Saúde do Homem: Marque Esse Gol

21 votos

INTRODUÇÃO

Não há dúvidas que os agravos à saúde do homem constituem um problema de saúde pública. Citarei apenas a redução na expectativa de vida e o aumento da morbimortalidade por doenças cardiovasculares como exemplos de duas situações que acometem a população masculina. Isso porque os homens não procuram o serviço de atenção primária, ao invés disso entram através da atenção especializada o que acaba por restringir as ações em saúde à recuperação ou reabilitação do paciente. Ora, acessando o sistema de Saúde por níveis de densidade tecnológicas na média ou alta complexidade temos uma elevação no custo e, por vezes, até mesmo um desfecho não tão favorável caso esse acesso tivesse sido feito pela atenção primária. Privou-se esse homem de ações promoção e proteção. Os resultados são o maior desgaste na família por sofrimento físico e emocional, diminuição na participação econômica com sobrecarga social e redução na qualidade de vida, entre outros.

Dito isto, questionamos de que forma poderíamos modificar o pensamento mágico de invulnerabilidade presente nessa cultura patriarcal do chefe de família. Como levar esse homem, provedor do sustento da família e com horários de trabalho nem sempre compatíveis com o horário de funcionamento das unidades de saúde a buscar assistência primária? Como desfazer a imagem de longas filas para atendimento tão presentes no imaginário coletivo dessa população masculina que não procuram atendimento de forma regular?

Foi pensando nessas questões e percebendo o alinhamento da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem e a Política Nacional de Atenção Básica, que, resolvemos elaborar o projeto de intervenção: “Saúde do homem: marque esse gol pela saúde”. Nosso grupo é composto pelos doutorandos Alex Krambeck Fonseca,  Alexsandro Pereira de Andrade e Carlos Sérgio da Silva  do 9° período do Curso de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN ao final do Internato de Saúde Coletiva, estagiando na Unidade Básica de Saúde do Amarante no município de São Gonçalo do Amarante-RN, região metropolitana de Natal, coordenado pela professora Ana Tânia Lopes Sampaio, sob a tutoria da professora Vyna Leite e preceptorias da médica Verônica Barreto Ferreira e da enfermeira Ana Teresa Amorim. Considerando a baixa demanda de homens que procuram a unidade do Amarante e à Política Nacional à Saúde do Homem decidimos interagir em um equipamento social do bairro onde acontece o futebol. A contribuição do nosso grupo é construir uma linha de cuidado criando o vínculo da unidade de saúde com essa população masculina e divulgar ações de prevenção na comunidade. Assim sendo, cumpre abrir uma porta de entrada na atenção primária e esclarecer sobre o risco de doenças cardiovasculares, urológicas, infecções sexualmente transmissíveis, e pneumológicas.

 

 

METODOLOGIA

Inicialmente procuramos um equipamento social, após o processo de territorialização, que fosse utilizado pela população masculina adscrita, e que preferencialmente estivesse localizado em uma das microáreas da Unidade Básica de Saúde do Amarante. Após contato com a diretoria da Associação Recreativa dos Funcionários dos Correios – ARCO-RN,  recebemos autorização para organizar a intervenção em um campo de futebol localizado dentro desse clube.

wp_20140605_050.jpg

Foto 1: doutorandos do 9º período de medicina da UFRN com o público-alvo da intervenção.

wp_20140509_026.jpg
Foto 2: Associação Recreativa dos Funcionários dos Correios – ARCO

O passo seguinte de atuação foi elaborar mídia impressa própria na forma de folder e recolher cartaz e folders junto à secretaria municipal de Saúde de São Gonçalo do Amarante que seriam devidamente distribuídos na hora e local marcados. Utilizamos dois esfigmomanômetros e dois estetoscópios para medida da pressão arterial, glicosímetro com fitas, material de assepsia e fita métrica, além de questionário qualitativo.  Reunimo-nos com a equipe de agentes comunitários de saúde para que fosse divulgada a intervenção junto à população adscrita. Definimos o horário das 19:00 h na quinta-feira do dia 05 de junho de 2014.

wp_20140605_061.jpg
Foto 3: Equipamentos utilizados e folders para divulgação em saúde.

A ação de prevenção propriamente dita começou ás 19:15 h. Na medida em que os jogadores do time de futebol chegavam, eram apresentados à equipe intervencionista que explicava sobre saúde do homem e os convidavam a se sentarem em cadeiras para preenchimento de questionário qualitativo. Em seguida foram feitas medida de pressão arterial e cintura abdominal, assim como dosagem de glicose via glicosímetro. Foram então apresentados temas da saúde do homem como hipertensão arterial e diabetes e a necessidade de rastreio em adultos. Outra temática abordou a importância do homem procurar os serviços de assistência em saúde na atenção primária. Por fim distribuímos a mídia impressa citada anteriormente. Nosso material didático orientava sobre infecções sexualmente transmissíveis com foco nas uretrites, hepatite B e sífilis, além de sintomas de hiperplasia prostática, tendo como base o escore internacional de sintomas prostáticos – IPSS.

RESULTADOS

O evento foi bem visto pelos participantes e a iniciativa dos doutorandos e equipe da UBS elogiada pelos jogadores. Ficou claro para todos que uma porta se abriu para a criação de vínculo e fortalecimento daqueles já existentes. Os homens estão cientes dos processos de saúde-doença, fato creditado pelas extensivas campanhas midiáticas do Ministério da Saúde e sociedades científicas organizadas. Entretanto, a conscientização de que promover e proteger a saúde é de suma importância e, durante a ação coletiva, percebemos o quanto eles se tornaram sensíveis a essa provocação.
A aplicação do questionário estruturado, baseado nas recomendações da Sociedade Brasileira de Cardiologia para rastreio de risco para hipertensão arterial mostrou que esse grupo de homens está dentro do alvo das políticas de saúde ministerial, ou seja, medidas antropométricas limítrofes e comportamento de risco. Mais de 90% não procuram os serviços de atenção básica e cerca de 60% deles estão com pressão arterial limítrofe. Um dado positivo foi a medição da glicemia capilar periférica aleatória que ficaram todas abaixo de 140 mg/dL.

