Hospital: Lugar de Alegria

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Diário de Bordo, 17.1.2014, Hospital de Traumas

Hoje, com os meus melhores companheiros do mundo, tive um dos melhores dias da minha vida, desde quando entrei na Universidade. Com um pouco de saudades, afinal havia um tempinho que eu não atuava, fui entrar no estado de clown, sem saber que a minha melhor atuação estava me aguardando.

E então, já no Hospital Universitário, vestimos as nossas roupas, pintamo-nos com nossas maquiagens, penduramos nossos narizes no pescoço, juntamos energia suficiente para subir nossos narizes e emitir nossos melhores olhares e então… Ao sair da sala onde nos trocamos, nós 6 nos dividimos em dois trios para que dois andares do hospital pudessem ser contagiados com essa emoção e a partir daí tudo que acontecia era mágico! Um pouquinho depois vi que tinha esquecido de passar o batom, mas prossegui na minha atuação.

Já no 3º andar, na visita do primeiro quarto, encontramos um rapaz debilitado que sentia prazer em mostrar as fotos da sua família no celular. Em seguida ele nos mostra uma foto de seu sobrinho, que dissemos que era ele quando pequeno, o que o fez se entrega ao jogo. De repente era o paciente que estava inventado histórias para nós e a gente encantado com aquele sorriso tão espontâneo. A outra mulher do quarto, acompanhante, ora dizia que era da China, ora dizia que era de Paulo Afonso-BA, terra de um forrozinho bom que combina com tudo! Com tudo? Foi o que ela disse, e logo tratamos de arranjar uma boa combinação: Forró + Pagode! Uma dança, com dois pra lá e dois pra cá, ao som de um pagodão fez o riso surgir de uma mistura doida, quando chega uma enfermeira para administrar a medicação do cunhado da chinesa-baiana, ela logo dispara: “enfermeira, ele hoje, vendo os palhaços, chega tá tomando a medicação quietinho, num é? Caramba, ver o nosso trabalho promovendo alegria, encantamento, melhorias, e dando prazer a quem está num ambiente tão indesejável, nos dá força para continuarmos nesse caminho. Antes de sair desse quarto, algo ainda aconteceria! Caiu um papel do meu bolso e quando eu vi era o cartaz de divulgação do processo seletivo, que tinha bem grande em cima “PROCURA-SE”, com uma foto embaixo de Rosinha dos Retalhos… Logo Rosinha se transformou numa criminosa e eu, Zeca Aventureiro, e Pietra Fofolete fomos atrás dela para ela não fugir… Assim partimos para as próximas emoções!

No outro quarto, um sorriso sincero logo nos contagiou. Um paciente com fratura na perna começou a conversar conosco, sobre os ferros da perna, quando de repente percebi que peguei na urina dele (de brincadeira, rsrs) e logo começa no quarto uma competição para ver quem melava o outro de urina… É incrível como do nada surgem lances que podem melhorar a autoestima dos pacientes em um ambiente que é sinônimo de sofrimento, dor e doença. Ainda nesse quarto usamos novamente o cartaz e fizemos de Rosinha uma criminosa e perguntamos ao paciente que machucou a perna se tinha sido ela quem roubou a sua roupa (ele estava só de fralda), mais uma vez ele caiu no riso e então prosseguimos.

De repente uma enfermeira dispara: Corram, venham conhecer Breno! Quando entramos no quarto, seus olhos brilharam e logo vimos brotar um sorriso. Breno conversava conosco, contava histórias e muita gente acumulava na porta do quarto, afinal, risadas no hospital é um pouquinho estranho, mas estamos lutando para tornar isso corriqueiro! Claro que queríamos espalhar aquela alegria, e então convidamos os outros para conhecerem Breno. De repente surge uma mulher arretada do Pernambuco que fazia tanta graça, que todo mundo passou a observá-la. O seu nome já provocava sorrisos, era uma onomatopeia de trovão. E o nome dos seus 9 filhos? Era todos nomes de comida, até quando acaba o cardápio e surge um “Caveirinha”. Como a moça estava afim de brincar, resolvi propor uma troca: o colete dela pelo meu. Ela não aceitou, tirei meu boné, meu cinto, meus sapatos e trocaria tudo por aquele colete, mas ela disse que era uma raridade francesa e não trocava por nada… Tudo bem, tudo bem… Ela pediu para irmos ver o filho dela, era uma criança que demonstrava uma alegria misturada com uma expressão de surpresa, e logo estabelecemos relação! Brincando ele tomou toda sua sopa…

Passando para outro quarto, encontramos uma criança que havia acabado de fazer uma cirurgia. Sem poder falar ela só fazia gestos que expressavam sim ou não. Mas é claro que com essas duas palavras dá pra ter inúmeros conversas e lindos sorrisos… De repente, mostramos aquele cartaz a ela, quando de repente ela lê: PRO-CU-RA—SE! Ela falava! E mais legal ainda era ver a reação dela sem saber decidir se a Rosinha, que tratou ela com tanto carinho deveria ser presa ou não!

Já partindo, Breno manda sua tia pedir para tirar uma foto nossa. De repente, em meio à foto, nossas três companheiras que estavam no andar de baixo aparecem na porta e Breno explode em gargalhadas. Agora todos juntos na foto e ele dispara: Essa foto vou guardar pro resto da minha vida, muito obrigado! Isso não tem preço… O Ensino da Universidade que me perdoe, mas é nesse projeto de extensão que eu encontro meus melhores momentos da vida acadêmica! A mulher que tem nome de onomatopeia de repente volta e se encontra com os outros clowns, logo diagnostica Olívia Traço Preto como gestante e o Breno como pai. Breno danadinho, adquiriu a confiança, engravidou Olívia Traço Preto, e ainda ficou paquerando a rosinha? Eu virei pai de Olívia Traço Preto para defendê-la e obriguei um casamento!

Meus cadarços viraram alianças, o peso que segurava a porta virou almofada da dama de honra, uma mulher que lia a Bíblia em outro quarto virou padre, a chinesa-baiana virou fotógrafa, a tia e a mãe de Breno testemunhas. Casamento pronto, e não demorou muito para os convidados chegaram. Acompanhantes de todos os quartos convergiram pra lá, e de repente chega uma visita especial: o menino que tomou sopa com a gente querendo ver os palhaços, com a sua tia suspendendo o soro. De repente uma gargalhada! De Breno? Não! Do outro paciente que estava no quarto e tentou se esconder todo tempo, e agora também tinha sido cutucado pela humanização.

Após contagiar a todos, partimos para descer os nossos narizes. Eu fiz isso com a certeza de que essa foi uma atuação linda e inesquecível. Ainda sai com a certeza de que o hospital pode ser um lugar lindo e se transformar em diversos cenários, com múltiplos personagens, o que gera ALEGRIA!  É isso mesmo, hospital é lugar de alegria, só depende de mim e de você!

*foram usados pseudônimos para preservar a identidade dos pacientes

Postagem original: https://univasfupi.blogspot.com.br/2014/01/zeca-aventureiro-hut-17012014.html