O “Mensalão”, o Assassinato de JFK e os Ataques de 11 de Setembro de 2001: A “versão Oficial” e a “Verdade”.

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As mentiras, pequenas e grandes, contadas em família, ou para toda uma nação, só precisam ser repetidas. Narradas até exaustão elas se tornam um aspecto do hábito, uma característica a mais da realidade. A partir de um certo ponto, recuperar a "verdade" não é mais possível. Porque aí, tudo se tornaria passível de revisão. E o consenso sobre a verdade mas, mais precisamente sobre o real, desmoronaria. Isto não implica em que, tanto o que entendemos como verdadeiro, quanto o logro, sejam misteriosos. Ao contrário, o que é plausível, e evidente, é sempre disponível ao olhar atento. No entanto, como a necessidade é a mãe do respeito, a razão a serva da vontade e a ética o caminho a seguir em meio a tragédia, preferimos a ilusão coletiva…

A prisão dos condenados pelo chamado Mensalão traz de volta uma questão importante. O Mensalão, é a edição brasileira de um expediente amplamente utilizado pelos regimes neoliberais que infestaram a América Latina na década de 90. Como fenômeno histórico, sabemos que em mudanças de regime, ou de legislação (nos países vulneráveis a pressões de nações poderosas) a compra de governantes, militares e líderes políticos, tem sido uma regra.

Mas o ponto central do processo judicial sobre o Mensalão é o que ficou fora dos autos. Nenhuma instituição envolvida na investigação dos fatos buscou saber qual o conjunto de leis que foram aprovadas mediante o pagamento de mesadas. Ora, do ponto de vista do Estado Democrático de Direito isto seria fundamental. A consciência dos deputados e senadores teria sido comprada. Todas a leis votadas no período, então, são ilegítimas e ilegais. Mas ninguém se dignou a formular, e muito menos tentar responder a esta questão.

Deste modo, a justiça se colocou a serviço das disputas intestinais por poder entre as forças que visam chegar ou permanecer no Palácio da Alvorada. A questão central da legitimidade das leis aprovadas mediante pagamento e que os juízes tem de fazer aplicar, ainda hoje, ficou de lado.

Quanto mais estudos os dados oficiais e as evidências científicas sobre o episódio dos ataques do 11 de Setembro de 2001, mais lembro do Mensalão e do assassinato de JFK. Há uma, evidente seleção das evidências com que o senso comum deleita-se sonhando. Não que a maioria das pessoas se deixe enganar. Secretamente todos admitem a suspeita de que o óbvio está sendo ocultado. As pesquisas de opinião demonstram (provavelmente pelo anonimato) que a maioria das pessoas não acredita em “versões oficiais”.

A fantástica versão oficial de que um grupo de terroristas, de credo muçulmano, sequestrou aviões de passageiros e os arremessou contra o Pentágono e as Torres Gêmeas e obteve um sucesso maior do que o planejado, é inconsistente e parcial. Um efeito de tamanha grandeza, não decorre de premissas tão insuficientes. É simples matemática de probabilidade estatística.

O Relatório da Comissão do 11 de Setembro é extenso e fundamentado em milhares de entrevistas e evidências. Afirma que o combustível dos aviões derreteu as vigas de sustentação dos prédios. Não explica como isso foi possível. A temperatura necessária para derreter o aço das vigas de sustentação não decorre da queima de combustível. Nem poderia ocorrer de forma coordenada, no mesmo instante, em todas as colunas. O relatório não explica como as quedas das Torres Gêmeas causou a implosão do edifício número 7 do complexo WTC. 

Além disso, o relatório omite fatos importantes. O primeiro é a questão de quem financiou os atentados. O segundo é as condições em que os prédios desabaram. Recentemente, mais e mais pesquisadores, de áreas multidisciplinares tem apresentado evidências do que todos assistimos pela televisão no dia 11 de Setembro de 2001: Aqueles arranha-céus foram implodidos. Não caíram em função dos choque dos aviões. Na verdade, os prédios foram projetados especificamente para resistir ao impacto de grandes aviões.

Não se trata aqui das famosas “Teorias da Conspiração” que a partir das lacunas da versão oficial, levantam hipóteses majestosas. Elas podem ser reais. Mas são meras probabilidades e tem o defeito de encapsular determinados cursos de conduta em uma aura de magia e presciência que não se observa nem nos fenômenos políticos, nem nos fenômenos da ação humana singular.

Qualquer tentativa de reformular o mundo por meio de ações espetaculares sofre os efeitos não esperados da ação. Mesmo nossas mais íntimas escolhas não tem exatamente as consequências que visamos. Frequentemente acarretam o que desejávamos evitar. Assim, o que quer que tenha de fato motivado o 11 de Setembro (provavelmente dar razões ao governo americano para ocupar e desestabilizar os regimes políticos no oriente médio) o mundo que emergiu destes eventos é diferente do que foi planejado. Além disso ele é parte de um quebra-cabeças, ou mosaico complexo de motivações distintas que convergiram.

Que alguém tenha orquestrado isso tudo de maneira deliberada e consciente é tão improvável quanto a versão oficial. Mas o fato é que a versão oficial visa manter o frágil consenso coletivo sobre a forma convencional de conceber a realidade. Por outro lado, sabemos que a versão oficiosa é a mais plausível.

O assassinato de JFK é um destes eventos históricos em que o consenso tácito sobre a realidade é profundamente perturbado. Depois ele silenciosamente dá lugar a maneira convencional de ver o mundo. Se é mais complexo, apesar de plausível, aceitar que as autoridades políticas e governamentais, se aliem ao submundo do crime para assassinar um governante eleito democraticamente, engolimos felizes a versão oficial. No entanto, se a história pode ser um guia confiável, sabemos que conspirações na corte são uma das causas mais comuns de óbitos entre poderosos.

Como podemos seguir com esta dupla e ambígua maneira de “ver” a realidade? É precisamente porque nós mesmos, nos vemos como seres paradoxais. A incerteza é parte de nossa mais íntima forma de ser no mundo. E assim, podemos ser seletivos. A “verdade oficial” é como qualquer outra. Serve de racionalização ao nosso desejo. E a (in)saciedade e inquietação humana movem a racionalidade, e não o contrário.

A capa da revista Veja deste final-de-semana parece claramente responder ao desejo de vingança, e de retribuição, movida pelo pecado supremo da inveja reacionária. A consequência política da prisão, em regime semiaberto, de José Dirceu e José Genuíno é imprevisível.

De um lado a esquerda tentará agregar o capital simbólico implicado na martirização inédita de operadores políticos que fizeram o que, em nossa história, todos fizeram. De outro, a direita tentará execrar os atores políticos condenados e minimizar as consequências como uma forma velada de impunidade. Outra vez, as forças políticas conservadoras brasileiras escolhem o caminho da incoerência em troca de vitórias localizadas. A hegemonia, atual da centro-esquerda brasileira decorre, em parte, disso.

Ou seja, a esquerda pode ostentar, de agora em diante, que dispõe do único contingente de cidadãos condenados e presos ao lutarem contra a ditadura e ao defenderem, talvez ilegalmente, uma mudança na política que fosse em direção da redução das desigualdades sociais.

Se o mensalão existiu, em parte foi para que quinhentos anos de história de corrupção a favor das elites, fossem intercalados com episódios de corrupção “a favor” da maioria. Lembra bastante o episódio da emenda constitucional que acabou com a escravidão nos EUA.

De resto, seguimos com o tradicional "me engana que eu gosto".