Serafim Barbosa Santos Filho – Análise do trabalho em saúde nos referenciais da humanização e do trabalho como relação de serviç

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Atividade de Dispersão
RESUMO
Serafim Barbosa Santos Filho – Análise do trabalho em saúde nos referenciais da humanização e do trabalho como relação de serviço
Aluna: Theny Mary Viana Fireman de Araujo
Tutora: Maria do Rosário – [email protected]
Comunidade Alagoas na Rede.

Com a criação da Politica Nacional de Humanização – PNH em 2003, houve um crescente interesse dos pesquisadores sobre o tema “humanização” enquanto campo teórico e metodológico. Então, as recentes publicações vêm apontando e reafirmando a PNH como estratégia de apoio institucional junto aos serviços de saúde, ou seja, as discussões estão se dando em torno do trabalho em saúde, à luz dos princípios da humanização, agregando inovações metodológicas tanto na análise quanto na intervenção do trabalho em saúde.
Nesse artigo o autor tem como foco os trabalhadores da saúde enquanto sujeitos dos processos de trabalhos e das relações institucionais que são estabelecidas, portanto, parte das referências da PNH e de autores que concebem o trabalho como atividade/produção e relação de serviço e o trabalho entendido como “invenção de produtos, de atividades e de si mesmo como sujeitos no mundo do trabalho” (p.12).
Dessa forma, o autor constrói eixos de análise sobre a prática coletiva do trabalho, fomentando a participação ativa dos trabalhadores que são sujeitos dessa atividade analítica, aumentando a capacidade de análise e de intervenção.
A apreciação do autor sobre os conceitos estruturais da PNH articulando e fomentando a base para analisar o trabalho, se delibera nas definições estruturais da PNH enquanto conjunto de princípios diretrizes e dispositivos.
Por Princípio é entendido como o que sustenta e dispara o movimento na política pública, que por sua vez, se fortalece através de três princípios fundantes: transversalidade, indissociabilidade e do protagonismo e autonomia do sujeito.
a) Princípio da Transversalidade indica que há novos padrões de relação e comunicação entre trabalhadores, gestores e usuários, alterando as fronteiras das formas de saberes (erudito e popular) bem como os reconhecimentos dos poderes existentes nos territórios.
b) Princípio da Indissociabilidade aceitação e reconhecimento de que há uma relação inseparável nas formas de cuidar, prestar serviços e gerir os serviços.
c) Princípio da afirmação do Protagonismo e Autonomia do Sujeito é o reconhecimento de que há uma atitude de corresponsabilidades nos atos de gerir, cuidar e prestar serviços com a elaboração de normas e regras para toda coletividade.
Por Diretrizes é entendido como orientações e compromissos de co-gestão na rede de serviços garantindo os direitos dos usuários e a valorizando dos trabalhadores.
E por Dispositivo é a operacionalização e/ou arranjos das ferramentas nos processos de trabalhos.
A inovação da PNH encontra-se na metodologia da “tríplice inclusão” tendo em vista incluir os três sujeitos da saúde (gestor, trabalhador e usuário); o coletivo e os analisadores sociais.
As conceituações da PNH estão voltadas para análise e reorganização dos processos de trabalho visando às transformações nas relações entre os sujeitos, tanto na forma como produz a saúde, quanto na forma de prestar os serviços, assim, a PNH permite mudanças na lógica do trabalho instituído, onde os sujeitos reinventam novas formas de processos de trabalho, então os mesmos que executam os serviços devem ser os mesmos que planejam, pois eles se apropriam do cuidado responsabilizando pelo usuário em seu processo de intervenção na saúde. Com isso essa prática de trabalho se transverte em espaço de invenção e reinvenção coletiva, ou em outras palavras, a PNH perpassa os processos de trabalhos produzindo uma nova forma de fazer saúde e cuidado.
O processo de intervenção da PNH se operacionaliza pela estratégia do “apoio institucional”, que se qualifica na “intervenção” para ajudar as equipes e explorar os “sentidos” do trabalho na vida dos sujeitos, dessa forma a PNH enquanto estratégia intervém no modo de operar, de produzir e de exercer a gestão e consequentemente, estará fortalecendo o coletivo na produção de novos sujeitos.
