Dona Antônia: se destruírem a Amazônia o mundo adoece

23 votos

Por Sonielson Sousa
Da Redação

dona-antonia.jpg

Dona Antônia das Neves, pensionista, encontrou alegria em projeto que envolve cultura e saúde.
Foto: Sonielson Luciano de Sousa

A marabaense Antônia Alves das Neves, 67 anos, era só alegria nos quatro dias da IV Mostra Nacional de Experiências em Atenção Básica/Saúde da Família, ocorrida em Brasília/DF, de 12 a 15 de março. Esta é a primeira vez que ela viaja pelo projeto "Transformance", idealizado há vários anos pelo galês Dan Baron, que trocou a Europa pelo interior da Amazônia, onde desenvolve mais de uma dúzia de ações focadas em meio ambiente e saúde preventiva.

Uma das típicas representantes das populações tradicionais da região Norte do país, de pele escura, muita disposição e um grande sorriso no rosto, dona Antônia ainda se utiliza de plantas medicinais para prevenir e tratar patologias, como a gripe, diarreias e alergias. “Meu filho, eu uso isso [as plantas] desde menina, aprendi desde cedo, e você ainda vai encontrar muita gente lá em Marabá que usa [ervas medicinais]. Muitas vezes as pessoas estão gastando muito dinheiro comprando remédios e não resolve, sendo que um chá ou uma garrafada poderia atender”, enfatizou.

Viúva há 10 anos, dona Antônia é pensionista e viu na alegria das netas (ao todo ela tem 20 netos) uma forma de enfrentar a morte do marido, vítima de acidente de trânsito. “Passei a ver minhas netas participando desses movimentos do Dan [Baron], e percebi que uma delas chegou até a viajar para a Colômbia, para tentar dizer 'pro' povo lá fora que se destruírem a Amazônia o mundo adoece, e fiquei interessada em participar”, conta, ao relatar sua entrada no projeto que alerta para a necessidade de cultivar as raízes culturais, a produção de arte popular e os laços sociais como forma de se evitar e enfrentar o adoecimento.

Dona Antônia é uma espécie de “faz de tudo” no "Transformance". Ela participa das campanhas de conscientização em Marabá/PA, além de ajudar na organização de eventos e de apresentações. “Sinto uma alegria grande quando vejo minhas netas dançando no grupo, viajando para o Rio Grande do Sul, Santa Catarina, falando da importância da preservação da nossa Amazônia para que o planeta não adoeça”, comenta.

Trabalhadora da roça por muitas décadas, dona Antônia tem uma ligação intensa com o campo, com a natureza. Ela fazia a farinha para o próprio consumo, e só comprava produtos industrializados em último caso. Depois, ao se mudar para a cidade, percebeu que algumas pessoas estavam lutando para preservar estes costumes. “Me disseram que o que a gente fazia ajudava a preserva a natureza e ter uma saúde boa. Comecei a ver valor no que eu tinha feito durante a vida inteira”, conta, para em seguida destacar que outra de suas netas está com uma viagem marcada para Washington (DC). “Ela vai participar de um evento, meu filho, um evento no exterior para alertar sobre o problema que a Amazônia ‘tá’ passando, e o sofrimento e falta de saúde que isso pode levar”, explica.

Recentemente dona Antônia descobriu que estava com um mioma no útero, e teve que fazer uma vasectomia. Por causa disso, viaja constantemente para Belém, onde faz acompanhamento médico. “Mesmo assim, eu me dedico a esse projeto do Dan [Baron], é uma coisa que vejo futuro, que me alegra e também gosto de ver as meninas felizes (em referência às netas). Eu tenho aprendido muita coisa com isso aí, e espero que outras pessoas vejam os benefícios de se viver de forma simples. Com este projeto, minha vida mudou”, finalizou.

Texto originalmente publicado no Portal (En)Cena – A Saúde Mental em Movimento