A Moral de Vencer
O esporte fornece uma imagem de vencedor que pode ser assumida de modo atemporal. Mesmo que cada um de nós acabe vencido – se a morte for apenas o que tememos – a mitologia da virtude esportiva promete superar o tempo e as adversidades. Mesmo que a história das nações seja uma crônica, surda e suja, de ciclos de queda e ascensão em uma sucessão interminável, vencer uma partida internacional, nos dá a sensação (ilusória e lúdica) de glória eterna que de outra maneira não podemos ter.
Vivemos com água encanada, energia elétrica, algum saneamento básico e confortos que não estão disponíveis para muitos dos sete bilhões de seres humanos que habitam a terra. Assim, podemos nos torturar divertidamente com o dilema de sermos vencedores ou derrotados numa encenação das contingências através de roteiros de jogos e espetáculos. A vida é um show e os heróis, celebridades.
O sentido de ganhar ou perder no jogo é traduzido como um signo momentâneo de nosso valor. A tragédia de um resultado, no âmbito de uma partida de futebol, toma uma dimensão divina e transcendente. Se nossa nação foi humilhada no espetáculo, sentimos vergonha e nos enlutamos. Pois não podemos negar a esperança de sentido que era subjacente a vitória. Se vencedores, nossa virtude e nossa sorte se confundem: Os deuses, ou o destino, estão no final, ao nosso lado.
Ser brasileiro implica numa presunção de alegria e bom humor em meio a limitações, de meios, de potência e de competência. Mas no futebol reina a magia do espetáculo e com ele podemos mascarar o cotidiano com uma imagem de glória e liderança mundial.
Mas independente disso, o jogo é sempre uma simulação da guerra. E a morte de milhares, milhões de pessoas, o enforcamento de um ditador, atentados terroristas, tudo são signos concretos de uma derrota. Ou, quem sabe, a plenitude – em verso e em reverso – da qual ao final, ninguém escapa.
Valores Profanos
Notícias da última semana da Copa do Mundo no Brasil:
– Guerra civil na Síria chega a 170.000 mortos.
– Vexame da Seleção Brasileira na Tragédia do Mineirão!
– Vai a 118 o nº de mortos em ofensiva israelense na Faixa de Gaza.
– Derrotas e eliminações levam torcedores ao desespero em várias partes do mundo.
Nós não podemos escolher
Entre as coisas que acontecem
Aquelas que nos fazem felizes ou infelizes
Há eventos dolorosos e outros alegres
No entanto, o bem e o mal são apenas
Ao fim e ao cabo, uma medida
Para, intermitentes e cambiáveis, valores humanos
E nada mais
