O Corpo

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O corpo tem a pretensão de ser mais antigo que a religião. Pudera, ele tem ao seu lado evidências de que é anterior a fala, a escrita e a civilização. O corpo quer ser mais antigo que a razão. Pudera, seus irmãos que a desconhecem, embora bichos, conhecem melhor as alegrias da carne e da vida. O corpo tem ao seu lado a luz que ilumina a percepção. A chama que torna o olhar, e não o olho, o órgão da visão.

Parece que a religião e a razão se uniram na filosofia e na teologia para provarem que são mais antigas que o corpo. Desde a instituição do sagrado, religião e filosofia tem travado guerras contra o corpo. Não só morte, mas também dor e sofrimento, trouxeram ao corpo que sujo e mutilado tem sido acusado de culpa pelas dores que suporta.

Não bastando o corpo carregar as chagas da dor que sente, fizeram sagrado o instrumento de sua tortura: Agora, pedem a cada corpo que seu instrumento de suplício seja atirado as costas. E que para a fronteira da morte, cada um carregue sua cruz.

A religião esquece que apenas o espírito é mais antigo que o corpo. Que ele veio de outros corpos e encontrou morada na nossa carne. Se maltratarmos o corpo, por azar e até por sorte, o espírito nos deixará. Por outros campos fará semeadura. Em outros parceiros da existência, fará sua seara.

A religião poderia, como muitos religiosos fazem, cultuar o sagrado mistério e não a iníqua certeza. Verdade profana.