Resumo/impressões sobre o II Webinário -O saber em saúde e o cuidado de si: “Tudo que você queria saber e não sabia que já sabe”

17 votos

foto_webinario.jpg

Este foi o primeiro webinário que assisti. E assistir presencialmente foi uma experiência muito rica, e não poderia deixar de expor as minhas impressões.

Participaram do debate: Antônio Cyrino, médico sanitarista, pesquisador de Comunidade e Saúde, e autor do livro: Entre a ciência e a experiência. Uma cartografia do autocuidado do diabetes;  Débora Aligieri, advogada e ativista na defesa dos direitos dos usuários do SUS, e Ricardo Teixeira, médico sanitarista, ex Coordenador da Rede humanizaSUS e Consultor da PNH, que mediou o debate.

No estudo realizado, o médico Antônio Cyrino analisou algumas questões da saúde a partir do que tem percebido nos pacientes que atende.

Uma das suas constatações é que  houve uma mudança nas últimas décadas quanto ao perfil das pessoas acometidas por doenças. Em geral, são pessoas que possuem doenças crônicas, e que precisam cuidar de si, e necessitam do apoio dos profissionais.

Outra constatação é que as pessoas desenvolvem o saber da experiência, um saber  diferente do saber técnico-científico do médico, para melhor lidar com a doença/tratamento. Na concepção do médico, o saber técnico-científico é importante, mas não é suficiente.

“Não podemos negar o saber técnico-científico. Entretanto, o profissional de saúde deve estar aberto para aprender aspectos de quem vive a experiência da doença que é única e singular”. Falou o médico.

Afirmou que os saberes do paciente possuem uma riqueza de produção de vida, uma capacidade que as pessoas desenvolvem para poder resolver as dificuldades impostas pela doença, adquirindo com o tempo uma expertise muito singular.

Falou também da dificuldade de adesão ao tratamento por parte dos pacientes, como é o caso dos diabéticos. Segundo os seus estudos, esses pacientes possuem dificuldades de adequar, acolher as prescrições médicas, pois esses procedimentos nem sempre  se encaixam na sua vida, como as dietas, os medicamentos, os exercícios físicos. O paciente por problemas econômicos, sociais, etc, tendo às vezes que cuidar de outras pessoas, não conseguem cumprir todas as orientações médicas, e nestes casos, o profissional tem que compor com o paciente, buscando estratégias de solução.

“O desafio é construir pontes entre os profissionais de saúde e as pessoas que possuem doenças de longa duração. Os profissionais aprender aspectos de quem vive a experiência de quem tem que conviver com a doença”. Acrescentou.

Débora Aligeiri, portadora de diabetes desde os 9 anos de idade, falou dos saberes que adquiriu com a sua  doença e dos saberes que não sabia que possuía.

“Pacientes são pessoas, não são caracterizações de doenças, não são objetos, são pessoas” Ressaltou.

Acrescentou que quando ficou diabética adulta teve que aprender como lidar com as complicações da doença. Desenvolveu técnicas pessoais para controlar a glicemia, e ter uma qualidade de vida melhor. Entretanto,  não sabia que era dotada desses saberes. Foi a partir dos depoimentos dos pacientes relatados no livro do Antônio Cyrino que,  aprendeu que tinha conhecimentos. Enfatizou a aderência do tratamento, em que as prescrições médicas devem ser discutidas e transformadas, considerando o efeito que o tratamento vai ter na qualidade de vida da pessoa. Acrescentou que nem sempre o paciente tem a vida que o médico pensa que tem, daí a necessidade de uma relação dialógica entre o profissional e o paciente.

“A boa relação médico paciente é muito importante e contribui no controle da glicemia, e influencia a qualidade do tratamento” Finalizou.

Para Ricardo Teixeira, o problema do diabetes não se encerra na prescrição da insulina.

“A vida é uma reinvenção para soluções concretas”. Concluiu o médico.

Essa relação dialógica de troca de saberes e de afetos que o médico estabelece com o paciente é o que a Política Nacional de Humanização prevê na diretriz da Clínica Ampliada.  Um modelo de abordagem que busca valorizar a escuta qualificada, os diversos saberes/competências que o usuário desenvolve acerca da sua doença, discutindo com ele as possibilidades do diagnóstico e do tratamento, fortalecendo a sua participação e autonomia no seu projeto terapêutico.

E certamente, quanto mais forte essa relação dialógica, de confiança estabelecida entre o profissional e o usuário, maior será a adesão e o compromisso de corresponsabilidade no tratamento.

Questionamentos e diversos comentários foram feitos pelos internautas. Uma dos comentários que causou bastante ressonância foi o da Monique Barreto: “Ouvi uma experiência de uma pessoa que não tinha onde armazenar sua insulina. Por ele morar próximo a um rio, cavou um buraco e enterrou as insulinas e todos os dias descobria o buraco”.

Não sei dizer o que mais nos emocionou neste relato, se foi o fato de saber, que em pleno século XXI, alguém ainda não dispõe de um bem tão básico, e que é extremamente importante para o seu tratamento , no caso a geladeira, ou se foi a expertise desenvolvida para resolver o problema. 

O webinário em tela possibilitou uma grande riqueza de conhecimentos sobre os cuidados de saúde, teceu muitas conexões relacionais e qualificou o debate sobre o tema, fomentando, sem dúvida, o protagonismo e o empoderamento dos usuários. Muito produtivo!

webinario_foto.png