabalho na Universidade de Toronto para encabeçar seu departamento de psiquiatria. Então enquanto ele está esperando assumir aquela posição na Universidade de Toronto, ele vai para Toronto e preparou uma conferência sobre o risco elevado de suicídio com Prozac® e alguns outros ISRSs. Quando ele volta para casa, a oferta de trabalho foi rescindida.
Agora Eli Lilly doa algum dinheiro para a Universidade de Toronto? Absolutamente. Então, respondendo sua pergunta, sim, a Eli Lilly silencia seus dissidentes também.

SS: Qual é a história por detrás do pagamento secreto entre Eli Lilly e os sobreviventes que processaram a companhia depois que Joseph Wesbecker atirou em 20 colegas de trabalho após ser colocado sob uso de Prozac®?
RW: Durante esse julgamento em que a Eli Lilly estava sendo processada, o juiz iria permitir a demonstração de evidências muito prejudiciais contra a Eli Lilly. O juiz disse, "Vá em frente e apresente isso no julgamento." Mas a próxima coisa você já sabe, eles não apresentaram essas evidências; e de fato, de repente, os demandantes não mais estão apresentando as evidências mais significativas para continuarem seu julgamento. Então o juiz pergunta-se por que eles não estão apresentando seu melhor testemunho. Isso cheira a sujeira. Ele suspeita que a Eli Lilly pagou aos demandantes secretamente e parte do negócio era isso, os demandantes irão em frente com uma tentativa de fingimento de forma que a Eli Lilly ganhará o litígio. Então a Eli Lilly pôde conclamar, "Veja: nossa droga não faz as pessoas ficarem violentas."

E, realmente, foi isso que aconteceu. A Eli Lilly sentiu que iria perder esse julgamento. Eles foram aos demandantes e disseram que lhes dariam muito dinheiro. Eles concordaram em ir em frente e arranjaram o caso, pois mantiveram os demandantes a irem até o final do julgamento. Desse modo a Eli Lilly pode publicamente reivindicar que eles ganharam a causa e que o Prozac® não causa dano.

SS: Como ficamos sabendo disso?
RW: Nós nunca teríamos conhecido essa história se não fosse por duas coisas. Uma, acredite nisto ou não, o juiz, em essência, apelou da decisão em seu próprio tribunal. Ele disse, "sinto mau cheiro nisso." E por isto, ele descobriu que existia esta determinação secreta e que era um processo de fingimento na sua continuação. Ele disse que era umas das piores violações à integridade do processo legal que ele já tinha visto. E segundo, um jornalista inglês chamado John Cornwell escreveu um livro chamado: Power to Harm: Mind, Medicine, and Murder on Trial (Poder para prejudicar: Mente, Medicina, e Assassinato no tribunal). Ele escreveu sobre este caso, e ainda nos Estados Unidos, nós praticamente não obtemos quase nenhuma notícia sobre esta determinação secreta e esta ampla perversão  do processo legal. Seri um jornalista inglês que estariaa expondo esta história.
Meu ponto aqui é esse: eles silenciam pessoas como Marcia Angell. Eles pervertem o processo científico. Eles pervertem o processo legal. Eles pervertem o processo de revisão de medicamentos do FDA. Está em todos lugares! E é por isso que nós como uma sociedade acabamos acreditando nestas drogas psiquiátricas. Você fez a pergunta há pouco tempo atrás, "Por que nós ainda acreditamos no Prozac?" Uma das razões é que a história sobre o Prozac é, na realidade, suportada. É publicamente suportada porque nós mantemos esse silêncio sobre essas questões.
A outra coisa para lembrar é que algumas pessoas sob Prozac® se sentem melhores. Isto é verdade. Isso é o divulgado, mas da mesma forma algumas pessoas com o uso de placebos se sentem melhores. Mas aquelas são as histórias que são repetidas: "Oh, eu tomei Prozac e eu estou me sentindo melhor." É aquele grupo seleto que faz melhor para que essa história seja a informada, sendo a história que o público ouve. Assim, é por isso que nós continuamos a acreditar na história de que essas drogas sejam uma maravilha, que sejam muito seguras, apesar de todo esse material sujo que ficou coberto.

