Medicalização fora de controle – vivemos uma epidemia de transtornos mentais?
22/08 | sex | 19h | café filosófico cpfl ao vivo: As origens da medicalização da saúde, com Naomar Almeida Filho
Módulo: Medicalização fora de controle – vivemos uma epidemia de transtornos mentais?
Curadoria:
Mário Eduardo Costa Pereira, psicanalista e psiquiatra. Professor titular de psicopatologia clínica pelo Laboratoire de Psychopathologie Clinique et Psychanalyse da Aix-Marseille Université, França. Livre-docente em psicopatologia do departamento de psiquiatria da FCM- Unicamp, onde dirige o laboratório de psicopatologia: sujeito e singularidade (lapsus). Diretor do núcleo de São Paulo do Corpo Freudiano – Escola de Psicanálise.
Transtorno de pânico, toc, bipolaridade, transtornos alimentares, autismo, déficit de atenção… nos últimos anos e de maneira crescente, estes e inúmeros outros termos da linguagem técnica da psiquiatria passaram a fazer parte das falas cotidianas das pessoas em geral. Estranhamente, são os próprios leigos que procuram ativamente nas referências médico-cientificas disponíveis os termos para definirem seus padecimentos psíquicos. A “fossa”, “a crise existencial”, “a dor de cotovelo”, “a dor de existir”, a angústia, o sofrimento e mesmo as “paixões devastadoras” deixam de ter importância nos processos de subjetivação das dores da vida. Espera-se cada vez mais da ciência a última palavra sobre os males emocionais, doravante descritos como “transtornos mentais”. Estes funcionariam como entidades naturais, absolutamente autônomas em relação a historia do sujeito, a seus conflitos, à cultura, às relações de poder e às tradições simbólicas e culturais. Nesse sentido, o diagnóstico tem uma incidência moral maior e, de certa forma, profundamente tranquilizadora: o sujeito e a sociedade passam a ser vítimas passivas do mal objetivo e exterior que lhes acomete, representado pelo transtorno mental. Ninguém estaria implicado na posição de sujeito do próprio sofrimento.
Sob essa perspectiva, a ação indesejada de condições mórbidas naturais, logo absolutamente alheias a nossa vontade, se imporia à existência e às sociedades. Diante do caráter absolutamente autônomo das forças natureza representadas pelos neurônios, pelos genes e pelos neurotransmissores, questões relacionadas à historia, à cultura, à politica, à ética, à responsabilidade individual e social, aos conflitos humanos e às tomadas de posição subjetiva perderiam, do ponto de vista teórico e prático, qualquer sentido para a elucidação das “patologias psíquicas”.
Mas justamente a imensa proliferação atual de “transtornos mentais” como a insônia, o alcoolismo, a drogadicção, a ansiedade, os transtornos alimentares, a falta de atenção e mesmo a depressão não deveria por si só interrogar de maneira radical tanto a sociedade atual, tanto quanto os sujeitos que dela participam?
Uma consequência ainda mais perturbadora emerge dessa redução do padecimento psíquico a suas dimensões exclusivamente naturais: os diagnósticos psiquiátricos nunca funcionam como meras descrições passivas de estados mentais tidos como mórbidos. Na verdade, a linguagem médica, cada vez mais rapidamente assimilada à língua do quotidiano, termina por constituir e formatar os destinos humanos. Disso decorrem questões fundamentais: quais as incidências sobre as crianças e sobre os demais sujeitos sociais em geral, de uma medicalização desmesurada dos fatos da vida? Que efeitos têm, por exemplo, sobre uma criança e sobre sua família os diagnósticos de “transtornos de déficit de atenção” ou de “transtorno do espectro autista”? De que dispositivos intelectuais e políticos a cultura deveria poder dispor para manter uma certa distância crítica da maciça medicalização da existência verificada nas sociedades contemporâneas?
22/08 | sex | 19h
Origens da medicalização da saúde
Com Naomar Almeida Filho, professor na Universidade da Carolina do Norte, Universidade da Califórnia, Universidade de Montreal e Universidade Harvard e reitor da Universidade Federal do Sul da Bahia.
"O conceito de saúde não é trivial e constitui importante lacuna epistemológica no campo das ciências da saúde. Retomar discussões filosóficas, teóricas, metodológicas e praxiológicas sobre saúde, doença e noções correlatas, como vida e qualidade de vida, sofrimento e morte, cuidado e cura. Avaliar três momentos na história que marcam inflexões na construção da medicalização na cultura ocidental: iluminismo racionalista (Cabanis — início do século xix); pragmatismo científico (Flexner — início do século xx); massificação tecnológica (genômica — início do século xxi).
dicas de livros: terá como base os livros A Ciência da Saúde (Hucitec, 2000) e O que é saúde? (editora fiocruz, 2012). Sobre este último, confira: https://www.youtube.com/watch?v=ntuypb6dzwa
Naomar Monteiro de Almeida Filho é bolsista de produtividade em pesquisa do CNPQ – nível 1ª. professor titular de epidemiologia no Instituto de Saúde Coletiva da UFBa.
Médico, mestre em saúde comunitária, PHD em epidemiologia. Doctor of Science Honoris Causa Mcgill University, Canadá. Professor visitante nas seguintes universidades: Universidade da Carolina do norte, em Chapel Hill, Universidade da Califórnia em Berkeley, Universidade de Montreal e Universidade Harvard. Primeiro titular da cátedra juan cesar garcia da Universidad de Guadalajara, México; professor convidado da maestría en epidemiología da Universidad Nacional de Lanús, Argentina.
Local: Instituto CPFL| cultura (rua Jorge Figueiredo Corrêa, 1632, Chácara Primavera, Campinas – sp);
data: 22 de agosto de 2014;
horário: 19h;
capacidade: café filosófico: 180 lugares;
classificação etária: 14 anos;
transmissão online pelo cpflcultura.com.br/aovivo;
entrada gratuita, por ordem de chegada, a partir das 18h. vagas limitadas;
informações: instituto cpfl (19) 3756-8000 ou em www.cpflcultura.com.br;
Por Raphael
Sim Iza,
Vivemos uma epidemia de transtornos mentais, sofrimento psíquico ou loucura seja lá o nome que preferirem chamar.
Mas eu acho que essa epidemia é como o "bullying", sempre existiu mas antes ninguém dava muita atenção e agora querem chamar esse fenômeno por um nome amenizante, entender, explorar e o pior de tudo… até $$$ lucrar com o sofrimento humano.
Realmente é tranquilizador receber um diagnóstico, (quando esse diagnóstico é correto) pelo menos a pessoa encontra uma forma de enfrentar a doença, ou se preferir que eu diga de outra forma… as características da própria personalidade que de outro jeito a gente finge que não vê… ou pior, deixa escondido no fundo do baú ou trancado num hospício deste nosso Brasil, o país das maravilhas.
Até agora essa foi a postagem que me tocou mais fundo desde que comecei a interagir com vocês, pois eu defendo os CAPS e a Saúde Mental, para muito além da psiquiatria "e das experiências que se não matam entortam…"
Mas preciso dizer que a medicação e o médico que não se ache um Deus…, são de grande ajuda no enfrentamento dessa nossa característica humana… de ser louco, maluco, pirado, mas eu vou te contar um segredo:
As melhores pessoas que eu conheço são assim!
Beijo.
Raphael