Banheiro Adaptado para Pessoas Estomizadas

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A técnica da estomia consiste na abertura de um órgão por meio de um ato cirúrgico, formando uma boca que passa a ter contato com o meio externo para eliminações de secreções, fezes e/ou urina (GEMELLI, 2002).
De acordo com o seguimento exteriorizado, as estomias recebem nomes diferenciados, como no cólon= colostomia, no íleo=ileostomia, na bexiga=urostomia, enfim, de acordo com a etiologia da doença, o cirurgião indica a realização de uma estomia temporária ou definitiva (BEZERRA, 2007). As causas que levam à realização de uma estomia são variadas. Entre as mais frequentes estão os traumatismos, as doenças congênitas, as doenças inflamatórias, os tumores e câncer de intestino e bexiga (GEMELLI, 2002).
A realização da estomia é sempre um acontecimento traumático, pois acarreta mudanças que repercutirão em todos os níveis da vida da pessoa tais como: necessidade de realização do autocuidado com a estomia, aquisição de material apropriado para a contenção das fezes ou urina, adequação alimentar, convivência com a perda do controle da continência intestinal ou vesical, eliminação de odores, alteração da imagem corporal, bem como alteração das atividades sociais, sexuais e cotidianas (MARUYAMA, 2004). A perda do controle esfincteriano, com eliminação involuntária das fezes e urina leva a necessidade de conviver com um equipamento coletor aderido ao abdome, o que os expõe a vivência de diversos constrangimentos sociais. Dentre eles, destaca-se o barulho, a transpiração e os ruídos emitidos pela saída de gases. Além disso, se o equipamento coletor apresentar qualquer falha na qualidade e segurança, ocorre o extravasamento de fezes ou urina pelo corpo. O temor de sujar roupas e de eliminar flatos, com odores considerados desagradáveis em público é predominantemente entre os estomizados (FURLANI, 2002).
Quando uma pessoa fica estomizada, ela passa por algumas transformações em sua vida, e uma delas é a necessidade de um banheiro adaptado, que é o principal ambiente que sofre alterações para atender às suas necessidades. Porém esse tipo de adaptação é raríssimo de se encontrar. Infelizmente, quando se constrói banheiros para portadores de necessidades especiais, geralmente as pessoas só se lembram dos cadeirantes, e se esquecem de que existem deficiências diversas, cada uma com especificidades diferentes (YAMADA, 2012).                Muitas pessoas estomizadas hesitam em sair de suas casas e em ter uma vida social ativa, pois se preocupam em como esvaziar a sua bolsa coletora fora de suas residências. Para um estomizado pode ser estressante utilizar banheiros públicos e pode causar pânico o fato de lidarem com os eventuais vazamentos de dejetos ou urina em banheiros públicos. Portanto, a disponibilização de banheiros públicos para o atendimento adequado aos estomizados pode ser a chave para aumentar a sensação de bem-estar e a reabilitação dos estomizados em sua comunidade. O ideal seria que esses banheiros fossem instalados em hospitais, casas geriátricas, clínicas e todos os prédios públicos (YAMADA, 2012). Só os estomizados sabem a dificuldade em esvaziar a bolsa de estomia, principalmente em banheiros públicos. Ao esvaziar a bolsa, as fezes são despejadas em vasos sanitários normais, e nessa operação, se o estomizado não tiver cuidado, pode ter a roupa respingada. Situação esta que lhe causa constrangimentos.
Assim como em alguns estados, o Pará também disponibiliza de um  Serviço de Atenção à pessoa Ostomizada, que foi implantado em 05/10/2009, funciona no prédio da Unidade de Referência especializada em Saúde (URES)- Presidente Vargas em Belém/PA, tendo como objetivo prestar uma assistência qualificada, humanizada e profissional, buscando a reabilitação das pessoas com estomas intestinais e urinários com ênfase na orientação para o autocuidado, prevenção de complicações e fornecimento de equipamentos coletores e adjuvantes de proteção e segurança. Este Serviço atende estomizados da capital, de outros municípios do estado e inclusive do estado do Amapá. Atualmente o Serviço conta com uma equipe multidisciplinar formada por: médico clínico, enfermeiros, assistentes sociais, psicólogos, nutricionistas, técnicos de enfermagem e agentes administrativos. No entanto, apesar do Serviço ser referência para o estado, também não oferecia um banheiro adaptado para os estomizados.
Em novembro/2012 durante a participação no Curso Educação Profissional em Estomias: conhecendo para melhor cuidar, oferecido pela Divisão de Treinamento e Educação Continuada do Hospital Universitário João de Barros Barreto (HUJBB)- Belém/PA, tive a oportunidade de conhecer durante apresentação da palestrante a importância e a necessidade de banheiros adaptados para estomizados. A partir daí surgiu o interesse em buscar mais informações através de pesquisas na internet sobre a construção de banheiros adaptados para estomizados, conhecer a realidade em outros estados, então tive a ideia de adaptar e implantar um banheiro para essa clientela no Serviço, contribuindo assim com uma assistência humanizada, e assim fazer valer um direito que é estabelecido pela Portaria SAS/MS nº 400 de 16 de novembro de 2009. Outro fator que contribuiu como estímulo para a construção do banheiro adaptado, foi que durante a vivência profissional no Serviço, foi observado e ouviu-se relatos dos estomizados, que os mesmos evitam ir ao Serviço para recebimento do equipamento coletor, consultas com os profissionais da equipe e reavaliação com as enfermeiras, devido a necessidade de ir ao banheiro com frequência por conta da sua condição, já que perdem o controle esfincteriano o que leva a produção de efluente frequentemente e a necessidade de esvaziar várias vezes o equipamento coletor.
Essa situação causa constrangimento, angústia e contribui para o isolamento social, pois temem em sair de casa e acontecer alguma intercorrência. Comumente, em função das limitações impostas pela estomia, eles ficam obrigados a passar a maior parte do tempo em casa. Sendo assim foram vários fatores que me inquietaram e me levaram a colocar em prática essa ideia, ou seja, construir e implantar o banheiro adaptado no Serviço de Atenção à Pessoa Ostomizada. Inicialmente foi feito um projeto para a construção do banheiro adapatado e apresentado a direção da Unidade de Referência Especializada em Saúde (URES) e 1º Centro Regional de Saúde (CRS), que apoiou e autorizou a construção. A partir daí, através de esforços e com algumas dificuldades como apoio financeiro, foi dado início a construção do banheiro (anexo). Hoje apesar de todas as dificuldades e críticas que envolveram a construção do banheiro adaptado no Serviço, pode-se dizer que é uma realidade que se concretizou, onde o grande beneficiado é o estomizado.
Diante de todas as dificuldades que o Sistema de saúde apresenta, percebe-se que ainda é possível através da dedicação, compromisso, respeito e responsabilidade prestar uma assistência humanizada.

Autor: Arthur Lima (enfermeiro)
Colaboradora: Dione Seabra (enfermeira do Serviço de Atenção à Pessoa com Estomizada)
Agradecimentos: Francisco, Edilcinha, Josiany da Costa, Equipe do Serviço de Atenção à Pessoa com Estomizada.