SS: Vamos agora nos mover dos antidepressivos como Prozac® e considerar outro novo grupo de drogas supostamente maravilhosos – as novas drogas anti-psicóticas. Você escreveu que o uso a longo prazo de drogas anti-psicóticas – ambas, os originais neurolépticos, remédios como o Amplictil ® e Haldol® e os mais recentes “atípicos” como Zyprexa® e Risperidal® – causam mudanças patológicas no cérebro o que pode levar a uma agravação dos sintomas de doença mental. Quais mudanças na química do cérebro resultam dos anti-psicóticos, e como isso leva ao principal e mais assustador aspecto que você descreveu – a doença mental crônica que ao qual se fica preso por tais substâncias?
RW: Essa é uma linha de pesquisa que atravessa 40 anos. Este problema de enfermidade crônica aparece de tempo em tempo repetidamente na literatura de pesquisa. Este mecanismo biológico está um pouco melhor compreendido agora. Os anti-psicóticos bloqueiam profundamente os receptores de dopamina. Eles bloqueiam entre 70-90 por cento dos receptores de dopamina no cérebro. Em resposta, o cérebro gera mais ou menos 50 por cento de receptores extra de dopamina. Tenta ficar hiper-sensível.
Então, em essência você teria criado um desequilíbrio no sistema da dopamina no cérebro. É quase como se, em uma mão, você tem o acelerador – isto é: os receptores de dopamina extra. E a droga é o freio tentando bloqueá-los. Mas se você libera esse freio, se você abruptamente para com as drogas, você agora tem um sistema de dopamina que é hiperativo. Você tem muitos receptores de dopamina. E o que acontece? As pessoas que tentam abruptamente largar os medicamentos tendem a ter graves recaídas.

SS: Então as pessoas que foram tratadas com estas drogas anti-psicóticas têm uma propensão maior para recaídas, e apresentar novos episódios de doença mental, ao invés das pessoas que tiveram outros tipos de terapias sem tais drogas?
RW: Exatamente, e isso foi entendido em 1979, que você realmente estava aumentando a vulnerabilidade biológica subjacente para a psicose. E a propósito, nós já classificamos um entendimento de que se você mexe com o sistema de dopamina, que você podia criar alguns sintomas de psicose com anfetaminas. Então se você der a alguém doses suficientes de anfetaminas, eles ficam sob risco aumentado de psicose. Isto está bem conhecido. E o que as anfetaminas fazem? Eles liberam dopamina. Então existe uma razão biológica por que, se você for mexer com o sistema de dopamina, você está aumentando o risco de psicose. Isto é em essência o que estas drogas anti-psicóticas fazem, eles incrementam o sistema da dopamina.
Veja aqui um impressionante estudo real sobre isso: pesquisadores da Universidade de Pittsburgh nos anos 90 tomaram pessoas recentemente diagnosticadas com esquizofrenia, e eles começaram a registrar imagens de ressonância magnética dos cérebros destas pessoas. Dessa forma nós conseguimos um retrato de seus cérebros no momento de diagnóstico, e então nós teremos imagens dos próximos 18 meses para verificar como esses cérebros se modificam. A partir daí durante 18 meses, eles estão sendo medicados com prescrições de anti-psicóticos, e o que os pesquisadores reportaram? Eles reportaram o seguinte, após este período de 18 meses, as drogas causaram um aumento dos gânglios da base, uma área do cérebro que usa dopamina. Em outras palavras, criaram uma mudança visível na morfologia, uma mudança no tamanho de uma área do cérebro, e isto é anormal. Isto é número um. Então nós temos uma droga anti-psicótica causando uma anormalidade no cérebro.
Agora aqui temos o ponto chave. Eles verificaram que como aquela amplificação aconteceu, era associada com uma agravação dos sintomas psicóticos, uma agravação dos sintomas negativos. Então aqui você realmente tem, com uma tecnologia moderna, um estudo muito poderoso. Por processamento de imagens do cérebro, nós vemos como agente externo entra, corrompe a química normal, causa um aumento anormal dos gânglios da base, e aquele aumento causa uma agravação de muitos sintomas que deveria tratar. Agora isto realmente é, em essência, a história de um processo de doença – um agente externo causa anormalidade, dá origem a sintomas…

