A temperança e a escravidão da vontade

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Por Jackson Gomes de Souza

Para início de conversa, qual o problema em satisfazer a (ou uma) vontade? Antes de responder a pergunta, é interessante uma compreensão dos temas que ela aborda. Como este é o primeiro de uma série de textos sobre as virtudes, é interessante retomar a origem do pensamento de Prudêncio (384 a 410, AD), quando, no poema Psychomachia, estabeleceu virtudes, pecados e relações entre eles [1]:

 

Tabela 1: Relação de combate entre as sete virtudes e os sete pecados no poema Psicomaquia, de Prudêncio

E a temperança? Não teria ela também um excesso? Conceitualmente, seria incorreto afirmar um excesso de temperança porque sua definição é justamente a de moderação. Logo, a existência de uma temperança destemperada seria uma absurda contradição. A temperança é o fiel da balança, ou a balança, em si, que não deixa pender para qualquer um dos extremos nem mesmo as virtudes.

O tema da temperança, como virtude, está presente em várias denominações religiosas. Na China, Confúcio encorajava a modéstia e o autocontrole, que também está presente no Budismo e no Hinduísmo. No Cristianismo, representa um dos “frutos do Espírito”, semelhante ao alto-controle (o “L” é proposital). Um pensamento rápido pode sugerir: é óbvia para a religião a necessidade da temperança, uma vez que o pregado “autocontrole” nada mais seria do que mais uma forma de controle, propriamente dito. Entretanto, qualquer entidade que faça uso da temperança dos seus membros como uma forma de controle para si estaria, efetivamente, indo contra o que ela mesma prega, anulando o próprio princípio desta virtude.

Foto: Sebastião Salgado, do livro Gênesis

É inerentemente difícil falar do assunto “autocontrole” considerando o rumo que toma nossa sociedade diariamente. Não sei você, que aqui lê, mas sou da geração que cresceu [“aprendendo” com a mídia]: “tudo que eu quiser o cara lá de cima vai me dar”, “escute seu coração” e “você pode ter tudo o que quiser, basta acreditar”. Pensamentos como estes bem que poderiam estar em livros de histórias para crianças e contos-de-fadas, nos quais, se você estiver do lado do “bem”, tudo dará certo e, para bem dizer, a história terminará bem antes de qualquer sinal de realidade pensar em começar a aparecer – mas não é para isso mesmo que se chama “fantasia”? Isso é assunto para outro momento.

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