A função apoio é uma estratégia metodológica para análise do trabalho pela transversalidade, cogestão, protagonismo e tríplice inclusão, visto que o “modo de operar, gera condições concretas para tratar (incluir) as situações-problemas, as diferenças e os conflitos como analisadores de uma dada realidade, operando esse movimento de inclusão com ampliação da capacidade de reflexão e intervenção dos coletivos” (p.14).
Essa função apoio-intervenção da PNH efetiva-se e potencializa-se como campo onde o “trabalho” sendo atividade, perpassado por normas e re-normalizações, visto que, o trabalho é entendido como relação de serviço produzindo efeito na vida das pessoas, em última instância, o trabalho é co-construído pelos atores, portanto, cada sujeito faz seu próprio trabalho, então cada um é gestor do seu próprio fazer, mesmo tendo as normas prévias, as negociações, os debates, e consequentemente, os sujeitos vão se fazendo e aprendendo e aprendendo e se fazendo. A humanização se efetiva nas práticas, nas formas como os sujeitos agem no cotidiano dos serviços então, é no encontro dos sujeitos (trabalhadores e usuários) que a PNH se constrói e se transforma.
Nesse texto, o trabalho é entendido numa perspectiva ampliada da sua finalidade, visto que só haverá produção/relação de serviço se houver mudanças nas vidas das pessoas, tendo em vista que o trabalho visa: a) “produção de serviços para os usuários enquanto valor de uso para atender as necessidades” (p.15); b) a produção enquanto sustentação para a eficiência e, c) a produção de sujeitos que se transformam por suas experiências.
De tal modo, a premissa da PNH passa pela compreensão de que o trabalho e os trabalhadores se fazem e se transformam, com isso o processo de trabalho com qualidade e eficiência vai se dar através da experiência dos trabalhadores. É em torno da questão do serviço enquanto campo de produção de vínculos entre sujeitos na avaliação do processo de trabalho, já que o trabalho deve ser uma via útil/válida para os trabalhadores e os usuários e que em última instância se incluem na inserção-inclusão.
A análise proposta tem como alvo os trabalhadores enquanto sujeitos, verificando como estabelecem suas relações sociais no processo de trabalho ou como eles inserem e incluem de acordo com a modernidade de trabalho induzida pela organização para a transformação da realidade e de cada um. Essa análise mostra o protagonismo do trabalhador e não apenas como executor de tarefas. Então, a análise do trabalho vai permitir verificar as experiências concretas emergindo como “coisa”, produtos, sujeitos e subjetividade.
Os focos de exames estão relacionados ao trabalho como produção de sentido, ou seja, verifica-se qual é a percepção de valor e satisfação no trabalho que o trabalhador possui, uma vez que analisa-se conjunta e profundamente o contexto da produção, dos produtos esperados do trabalho, dos processos de trabalho e das subjetividades.
Outra questão abordada é quanto aos valores éticos como forma de “ajuda mútua”, “respeito” e “justiça”, valores esses que perpassam no cotidiano do trabalho em cooperação e regulam os comportamentos dos indivíduos. A PNH tem por base de sustentação o trabalho em equipe, com redes interligadas de forma cooperativas com saberes e trabalhos afetivos.
Mesmo com todas as dificuldades, os trabalhadores conseguem reinventar formas de fazer a REDE seguir seu rumo (rodando ou balançando), driblando as limitações e articulando as necessidades. Trabalhando na perspectiva da PNH percebe-se que há equilíbrio entre o individual e o coletivo, uma vez que há uma relação de confiança e cooperação. Dessa forma, o trabalho se torna eficiente e eficaz. Além disso, é preciso verificar como a comunicação e subjetividade pode fortalecer o coletivo.
Mostra a informação como estratégia que organiza o trabalho e as relações sociais tendo em vista ver o caráter simbólico onde cada um trabalhador absorve de maneira diferente, uma vez que parte-se do principio de que a informação se comporta e se institui como nexo do processo de trabalho que dá sentido, ressignifica e sustenta as conexões, já que o trabalho em equipe é saber, poder e afeto.
O autor finalizando mostrando que protagonismo dos sujeitos é para levá-los a serem observadores e investigadores do seu próprio trabalho, apropriando-se da prática de analisar e avaliar para atingir: conhecimento dos referenciais da PNH; saber do que está realizando e experimentando; ampliando a formulação dos padrões, parâmetros e indicadores para análise e avaliação e constatar as mudanças ocorridas, quer sejam individuais ou coletivas e a repercussão delas entre os usuários, trabalhadores, gestores e instituições.