SS: Mas neste caso, o agente externo que ativa o processo de doença é o suposto tratamento para a própria doença! A droga psiquiátrica é o agente causador de enfermidade.
RW: Isto é exatamente assim. É um atordoante, uma descoberta maldita. É o tipo de coisa que você diria, "Oh Cristo, nós devíamos ter feito algo diferente." Mas você imagina que tipo de incentivo financeiro esse pesquisadores receberam, após eles fazerem tal descoberta?

SS: Não, qual? Eu imaginaria que eles conseguiram recursos para executar estes mesmos estudos em outras classes de drogas psiquiátricas.
RW: Eles conseguiram recursos para desenvolver um implante, um implante no cérebro, que liberaria drogas como o Haldol® de forma contínua e ininterrupta! Um investimento para desenvolver um implante de liberação de medicamentos, dessa forma você poderia implantar isso nos cérebros das pessoas com esquizofrenia e assim eles até não teriam qualquer oportunidade para não tomar esses remédios!

SS: Incrível. Projetar um implante para fornecer uma dose constante de uma droga que eles acabaram de descobrir ser causa de patologia na química do cérebro.
RW: Certo, eles acabaram de verificar que eles estão causando uma agravação dos sintomas! Então por que você continuaria com um projeto de um implante permanente? Porque seria para isso que o dinheiro viria.
E ninguém quis lidar com este achado horrível de um  aumento nos gânglios da base causado pelas drogas, associado com a agravação dos sintomas. Ninguém quis lidar com o fato de que quando você examinar as pessoas medicadas com anti-psicóticos, você começará a ver uma redução dos lobos frontais. Ninguém quer falar sobre nenhuma dessas coisas. Eles pararam essas pesquisas.

SS: Que outros efeitos colaterais são causados por uso prolongado destas drogas anti-psicóticas?
RW: Bem, você consegue a Discinesia Tardia (tardive dyskinesia), uma deficiência orgânica cerebral permanente; e a Acatisia, que seria uma agitação nervosa incrível. Você nunca fica confortável. Você quer se sentar, mas você não pode se sentar. É como se você estivesse rastejando fora de sua própria pele. E está associado com violência, suicídio e todos os tipos de coisas horríveis.

SS: Tais tipos de efeitos colaterais eram notórios com a primeira geração de drogas anti-psicóticas, como Amplictil®, Haldol® e Stelazine®. Mas, da mesma forma que com Prozac®, tantas pessoas estão ainda elogiando em demasia a nova geração de anti-psicóticos atípicos – Zyprexa®, Leponex® e Risperidal® – como drogas mágicas que controlam a doença mental com muito menos efeitos colaterais. Isto é verdade? O que você verificou?
RW: Não, é apenas uma completa tolice. De fato, eu penso que as mais novas drogas podem ser eventualmente estabelecidas como mais perigosas do que as antigas drogas, se isso fosse possível. Como você sabe, os neurolépticos conhecidos como Amplictil® e Haldol® tinham um relato reiterado de malefícios como a discinesia tardia e acatisia no máximo.
Então quando nós conseguimos as novas drogas atípicas, elas foram extraordinariamente badaladas como infinitamente mais seguras. Mas com essas novas atípicas, você consegue obter todos os tipos de deficiências orgânicas metabólicas.
Vamos falar sobre Zyprexa®. Tem um perfil diferente. Ele pode não causar muita discinesia tardia. Pode não dar origem a tantos sintomas de parkinson. Mas ele causa um amplo leque de novos sintomas. Então, por exemplo, provavelmente causa mais diabete. E provavelmente cause mais distúrbios pancreáticos. Provavelmente cause mais obesidade e distúrbios no controle do apetite.
Na verdade, pesquisadores na Irlanda reportaram em 2003 que desde a introdução dos anti-psicóticos atípicos, a taxa de mortalidade em meio às pessoas com esquizofrenia dobrou. Eles tomaram as taxas de mortalidade das pessoas tratadas com neurolépticos clássicos e posteriormente eles comparam com as taxas de mortalidade das pessoas tratadas com anti-psicóticos atípicos, e essas taxas dobraram. Ela dobrou! Não houve redução dos perigos. De fato, nesse estudo de sete anos, 25 de 72 pacientes morreram.

