Constatação

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Jandiro Nascimento da Rocha Almeida, membro do Comitê de humanização da Atenção e da Gestão do SUS NA Bahia. Representante da UNEGRO União de Negros Pela Igualdade.

Penso que o processo de Humanização tem que ter vinculado a ele educação de base e espiritualidade, quando falo em espiritualidade, não falo em religião, falo em um ser humano voltado para fazer o bem ao seu próximo. Precisamos desconstruir o modelo da prepotência e da pirâmide hierárquica existente entre os trabalhadores de saúde, que constitui o médico como seu ápice. Enquanto isso não for feito, esse processo fica embargado.
Fala-se muito em formar um sujeito critico e criativo, partindo desse principio vejo que se faz necessário a formação do ser “ser humano”, pois percebo essa ausência evidente em nosso sistema de saúde, seja na rede pública ou privada. A educação permanente tem que sair do papel e ser efetivamente posto em prática, a começar pela academia que dentro das suas possibilidades oferece muito pouco tempo para isso, proponho que possamos analisar a idéia de aumentar o tempo de atuação desses futuros profissionais dentro das comunidades, penso que só assim poderemos dar uma contribuição efetiva dentro desse processo, pois a grande maioria desses futuros profissionais não tem e nunca tiveram contato com os indivíduos que iram encontra na sua prática profissional, e estou falando isso como conhecimento de causa, na minha prática dentro da academia e agora profissional, tive e tenho colegas que se assustam diante de algumas situações de sofrimento humano, e ao invés de prestar o serviço devido, eles expelem esse individuo, assim como falarmos em humanização como essas pessoas?
A professora Carmem Teixeira na sua explanação colocou que os cursos de medicina não discutem política, portanto não discutem o ser humano, se convivermos nas unidades de saúde fica fácil observar o descaso dos profissionais de saúde em relação aos usuários salvo raríssimas exceções, enquanto não fizermos esses trabalhadores se perceberem como usuários, seres humanos, não teremos êxito nesse processo. Ela também colocou que a grande maioria dos estudantes de medicina entra no curso pensando em contribuir com a sociedade e no decorrer dele é que se desestimulam em função da falta de estrutura oferecida, percebo que nesse caso ela está equivocada quando diz que esses indivíduos entram pensando em dar uma contribuição para a sociedade, o que vemos nos cursos de medicina são pessoas na sua grande maioria voltadas ou para o status social ou para o status financeiro, ficando o propósito verdadeiro deixado de lado, e vemos isso desde a formação escolar desses indivíduos, as escolas das quais eles vêem os preparam e os formam para serem médicos ou advogados, não importando a habilidade dos mesmo para tal, e tudo isso é feito com a anuência dos pais que ou já pertencem a essas classes ou tem nos filhos a esperança de resgatar o que não puderam conquistar.
Portanto fazer humanização não passa pela questão financeira essencialmente, basta que tenhamos ações efetivas e claras, principalmente nós dos movimentos sociais, colocando-nos realmente como atores atuantes protagonistas desse processo, fazendo como que os outros atores percebam, interiorizem e externalizem a verdadeira essência do que é ser humano.

Salvador 29 de outubro de 2013