MAMOGRAFIA: EXIJA SEU DIREITO!

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1.  INTRODUÇÃO

    Esse post relata uma intervenção realizada durante o Internato de Saúde Coletiva do Curso de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Norte  –  UFRN, desenvolvida pelos doutorandos Fabiano Barros, Jocekleyton Ramalho eVictor Florêncio do 9º período, realizada na Unidade Básica  de Saúde do Golandim I, no município de São Gonçalo  do Amarante –  Grande Natal/Rio Grande do Norte  (RN), coordenado pela profª.  Ana Tania Lopes Sampaio, sob a tutoria da Profª Vyna Maria, preceptoria do médico Roberto Reis e da Enfermeira Maria Katiana.

    O câncer de mama é o mais incidente mundialmente em mulheres e a quinta causa de morte por câncer em geral, sendo a causa mais frequente de morte por câncer em mulheres. No Brasil, o câncer de mama também é o mais incidente no sexo feminino excetuando-se os tumores de pele não melanoma, assim como se estima um aumento tanto de sua incidência quanto de sua mortalidade.

    Conforme o art. 1º da Lei nº 11.664, de 29 de abril de 2008, o Sistema Único de Saúde (SUS) deve assegurar ações relativas a prevenção, a detecção, o tratamento e controle do câncer de mama. Em consonância com o art. 2º, inciso III, da Lei nº 11.664, o SUS também deve assegurar a realização de exame mamográfico a todas as mulheres a partir dos 40 (quarenta) anos de idade.

    Dentro do contexto de atenção integral à saúde da mulher, a mamografia e o exame clínico das mamas (ECM) se configuram como os métodos preconizados para o rastreamento de câncer de mama conforme orientado no Caderno de atenção básica de controle dos cânceres do colo do útero e da mama.

    Entretanto, esse rastreamento ainda é ineficaz como mostrado por Tiezzi uma vez que não tem uma abrangência satisfatória. Dessa forma, Tiezzi sugere investimento na conscientização da população por meio de estruturas como a Estratégia de Saúde da Família (ESF) e o Programa de Agentes Comunitários em Saúde (PACS).

    Dessa forma, essa intervenção teve como objetivos orientar a população sobre o câncer de mama, realizar o exame clínico das mamas, solicitar mamografias para as participantes e chamar atenção para a necessidade de estratégias que visem um cuidado integral.

 

  1. METODOLOGIA

    A construção do roteiro para a intervenção foi feita baseadas nas vivências oferecidas pelo internato de Saúde Coletiva e no contato com a população nas sete semanas do internato.

    A divulgação foi feita na forma de cartaz convidativo implantado na Unidade Básica de Saúde (UBS) como também por intermédio das agentes de saúde nas micro-áreas adscritas, fazendo busca ativa de pacientes que poderiam ser beneficiadas pela intervenção.

    A intervenção teve início com uma conversa interativa entre apresentador e comunidade auxiliada por meio de um banner ilustrativo sendo destacada a importância na identificação em estágios iniciais do câncer de mama e, por isso, a necessidade de adesão ao rastreamento.

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    Em seguida, foi realizada a consulta das pacientes sendo feita uma anamnese em busca de fatores de risco para câncer de mama (conforme preconizado pelo Caderno de atenção básica de controle dos cânceres do colo do útero e da mama), o exame clínico das mamas e a solicitação de mamografias conforme indicação médica.

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    Por fim, foi destinado um dia por mês da rotina da UBS para dá seguindo a intervenção, assim como acompanhar as pacientes atendidas anteriormente.

 

  1. RESULTADOS

     Com a contribuição da divulgação, apareceram dezenas de pessoas para participar da intervenção. No momento da conversa interativa, em torno de 30 pacientes, homens e mulheres, estavam presentes. Eles ouviram atentamente as orientações que nós lhe passamos sobre a importância do auto exame, fatores de risco e rastreio do câncer de mama, e depois puderam tirar suas dúvidas sobre o tema.

   Passando para a etapa seguinte da intervenção – consultas – 17 mulheres foram consultadas. Elas tinham uma média de idade de 49,8 anos (variando de 38 a 68 anos). Todas já haviam feito o exame preventivo do câncer de colo de útero alguma vez na vida, 06 já haviam feito mamografia anteriormente e 03 tinham histórico familiar positivo para câncer de mama.

   A maioria das pacientes se apresentou assintomática nas consultas, sendo que apenas 01 tinha queixa de dor na região das mamas. No ECM notou-se nódulos nas mamas de 02 pacientes. Seguindo a proposta da intervenção, solicitou-se mamografia para as 17 pacientes.

  1. DISCUSSÃO

     Pelo fato do rastreio do câncer de mama ter caráter oportunístico, os profissionais que atendem mulheres com fatores de risco devem sempre se lembrar de fazê-lo. O desconhecimento ou, principalmente, esquecimento disso, podem levar à não detecção precoce de vários tumores que comprometem a saúde dessas mulheres.