SS: Quais eram as causas de morte?
RW: Todos os tipos de enfermidades orgânicas, e isto é parte do ponto. Estamos ficando com problemas respiratórios, estamos tendo pessoas que morrem com taxas de incrivelmente elevadas de colesterol, com problemas de coração, com diabetes. Com olanzapina (Zyprexa®), um dos problemas é que você está realmente força de forma extrapolada o âmago do sistema metabólico. É por isso que você alcança  estes enormes ganhos de peso, e você obtém uma diabetes. O Zyprexa® basicamente corrompe o “equipamento” que nós somos e que faz o processamento dos alimentos e da obtenção energética dessa comida. Então esse aspecto fundamental da função biológica humana é perturbado, e em algum momento você terá todos estes problemas pancreáticos, prejuízos da regulação da glicose, diabetes, etc. Isto é realmente um sinal que você é mexendo com algo muito fundamental para vida.

SS: Supostamente existe um aumento alarmante de doença mental sendo diagnosticada em crianças. Milhões são diagnosticados com depressão, sintomas bipolares e psicóticos, distúrbio de déficit de atenção e hiperatividade, e distúrbio de ansiedade social. Essa explosiva nova prevalência de doença mental no meio das crianças é um aumento real, ou é uma campanha de marketing que enriquece a indústria de drogas psiquiátricas, uma bonança para tais corporações farmacêuticas?
RW: Você está tocando em algo que realmente se trata de um escândalo trágico de proporções monumentais. Eu converso às vezes com classes de acadêmicos, classes de psicologia. Você não consegue acreditar qual é a porcentagem de jovens que foi estabelecida que seria mentalmente enferma desde crianças, de que algo estava muito errado com elas. É absolutamente fenomenal. É absolutamente cruel estar dizendo que tais crianças têm cérebros falidos e enfermidades mentais.
Existem duas coisas que estão acontecendo aqui. Um, claro, é que é uma completa tolice. Quando nos lembramos de nós quando crianças, você tem energia demais ou você se comporta às vezes de modo que não é totalmente apropriado, e você tem esses extremos de emoções, especialmente durante seus anos de adolescência. Ambos, crianças e adolescentes podem ser muito sentimentais. Então uma coisa que está acontecendo é que eles tomam alguns comportamentos da infância e começam a definir os comportamentos que eles não gostam de patológicos. Eles começam a definirem emoções que são desconfortáveis como patológicas. Então parte do que nós estamos fazendo é “patologização” da infância com uma definição inepta de trivialidades. Nós estamos patologizando, criando sofrimento no meio das crianças.
Por exemplo, se você for um filho de criação, e talvez você tenha recebido pouco conforto na loteria da vida e crescido em uma família disfuncional e você é colocado num orfanato, você sabe o que acontece hoje? Você muito provavelmente vai ser diagnosticado com uma desordem mental, e você vai ser colocado sob um medicamento psiquiátrico. Em Massachusetts, algo em torno de 60 a 70 por cento das crianças de orfanatos estão recebendo medicações psiquiátricas. Essas crianças não são mentalmente doentes! Elas conseguiram um tratamento injusto na vida. Elas acabaram em um lar de proteção, o que significa que eles estavam numa situação familiar ruim, e o que nossa sociedade faz? Eles dizem: "Você tem um cérebro defeituoso." Não seria a sociedade que seria ruim e você não conseguiu uma situação justa. Não, a criança tem um cérebro defeituoso e tem que ser colocada sob drogas. É absolutamente criminoso.
Deixe-me falar sobre desordem bipolar entre crianças. Como um médico disse, isso costumava ser tão raro que seria quase inexistente. Agora nós estamos vendo isso a todo momento. Os “bipolares” estão explodindo entre as crianças. Bem, em parte você poderia dizer que nós estamos apenas rotulando sem cautela as crianças mais freqüentemente; mas de fato, existe algo realmente acontecendo. Veja aqui o que está acontecendo. Você pega crianças e as coloca sob antidepressivo – que nós nunca costumávamos fazer – ou você as coloca sob uso de um estimulante como Ritalina®. Os estimulantes podem criar mania; os estimulantes podem criar psicose.

