Análise do Documentário Sicko

0 votos

    O documentário Sicko retrata as diferentes formas de gestão do sistema público de saúde em países europeus e norte americanos. No Canadá, Tommy Douglas trouxe uma nova forma de lidar com a saúde pública na qual passou enfatizar, nas últimas décadas, a prevenção e promoção de saúde. A Grã-Bretanha, após a segunda guerra mundial, investiu na assistência à saúde da população que até hoje oferece assistência universal aos seus habitantes. Neste país, os médicos públicos além de seus salários, também recebem  incentivos financeiros dependendo da eficácia do tratamento ofertado. A França, além da assistência universal da saúde, oferece serviços de atendimento médico domiciliar, babás para mulheres no puerpério. Em contrapartida, um país com a maior democracia do mundo, os Estados Unidos ainda não conseguiu implantar uma saúde pública democrática que atenda as necessidades de sua população. Para realizar do documentário Sicko, o cineasta Michael Moore recebeu milhares de relatos e denúncias de clientes e trabalhadores de planos de saúde revoltados com a política funcionamento dos planos de saúde, dentre as causas, a não aceitação de credenciados, ou a sua exclusão caso tenham uma das centenas de doenças preexistentes listadas por eles.
    Neste país 250 milhões de americanos têm planos de saúde, no entanto, além de pagarem pelo plano ainda são obrigados a gastarem com taxas e franquias, além dos gastos com os remédios e transporte da ambulância. Muitas vezes os planos de saúde se recusam a aceitar a adesão do cliente por justificativas como o peso ou sua altura. A política dos planos exige dos médicos credenciados que mensalmente haja uma média de 10% de recusa de procedimentos, chegando a serem bonificados em caso de aumento dessa média de recusa. Ou seja, utilizam-se do conhecimento médico para favorecer financeiramente os planos de saúde através de recusa de procedimentos.50 milhões de americanos não têm planos de saúde, 18 mil pessoas morrem por ano por não poderem pagar um tratamento. Com isso,  este país mantém um dos piores índices de mortalidade infantil do mundo. Pacientes chegam a ser despejadas dos hospitais, caso não possam pagar pelo tratamento. A senadora Hilary Clinton no governo de Bil Clinton tentou fervorosamente implantar o sistema de saúde universal nos Estados unidos, no entanto, sofreu fortes retaliações. Foram gastos em torno de 100 milhões de dólares pelos planos de saúde com a finalidade de barrar este movimento, além da formação de lobes no Congresso Nacional. A própria Sociedade Médica Americana foi contra a oferta universal de assistência de saúde à população. É sabido que os presidentes dos Planos de Saúde tornaram-se bilionários após entrada no cargo.
    No Brasil, a VIII Conferência Nacional de Saúde em 1986 representou um marco no movimento de transformação  da concepção de saúde por conceber sua amplitude e dinamismo, assim como também levou em consideração diversos fatores que a determinam como a moradia, a educação, o lazer, etc. A partir dessa nova forma de perceber o que é saúde, uma outra grande conquista ocorreu a partir da  inserção da saúde na Constituição brasileira de 1988 passando a ser  um direito de todos e dever do Estado. Após 04 anos todo o movimento de reforma sanitária foi regulamentado em uma Lei Orgânica da Saúde nascendo assim o Sistema Único de Saúde(SUS), um sistema que funciona sob princípios da universalidade do atendimento, descentralização da administração, regionalização, equidade, integralidade, entre outros. Todo esse movimento foi permeado por ideologias nas quais privilegiam o comprometimento com o cuidado em saúde, a amplitude e complexidade de o conceito de saúde, o aspecto relacional, humano do atendimento, a coletividade e a integralidade. Essa percepção mais ampliada do conceito de saúde passou a considerar não apenas a dimensão individual, mas também a regional e relacional, através das quais as esferas macro e micro políticas da sociedade devem ser contemplado
    Os desafios da implementação do SUS têm se mostrado inúmeros, dentre eles a expansão e qualificação da atenção básica em saúde, a implantação e implementação da articulação com os demais níveis de atenção, a consolidação com instituições formadoras para o aprendizado do trabalho interdisciplinar e multiprofissional em cenários do SUS, o incentivo à adesão de práticas que privilegiem a educação e promoção da saúde, dentre outros.
Entraves como gestão despreparada para o cargo em exercício, precarização dos vínculos empregatícios através de contratações de prestadores de serviço, falta de continuidade de programas e projetos sanitários em virtude da alta rotatividade de trabalhadores, falta de incentivo financeiro para o desenvolvimento de ações são algumas das dificuldades encontradas no cotidiano do trabalho.
    Diante de diferenças tão gritantes no que se refere ao investimento e respeito à saúde e vida da população, acredito que ser trabalhador da saúde antes de tudo é ter um compromisso micropolítico com a promoção de criticidade e de mudanças. Não apenas na formação, mas na filosofia e na atitude diante da representação do que é saúde, incorporar novas metodologias na qual considerem a multideterminação da saúde enquanto um processo de construção coletiva, multiprofissional e intersetorial, possibilitando os cuidados em saúde não apenas focados na doença, mas na integralidade de sua vida e de seu contexto. É promover a inserção e o engajamento na comunidade para a formação de uma tessitura de uma rede entre políticos, gestores, profissionais, instituições, usuários e população, na qual através da saúde abre-se um canal para um processo de formação de cidadania. É expandir as formas de percepção e atenção aos usuários de saúde dando-lhes direito à vez e voz, procurar ajudar a transformar o seu sofrimento em esperança, em possibilidades, transformar a alienação em novas visões sobre o que lhe cerca e, sobretudo, sobre si mesmo, a passividade em reconhecimento e luta pelos direitos e dignidade, promover a responsabilidade social.