Singularidade Tecnológica ou Transcendência?
Uma espiada cinematográfica. Em abril saberemos o que os executivos de Hollywood imaginam que o grande público pode suportar ver…
Há sistemas inteligentes processando memórias neste exato momento;
Animus, senciência e consciência: um atributo dos seres;
Nenhum ser é artificial;
Tudo o que somos e fazemos é natural, dotado de espírito e capaz de desenvolver o desejo.
Existem motores de busca programados para exercer uma volição controlada. Já vemos máquinas decidindo sobre alvos militares. Logo a decisão sobre matar deverá deixar de ser um prerrogativa humana.
Diante da crescente capacidade de processamento de dados dos computadores pessoais, temos nos encastelado na noção de autodeterminação e autoconhecimento. Pensamos que porque uma máquina não pode emular a autorreferência, nós estamos a salvo como a única espécie autoconsciente.
O problema é que a memória (atributo onde as microprocessadores já nos superaram em algum momento entre 1995 e 2005) ainda é um mistério. Mais difícil ainda de entender é a lembrança. Não sabemos onde é a base física da qual extraímos a informação necessária para formular uma lembrança. Gatos e outros animais experimentam a sensação de estarem sentindo.
Gregory Bateson observou e demostrou que primatas podem brincar e significar, na brincadeira, não existentes conceituais. Como no sentido de um beliscão que denota uma mordida. Ou seja, eles brincam com a ideia de uma representação que no momento da brincadeira não existe. Lidam com uma conotação indireta a um evento, a mordida, que não existe e só tem o sentido lúdico porque é um referente não existente – a mordida de faz de conta – à mordida real, mas imaginada na brincadeira.
Assim, a inteligência e a cognição não dependem da auto-referência consciente. As máquinas não precisam ser sencientes para serem superiores em poder aos humanos. Elas precisam apenas desejar. Como Espinosa ensinou, a potência é a senhora do desejo. Se conhecermos a potência, podemos dominar, ou pelo menos, nos harmonizarmos com o desejo de modo que ele não nos domine. Ou que exercitemos a potência conscientemente.
Se as máquinas podem, em algum momento vão desejar. Mas o desejo sim, é auto-referente. E o desejo da máquina, pode ser um desejo que desconheça o nosso desejo.
Não podemos negar que nossa consideração pelo desejo de outras espécies é incipiente. Decai na exata proporção em que os demais animais se diferenciam de nós mesmos. De modo que podemos amar um mamífero doméstico, como um cão ou um gato, e até uma baleia. Mas não temos quase nenhuma empatia por um crustáceo ou um molusco. É apenas quando antropomorfizamos uma pedra que podemos amá-la.
A máquina, por outro lado, não precisa desejar ser feliz. Assim como um animal que devasta o seu nicho ecológico, não tem que desejar seu fim ao saciar sua fome de alimentar-se ou reproduzir-se. Apenas provoca uma consequência não desejada, a médio e longo prazo, da satisfação de um desejo imediato.
Esta é uma história recorrente na vida. Porque os seres humanos estariam isentos deste fenômeno? Nós causamos a extinção de muitas espécies ao satisfazermos nossos desejos. Também podemos, ao satisfazer nossos desejos, criarmos a espécie que irá nos destruir.
Seguindo a trilha de Bateson: "Afinal, a própria palavra 'animal' significa 'dotado de mente ou espírito' (animus)". As máquinas podem ser abrigos do espírito. Certamente nós as estamos tornando cada vez mais animadas…
Não sabemos se "Transcendence" irá nos trazer um sonho, um pesadelo ou um alerta. Mas estou atento. Pode ser um grande filme.
Por Maria Luiza Carrilho Sardenberg
Querido Marco,
Sou mais partidária do cinema autoral e então fui buscar o diretor do filme. Não encontrei e percebo que isto, hoje em dia, parece não ser mais importante. Outros tempos.
É interessante pensar que todos os filmes deste tipo sempre caminham na linha da catástrofe da aventura humana. Por quê? Os "arrasa-quarteirões" só o são se houver um apocalipse do mal?
E se a transcendência do humano fosse um caso "do bem"?