Dos 14 homens que preencheram o questionário abaixo, 8 disseram que não procuram a UBS porque trabalham e 6 disseram não procurar pelos serviços de atenção básica porque não adoecem, o que reforça os conceitos de invulnerabilidade e o fato dos homens serem os provedores de suas famílias. Entretanto, quando interrogados se seriam capazes de ir até a UBS para consulta de rotina, na possibilidade da UBS criar um horário especial de acolhimento para os homens, 13 dos 14 disseram que iriam, e o único que disse não ir justificou sua decisão por ser usuário do sistema privado de saúde.
Nesse sentido ficou claro para o grupo que a Política Nacional de Atenção Integral À Saúde do Homem precisa ser implementada nas UBS pelo país afora, pois seus estudos são reflexo do que pudemos constatar em nossa intervenção. Além disso, a política auxilia as equipes a adotarem estratégias para a promoção e proteção à saúde do homem e, principalmente, dá dicas de como fortalecer e criar vínculos com essa população específica. Ficamos orgulhosos de termos "entrado em campo" em prol da saúde do homem e de melhores relações entre a UBS Amarante e sua população masculina adscrita.

Os gráficos expostos após o questionário demonstram alguns resultados obtidos na ação

Ação:

wp_20140605_011.jpg

 

wp_20140605_008.jpg

wp_20140605_062.jpg

wp_20140605_052.jpgwp_20140605_078.jpg                 

Questionário Estruturado

Questionário sobre Saúde do Homem
UBS Amarante – Estágio Supervisionado em Saúde Coletiva
Idade: (  ) 20 – 39 anos   (   ) 40 – 49 (   )50-59 (   ) 60-69 (   )70-79
Quantas vezes você procurou atendimento na UBS Amarante este último ano?
(  ) Nenhuma vez (  ) uma vez  (  ) Duas vezes  (  ) Mais que duas vezes
Caso já tenha procurado um posto de saúde do bairro, como você considera o atendimento a você dirigido:
(   ) Ótimo (   ) Bom (   ) Regular  (   ) Ruim (   ) Péssimo.
Adoeceu e precisou ir ao Hospital no último ano?
Sim (  )  Não (  )
Quantas vezes:________________________
Que importância você dá ao serviço prestado pela UBS (Posto de Saúde)  de seu bairro?
(   ) Não faz diferença na minha vida  (   ) Pouco importante
(   ) Importante     (   ) Muito importante.

Já ouviu falar na Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem?
(   ) Não, nunca ouvi falar.
(   ) Sim, pela televisão, rádio ou internet.
(   ) Sim, pelo Agente Comunitário de Saúde e/ou equipe de acolhimento da Unidade Básica de Saúde.
Qual a principal razão que dificulta a sua ida ao Posto de Saúde do seu bairro, para consultas de rotina?
(   ) Trabalho durante o horário de atendimento do posto;
(   ) Não adoeço facilmente e por isso não preciso ir ao posto;
(   ) Não me sinto à vontade para procurar o posto, pois isso é mais comum às mulheres.

Já teve algum problema de saúde? Sim (  )   Não (  ) 
Se sim, qual? (  ) Cardiovascular  (  ) Urológico (  ) Infeccioso  (  ) Cirúrgico

Tem diabetes? Sim (  )   Não (  )  Tem pressão alta? Sim (  )   Não (  )
Fuma? Sim (  ) Não (  ) Se sim, há quanto tempo?_____________
Bebe? Sim (  ) Não (  ) Se sim, há quanto tempo?_____________
Conhece o Agente de Saúde Comunitário responsável por acompanha-lo, bem como sua família?   (   ) Sim  (   ) Não

O Agente comunitário de saúde o incentiva a comparecer e a participar das ações da Unidade Básica de Saúde? (   ) Sim   (   ) Não.
Se a unidade básica de saúde criasse um dia para atendimento dos homens, você iria?
(   ) Sim   (   ) Não, porque?_________________________________________

Alguns resultados obtidos com a aplicação do questionário acima:

 

Qual a principal razão que dificulta a sua ida ao Posto de Saúde (UBS) de seu bairro para consultas de rotina?

 

Se a UBS criasse um dia específico para atendimento ao homem, você iria?

 

Já teve algum problema de saúde? Se sim, qual?

Medida da pressão arterial

 

 

Referências Bibliográficas

DUNCAN,Bruce et al. Medicina Ambulatorial: Condutas de Atenção Primária Baseadas em Evidência. 4ªed. Artmed, Porto Alegre:2013.

Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Estratégias para o cuidado da pessoa com doença crônica: hipertensão arterial sistêmica / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Atenção Básica. – Brasília: Ministério da Saúde, 2013. 128 p. : il. (Cadernos de Atenção Básica, n. 37).

Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Estratégias para o cuidado da pessoa com doença crônica diabetes mellitus / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Atenção Básica. – Brasília : Ministério da Saúde, 2013. 160 p. : il. (Cadernos de Atenção Básica, n. 36).

Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Política Nacional de Atenção Básica / Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. – Brasília : Ministério da Saúde, 2012. 110 p. : il. – (Série E. Legislação em Saúde)

Brasil. Ministério da Saúde.Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem. Brasília, 2008.