As Cores da Utopia: Da arte à loucura de Reginaldo Bonfim

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EnCena: As Cores da Utopia”, é o titulo do documentário produzido e dirigido por Júlio Nascimento em 2011, narra a história do artista plástico baiano Reginaldo Bonfim – O Louco.

Arte: Reginaldo Bonfim

Reginaldo Bonfim (Salvador, 1950 – 2007) pintava desde os cinco anos de idade e seu trabalho sempre chamou a atenção de todos. Chegou a fazer o Curso Livre da Escola de Belas Artes da Universidade Federal da Bahia (UFBA), mas não se limitou à técnica. Destacava-se pela habilidade de pintar com o que tivesse à mão. Era capaz de variar entre todas as escolas, dominando com excelência as mais variadas técnicas e estilos, com um jeito único de brincar com as cores.

Seu destaque e notoriedade na cidade de Salvador – BA, rendeu-lhe a oportunidade de apresentar seu trabalho em um programa de TV, no Rio de Janeiro. Nesse período teve uma crise. Reginaldo Bonfim foi então diagnosticado com esquizofrenia, passou a ser alvo que fortes críticas e resistência da sociedade, principalmente em Salvador, sua cidade natal. Seu comportamento de falar sozinho enquanto pintava era tido como “excêntrico”.

Reginaldo Bonfim e sua arte

A imparcialidade do Brasil no enfrentamento à questão do sofrimento mental não é novidade. É preciso frisar que a questão não era uma peculiaridade do nosso país, pois a falta de políticas nessa área foi por séculos uma demanda de proporção global, mas, como no resto do mundo, a sociedade brasileira sempre omitiu seu papel de responsabilidade, e preferiu ignorar a situação do louco a enfrentá-la. As políticas nacionais de Saúde Mental são muito recentes. Os primeiros mecanismos eficientes e que proíbem a instauração de manicômios no Brasil datam de 2001.

E não há como negar, e nem a quem culpar. A sociedade só repetiu com Reginaldo o que já vinha fazendo há muito tempo com o sofrimento mental, rotulando-o de louco, asilando-o e o entupindo de medicamentos, de forma frenética e descontrolada.

Arte: Reginaldo Bonfim

O documentário traz um pintor vigoroso, com hábito de pintar à noite (relatado pelo próprio Reginaldo como o horário do dia de maior inspiração), e com verdadeira devoção por um inseparável macacão, sua armadura. São Ideias de Referência de um homem acometido por sua esquizofrenia, ou um capricho de excentricidade do pintor? Ainda me questiono qual a real diferença entre ambos? Se é que existem. E aqui está o perigo da patologização que tem sido disseminada e difundia passivamente por todas as camadas da sociedade, pois é mais fácil justificar nossas ações por meio de uma doença, como se nós todos fossemos vítimas, totalmente passivos e alheios à nossa própria vontade, que aceitar a verdade por trás dos fatos, e assumir nossa culpa e responsabilidade pelos nossos atos.

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