Marginais – Severo Garcia
Severo Garcia, o nosso Carlos Garcia Junior, lança o livro de poemas
"Marginais" em Florianópolis.
"Um livro com textos inscritos nas margens", o que me faz lembrar o poema de Leminski:
Invernáculo
Esta língua não é minha,
qualquer um percebe.
Quando o sentido caminha,
a palavra permanece.
Quem sabe mal digo mentiras,
vai ver que só minto verdades.
Assim me falo, eu mínima,
quem sabe, eu sinto, mal sabe.
Esta não é minha língua.
A língua que eu falo trava
uma canção longínqua,
a voz, além, nem palavra.
O dialeto que se usa
à margem esquerda da frase,
eis a fala que me lusa,
eu, meio, eu dentro, eu, quase.
Mas, vamos aos poemas de Severo:
Contagiar
Queria transmitir alegria, exercer influência sobre a vida, afetar e
atingir quem não se conhece. Corromper os dias e decompor as horas. Poluir mentes com ideias.
Queria ser uma doença contagiosa de reprodução involuntária a
reação alheia.
Queria uma distribuição de probabilidade que dependessem de
parâmetros nunca existentes.
Se o contágio é frequentemente causa de mudanças linguísticas,
contagiar é subverter.
Vida Instante
A cada instante um toque nos revela que somos pouco,
somos muitos.
A cada abraço deixamos uma vida, uma cidade, um planeta.
A cada vida uma incerteza nos mostra que somos muito, somos poucos.
Manifesto
Queria que todos pudessem se tocar sem medo de poder
achar que ser louco é doença, mas que pode ser elogio.
Diríamos: Vai ser louco um pouco e veja se não descobre a beleza mais de perto. Vá batucar, bater palmas, encontrar o riso e pergunte pelo sorriso por onde se escondeu. Abra a porta e pergunte por quem não conhece ou nunca viu. Descubra a comédia no drama e, se possível, ria, ria alto, ria desenfreadamente. Ria.
Manuscrito à margem
A vida humana se revela em estórias.
Ninguém é sozinho um autor.
Não se fabrica assuntos estritamente humanos sem que as teias das relações permitam consequências indefinidas.
É inevitável a ilimitabilidade, assim como o inevitável é ilimitado.
A vida às margens.
Severo Garcia
Por Maria Luiza Carrilho Sardenberg
eu sabia que vc tinha alma de poeta!