    O auto exame das mamas, parte fundamental da detecção precoce, também não deve ser esquecido. Ele, se feito regularmente, faz com que as mulheres busquem ativamente os serviços de saúde quando do aparecimento de um novo nódulo. No entanto ainda é grande o número de pacientes que não o conhecem. Por isso, Unidades de Saúde de Família que tenham suporte para educação da comunidade devem estar sempre reforçando o papel do auto exame, seja por cartazes, campanhas, ou mesmo nas consultas.

     A nossa intervenção também serviu como base para a criação na UBS de Golandim I de campanhas de rastreio de doenças. A princípio, a campanha de saúde da mulher, com rastreio de câncer de mama e colo do útero será mantida, com o planejamento de acontecer 01 vez por mês, solicitando mamografias e realizando preventivos.

    Esses são momentos transversais em que a equipe planeja repetir a intervenção que nós fizemos, para haver uma maior adesão de pacientes, e lembrá-las da importância do rastreio dessas doenças, mas sem esquecer do cuidado longitudinal que acontece durante todo o ano, durante os atendimentos diários que acontecem na unidade, onde são dadas orientações aos pacientes individualmente.

     Esse momento também pode servir de incentivo para a criação de novas campanhas de educação em saúde e rastreio de doenças outras, como uma campanha de saúde do homem visando rastrear casos de câncer de próstata.     Outro ponto a se destacar é que a ideia dessa intervenção só surgiu após o momento da roda de cogestão, contando com a participação dos usuários, profissionais e gestores. Nele, os profissionais e usuários expuseram o problema do baixo rastreio do câncer de mama pela burocracia de se conseguir realizar uma mamografia, e representantes da gestão mostraram a oportunidade, com a recente aquisição do município de um mamógrafo, que poderia suprir toda a necessidade de realização desses exames. São em momentos como esse, de plena comunicação entre gestão, usuários e profissionais, que o SUS mais brilha.

    

  1. CONCLUSÃO

     Pudemos concluir com esse trabalho que a intervenção teve sucesso em chamar a atenção da comunidade para o rastreio de doenças como o câncer de mama e promover um momento transversal de solicitação de mamografias.

 

  1. REFERÊNCIAS

 

  1. Tiezzi DG. Epidemiologia do câncer de mama. Rev. Bras. Ginecol. Obstet.  2009: 213-215. Disponível em: https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-  72032009000500001&lng=en. https://dx.doi.org/10.1590/S0100-72032009000500001.
  2. Brasil. Ministério da Saúde. Instituto Nacional do Câncer. Estimativas 2010: incidência de câncer no Brasil. Rio de Janeiro; 2009.
  3. BRASIL. Lei nº 11.664, de 29 de abril de 2008.
  4. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Controle dos cânceres do colo do útero e da mama / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Atenção Básica. – 2. ed. – Brasília: Editora do Ministério da Saúde, 2013.
  5. Tiezzi DG. Rastreamento do câncer de mama no Brasil: ainda há tempo para refletirmos. Rev. Bras. Ginecol. Obstet.  2013; 35(9):385-387. Disponível em: https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-72032013000900001&lng=en. https://dx.doi.org/10.1590/S0100-72032013000900001.
  6. Marchi AA, Gurgel MS. Adesão ao rastreamento mamográfico oportunístico em serviços de saúde públicos e privados. Rev. Bras. Ginecol. Obstet. 2010; 32(4):191-197. Disponível em: https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-72032010000400007&lng=en. https://dx.doi.org/10.1590/S0100-72032010000400007.
  7. Amorim VM, Barros MB, César CL, Carandina L, Goldbaum M. Fatores associados a não realização da mamografia e do exame clínico das mamas: um estudo de base populacional em Campinas, São Paulo, Brasil. Cad. Saúde Pública 2008; 24(11):2623-2632. Disponível em: https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-311X2008001100017&lng=en. https://dx.doi.org/10.1590/S0102-311X200800110001.
  8. Albuquerque IMN. Perfil de mulheres submetidas a mamografia: contribuição para a enfermagem e promoção da saúde. Texto contexto – enferm. 2004; 13(3:478-478. Disponível em: https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-07072004000300022&lng=en. https://dx.doi.org/10.1590/S0104-07072004000300022.
  9.  Sarti TD, Anderson MIP, Marto RH. Registros clínicos e atenção primária: reflexões frente à abordagem biopsicossocial. APS. 2008; 11(4): 413-20. Disponível em: https://www.aps.ufjf.br/index.php/aps/article/viewArticle/275
  10.  McWhinney IR, Freeman T. Manual de Medicina de família e Comunidade. 3. ed. Porto Alegre: Artmed; 2010.
  11. Silva NR, Soares DA, Rego, JS. Conhecimento e prática do auto-exame das mamas por usuárias de Unidade de Saúde da Família. Enferm. glob.  2013; 12(29):463-476. Disponível em: https://scielo.isciii.es/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1695-61412013000100024&lng=es.