Desabafo de uma mãe que lutou… mas não conseguiu

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      Depois de um ano e meio ausente estou voltando à rede, mas infelizmente para compartilhar com vocês um desabafo de um coração muito apertado… Se você consentir que eu desabafe aqui, é só continuar lendo esse post.
      No próximo dia 12 de abril completo 20 anos de serviço público. Sou imensamente grata a Deus, primeiramente, pelo meu trabalho, que juntamente ao meu esposo, ajuda no sustento de minha família. Mas apesar de minha gratidão, tenho também motivos para algumas decepções,  infelizmente.

      Em agosto do ano passado solicitei junto ao meu Sindicato que entrasse com um processo para que eu conseguisse 180 dias de licença gestante, pois sendo funcionária regida pela CLT, são concedidos apenas 120 dias. A minha tentativa foi pensando apenas na amamentação, que considero importantíssima, principalmente nos primeiros seis meses de vida.

   Não foi fácil prá mim, pois essa segunda gravidez teve uma particularidade:  Quando tive meu primeiro filho, Lucas, hoje com dez anos, eu tinha bastante leite, e até retirava para guardar na geladeira. Quando eu voltei ao trabalho após 120 dias de licença, nem necessitei pedir ausências de 30 minutos (como é direito) para amamentá-lo, pois minha mãe (que cuidava dele) apenas amornava o leite em banho-maria e dava prá ele, sem problemas. Mas agora, no nascimento da Lavínia, tudo foi diferente. Meu leite só não secou porque eu segui todas as recomendações do médico, inclusive com uso de medicamentos. Por mais que eu quisesse, eu não conseguia retirar leite para armazenar. Está aqui o que considero mais importante se eu tivesse conseguido os 180 dias. Tendo que sair para vir amamentá-la, utilizando carro próprio, estou tendo  muito gasto com combustível, justamente agora que eu mais teria que economizar, pois meu marido está desempregado desde 31 de dezembro do ano passado.
   É nesse aspecto que a licença estendida tanto me fez falta…

  Por outro lado, o desemprego do meu marido até ajudou, pois ele está cuidando da nossa filha. Pagar uma pessoa não temos condições, e na creche próxima de casa a vaga dela está reservada para abril (justamente quando venceria os 180 dias de licença).

   O intrigante no meu caso é que o juiz do fórum trabalhista da minha cidade me concedeu a tutela antecipada, mas por um erro do cartório, não me foi comunicado isso. Eu voltei a trabalhar quando findou os 120 dias e quando já fazia uma semana que eu estava trabalhando, o advogado do Sindicato me ligou e ficou intrigado ao saber que eu não havia sido comunicada… Segundo ele, o cartório "errou feio", pois além de não me comunicar, não notificou a Fazenda. Eu disse prá ele que sabia que havia sido marcada uma audiência, e eu pensava que nessa audiência é que o juiz decidiria em me conceder a tutela ou não. Compreendem o tamanho da situação???

   No dia da audiência, dia 18 de março, o juiz me pediu desculpas pelo acontecido, e percebi o quanto ele ficou consternado com a situação, pois esse erro grave do fórum trabalhista é que deu "brecha" para que o procurador da Fazenda solicitasse junto ao TRT 15 a anulação da concessão que o juiz do fórum da minha cidade já havia me concedido!

  Sexta-feira passada, ao abrir o envelope de notificação em que a juíza do TRT 15 acatou a solicitação do defensor da Fazenda, me deu uma tristeza gente… Pensei que talvez por ser mulher, a juíza teria maior sensibilidade, mas…

  Realmente tenho que concordar que mais 60 dias de licença, agora que minha filha está com quase 6 meses, se torna desnecessária, então, a mim só me resta me conformar.

 Como funcionária pública há quase vinte anos, passei por muitas dificuldades, e hoje, olhando prá trás, eu vejo que juntei alguns tesouros no céu! Isso mesmo, no céu, porque aqui, nesse mundo materialista, nada do que eu fiz nesses anos teve (ou tem) algum valor.

 Quando lembro das vezes que trabalhei por 14 horas seguidas (sem vir  almoçar, acreditem ou não) para concluir o faturamento da farmácia de alto custo, trazendo serviço prá casa nos finais de semana prolongados,  (e sendo motivo de chacota entre os colegas de trabalho) eu me pergunto: será que valeu a pena?

 Quando penso no mês de janeiro de 2005, quando eu fui trabalhar numa segunda-feira, deixando meu filho doente  aos cuidados de minha mãe, para não faltar ao trabalho e atrasar o faturamento, eu também me pergunto: será que valeu a pena?

 Quando eu olho para meu diploma de pós-graduação em gestão em saúde, concluído em uma das melhores universidades desse país, a UNIFESP, e sei que jamais terei a oportunidade de ter um cargo para transmitir meus conhecimentos só porque sou CELETISTA, eu também me pergunto: será que valeu a pena?

   Semana passada mesmo, no site da Secretaria da Saúde, eu vi que está aberto um processo seletivo para articulador, e me interessei na hora, pois preencho todos os pré-requisitos,  mas… não posso, sou CELETISTA.

   De que me adiantou fazer uma pós-graduação na área da Saúde, ter tanta vontade de ajudar, colocando muitas vezes o serviço antes da família? Até que ponto vale a pena? Bem, volto a concluir: juntei tesouros no céu, e graças a Deus é lá, onde nem a traça, nem o tempo podem corromper, que eu espero minha recompensa, se Deus achar que a mereço.

  Não quero que esse desabafo seja visto como coisa típica de “gente reclamona e mal agradecida”, mas eu preciso escrever, eu preciso colocar isso prá fora, entendem?

  Como funcionária da saúde eu vejo o quanto é urgente a elaboração de leis que tratem as pessoas em igualdade, e não pelo “regime jurídico a que pertençam”. Eu não sou um número, eu sou GENTE!

 Na notificação que recebi há uma nota que dz que minha ausência ao trabalho acarretaria "um dano irreparável" ao erário público!

 Ninguém é contratado no meu lugar, então, o único dano que vejo é à minha filha, que não pode contar com a mamãe exclusivamente até os seis meses.

  Eu lutei prá ter esse direito de licença estendida pensando na minha filhinha, apenas nisso. Nunca quis prejudicar a Fazenda, prejudicar o trabalho, nunca!

  Todos que trabalham comigo me incentivaram a lutar por esse direito, a começar pelo meu chefe!

 Quem me conhece sabe a pessoa que sou. Não sou perfeita, claro, mas eu me considero uma "pessoa do bem", e se alguém pedisse prá resumir a minha vida em algumas palavras eu apenas diria como está no meu blog: “Esposa, filha, irmã, mãe, funcionária pública, voluntária da AVCC, ministra de música na igreja católica, amiga e muito, muito sonhadora….”

   Esse é o meu desabafo… desabafo de uma funcionária que ama o trabalho, apesar de todas as dificuldades que só quem trabalha na Saúde Pública sabe compreender… desabafo de uma mãe que lutou, mas não conseguiu…

  E mesmo não conseguindo, quero agradecer a Deus pelo presente maravilhoso que ele me concedeu, pois Ele é o Juiz mais justo que existe, pois ninguém o revoga, não é mesmo?

   Compartilho com vocês a imagem do presente que Deus me deu, e com ela, aceitem uma florzinha, com todo o meu carinho.

 Obrigada por sua atenção.

  Boa noite!

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