Síntese do texto: Análise do trabalho em saúde nos referenciais da humanização e do trabalho como relação de serviço.

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A Política Nacional de Humanização (PNH) se organiza como princípios, diretrizes e metodologia. São princípios a transversalidade, a relação entre atenção e gestão, e o protagonismo e autonomia dos sujeitos. Entre as diretrizes, como orientações específicas da PNH, temos: a cogestão e o fomento a construção de coletivos e redes. Quanto aos dispositivos, são arranjos de interferência nos processos de trabalho. Metodologicamente busca-se uma tríplice inclusão: inclusão dos sujeitos, dos coletivos e movimentos sociais, e inclusão dos analisadores sociais.
“Parte-se do entendimento do trabalho como espaço de invenção e reinvenção coletiva do próprio trabalho”. Por meio da estratégia do apoio institucional a PNH interfere no espaço do trabalho, como processo interventivo para ajudar as equipes a porem em análise o trabalho. Este é concebido como atividade – marco conceitual que possibilita o entendimento da relação entre o que é trabalho prescrito e trabalho real; ou trabalho como prestação de serviço – capacidade de produzir transformações na vida dos sujeitos. Neste sentido a humanização se constrói no encontro entre sujeitos concretos, situados. Em consequência, o que é mais representativo na análise coletiva do trabalho é sua capacidade de alternar relações de (des)confiança (na esfera dos saberes, poderes e afetos). A PNH propõe, então, a análise coletiva do trabalho através da busca do diálogo institucional, construindo o “agir avaliativo corresponsável”.
O trabalho é analisado pela mediação de indicadores e analisadores, através da exploração das dimensões de valorização, motivação e satisfação, a partir do aprofundamento da análise coletiva do trabalho, avaliando o contexto de produção dos produtos, processos e subjetividades. Tal análise pauta-se pela percepção dos sujeitos como estratégia de caráter ético-político-metodológica. A motivação é entendida como produção de sentido relacionada ao “sentimento de utilidade” no que realiza, aos valores “ético-profissionais” e aos projetos pessoais. Por sua vez, valores éticos regulam e orientam o comportamento concreto dos indivíduos. Por fim, o trabalho, para a PNH, sustenta-se através de relações intra-equipes e interserviços, formando redes de cooperação cuja efetividade é compreendida na esfera das relações de forças e não de formas instituídas.
A dimensão da cooperação é uma das principais bases de constituição de uma equipe, nela existindo aspectos comunicacionais e subjetivos. Comunicação como “intercompreensão mútua entre sujeitos”. Outra dimensão analisadora da organização e relações de trabalho é a informação. Esta tem caráter simbólico e abrange tudo que emerge das relações estabelecidas no e pelo trabalho (conexão de saberes, poderes e afetos), como governabilidade,  conhecimento, processos avaliativos.
Na saúde o uso taylorista das padronizações de processos, protocolos clínicos e fluxos dos usuários no sistema dificultam as relações e a autonomia na organização do trabalho. A análise coletiva do uso das padronizações pode facilitar uma compreensão humanizada das dificuldades que estão em seu entorno, assim como uma produção e uso mais inteligente destes dispositivos. Neste sentido, os protocolos clínicos podem sofrer fragmentação causando dificuldades no atingimento dos preceitos da integralidade e singularidade. Ainda nesta linha de raciocínio, o sistema gerencialista distancia os objetivos fixados dos meios para atingi-los, apresentando uma defasagem maciça entre as prescrições e a atividade concreta, distanciando as recompensas esperadas das retribuições efetivas.