O Corpo
O corpo tem a pretensão de ser mais antigo que a religião. Pudera, ele tem ao seu lado evidências de que é anterior a fala, a escrita e a civilização. O corpo quer ser mais antigo que a razão. Pudera, seus irmãos que a desconhecem, embora bichos, conhecem melhor as alegrias da carne e da vida. O corpo tem ao seu lado a luz que ilumina a percepção. A chama que torna o olhar, e não o olho, o órgão da visão.
Parece que a religião e a razão se uniram na filosofia e na teologia para provarem que são mais antigas que o corpo. Desde a instituição do sagrado, religião e filosofia tem travado guerras contra o corpo. Não só morte, mas também dor e sofrimento, trouxeram ao corpo que sujo e mutilado tem sido acusado de culpa pelas dores que suporta.
Não bastando o corpo carregar as chagas da dor que sente, fizeram sagrado o instrumento de sua tortura: Agora, pedem a cada corpo que seu instrumento de suplício seja atirado as costas. E que para a fronteira da morte, cada um carregue sua cruz.
A religião esquece que apenas o espírito é mais antigo que o corpo. Que ele veio de outros corpos e encontrou morada na nossa carne. Se maltratarmos o corpo, por azar e até por sorte, o espírito nos deixará. Por outros campos fará semeadura. Em outros parceiros da existência, fará sua seara.
A religião poderia, como muitos religiosos fazem, cultuar o sagrado mistério e não a iníqua certeza. Verdade profana.
Por Emilia Alves de Sousa
Prezado Marco,
Muito interessante o seu texto. Me fez refletir sobre outra questão ligada ao corpo, o culto à sua estética, levando-o ao padecimento.
Ontem estive numa academia para renovar matrícula e pude perceber isto. Vi alguns jovens, com o corpo já bombando em cima de aparelhos, indo ao esgotamento, numa luta com a resistência do corpo, por um corpo perfeito. Como o corpo sofre!
Pegando carona no seu texto.
Um abraço!
Emília