SS: E antidepressivos também podem causar mania, como você assinalou.
RW: Exatamente, então a criança pode acabar com uma crise maníaca droga-induzida ou episódio psicótico. Uma vez que elas têm isto, o médico na sala de emergência não diz, "Oh, ele está sofrendo de um episódio induzido por medicamentos." Ele diz que ele é bipolar!

SS: Então eles dão a criança uma nova droga para uma desordem mental causada pela primeira droga?
RW: Sim, eles dão a ele uma droga anti-psicótica; e agora a criança está sob um coquetel de drogas, e ela está em no curso de ficar inválido por toda a vida. Isto é um exemplo de como nós realmente estamos criando crianças doentes.

SS: É como se a sociedade ou suas escolas estejam tentando tornar eles manejáveis e eles acabam pondo as crianças em uma montanha russa química contra sua vontade.
RW: Absolutamente.

SS: Existe um número surpreendente de crianças recebendo Ritalina® para tratar hiperatividade. Mas qual menino de 10 anos de idade confinado em um banco escolar não é hiperativo? Você descreve que o efeito da Ritalina® no sistema da dopamina é bem parecido com a cocaína e as anfetaminas.
RW: Ritalina® é metilfenidato. De fato o metilfenidato afeta o cérebro exatamente do mesmo modo que a cocaína. Eles dois bloqueiam uma molécula que é envolvida na re-captação da dopamina.

SS: Então ambos aumentam os níveis de dopamina no cérebro?
RW: Exatamente. E eles fazem isto com um grau semelhante de potência. Então o metilfenidato é bem parecido com a cocaína. Agora, uma diferença é se você está aspirando isto ou se está em uma pílula. Esse aspecto modifica o quão rápido é sua metabolização. Mas de qualquer forma, basicamente afeta o cérebro de igual forma. Veja, o metilfenidato foi usado em estudos de pesquisa para deliberadamente manipular a psicose em esquizofrênicos. Uma vez que eles descobriram que você podia tornar uma pessoa com uma propensão para psicose, dê a eles metilfenidato, e produza a psicose. Nós também descobrimos que as anfetaminas, como o metilfenidato, podiam criar psicose nas pessoas que nunca tinham sido psicóticas anteriormente.
Então pense sobre isso. Nós estamos dando uma droga para crianças que é reconhecida em ter a possibilidade de ativar uma psicose. Agora, o estranho sobre o metilfenidato e as anfetaminas é o seguinte, em crianças, eles são reconhecidos de produzir um efeito paradoxal. O que a anfetamina faz nos adultos? Torna eles mais nervosos e hiperativos. Por alguma razão, para as crianças as anfetaminas as deixam realmente mais aquietam sua atividade; realmente as manterá em suas cadeiras e as tornam mais focadas. Então você captura as crianças em escolas tediosas. Os meninos não estão prestando atenção e eles são diagnosticados como DDHA e são colocados sob uma droga que é conhecida em promover psicose. A próxima coisa você já sabe, um número considerável delas não estarão funcionando bem quando elas tiverem uns 15, 16, ou 17 anos. Algumas daquelas crianças falarão sobre como se sentiam quando estando sob tais medicamentos a longo prazo, você começa a sentir como um zumbi; você não sente como se fosse você mesmo.

SS: Vazios, emoções embotadas. E isto está sendo feito com milhões de crianças.
RW: Milhões de crianças! Pense sobre o que nós estamos fazendo. Nós estamos roubando das crianças o seu direito de ser criança, o seu direito de crescer, seu direito de experimentar uma ampla possibilidade de plenas emoções, e seu direito de experimentar o mundo no mais amplo leque repleta de matizes de cores. Isso é que é o crescimento, isso é viver a vida! E nós estamos roubando das crianças do seu direito de ser. É tão criminoso. E nós estamos falando sobre milhões de crianças que foram afetadas desse modo. Existem algumas escolas onde algo em torno de 40 a 50 por cento das crianças chegam com uma prescrição psiquiátrica.

SS: Parece um enorme mecanismo de controle social. A sociedade dá às crianças Ritalina® e antidepressivos para subjugá-los e o faz para eles se ajustarem. Por um lado, é tudo controle e conformidade social. Mas também tem um enorme marketing recompensatório.
RW: Você está certo, cria clientes para os medicamentos, e clientes esperados serem praticamente para toda a vida. É assim que estamos sendo informados, certo? Eles são informados que eles vão estar sob essas drogas por toda vida. E num próximo estágio eles sabem, eles estarão sob mais duas ou três ou quatro drogas. É brilhante do ponto de vista capitalista. Também tem uma certa função de controle social. Mas você captura uma criança, e você a torna num cliente, e espero que ela seja um cliente vitalício. É brilhante.
Atualmente nós gastamos com antidepressivos nesse país que o Produto Nacional Bruto de países de tamanhos médio como a Jordânia. Uma quantia surpreendente de dinheiro. A quantia de dinheiro que nós gastamos em drogas psiquiátricas neste país é mais que o Produto Nacional Bruto de dois terços dos países do mundo. Apenas sob esse paradigma mental incrivelmente lucrativo em que você pode consertar desequilíbrios químicos do cérebro com tais drogas. Isso funciona muito bem sob o ponto de vista capitalista para a Eli Lilly. Quando o Prozac® veio para o comércio, o valor da Eli Lilly na Wall Street, sua capitalização, era ao redor de 2 bilhões de dólares. Pelo ano 2000, o tempo quando Prozac era sua droga número UM, sua capitalização alcançou 80 bilhões de dólares – um aumento de quarenta vezes.
Então, o que você necessariamente tem que examinar se você quer compreender porque as companhias farmacêuticas procuraram exaltar essa perspectiva com tamanha determinação. Trouxe bilhões de dólares em riqueza em termos de aumentos nos lucros para os donos e gerentes dessas companhias. Também se beneficia o stablishment psiquiátrico que se fortalece nas sombras dos medicamentos; eles fazem isso muito bem. Existe muito dinheiro que flui na direção daqueles que abraçaram essa maneira de tratamento. Existem anúncios que enriquecem a mídia. É tudo uma grande negociata.
Infelizmente, o custo é a desonestidade na nossa literatura científica, a corrupção do FDA, e o dano absoluto feito contra as crianças neste país tratadas neste sistema, e um aumento de 150.000 pessoas inválidas a cada ano nos Estados Unidos nos últimos 17 anos. Essa é um registro impressionante do dano produzido.

SS: Todo mundo fica rico — as companhias farmacêuticas, os psiquiatras, os pesquisadores, as agências de publicidade – mas os clientes tornam suas mentes drogadas e a danificadas por toda a vida.
RW: E você sabe o que é mais interessante? Ninguém diz que a saúde mental do povo americano está melhorando. Pelo contrário, todo mundo diz que nós temos este problema num crescendo, eles culpam isto às tensões da vida moderna ou algo desse tipo, mas eles não querem examinar para o fato de que nós estamos produzindo doença mental.

(*)Márcia Angell – é autora do livro “A verdade sobre os laboratórios farmacêuticos”, editora Record – faz parte dos livros sugeridos do site umaoutravisao.

(tradução: José C B Peixoto, médico)
Artigo do site www.umaoutravisao.com.br

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FONTE: https://www.umaoutravisao.com.br/artigos/mental/drogaspsic.html