Além do lead

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“Apontado como o maior problema do Estado, a saúde pública em Goiás tem nota média de 3,3 para os eleitores goianos, segundo pesquisa Serpes/O POPULAR realizada dos dias 25 a 29 de agosto. Um terço do eleitorado (33,1%) deu nota zero para a área. Apenas 24% consideram que o setor mereça mais que nota 5”.

Esse é lead da matéria intitulada “Um terço dos goianos dá nota zero para o sistema de saúde”, veiculada, na última segunda-feira (1°), na capa do Jornal O Popular. Porém, o título poderia ser ampliado a um âmbito nacional, já que segundo uma pesquisa do Datafolha, divulgada em março, a saúde é tida como principal problema por 45% dos brasileiros.

Já em agosto, o mesmo instituto divulgou que 93% dos eleitores brasileiros avaliam os serviços público e privado de saúde como péssimos, ruins ou regulares. Entre os usuários do Sistema Único de Saúde (SUS), 87% dos entrevistados declararam insatisfação com os serviços oferecidos.

Porém, existem os avanços como acesso superior a 84% na maioria dos tipos de serviços avaliados do SUS. Um olhar que se prende ao “lead” da situação, talvez não consiga enxergar que existe outro lado, talvez menos exposto, mas que tem funcionado.

Dentro de diversas instituições existem inúmeras pessoas que trabalham silenciosamente em prol de uma saúde humanizada, onde o usuário tem voz ativa para apontar melhorias e transformações salutares.

Há um ano trabalho em dois hospitais, um deles, 100% SUS. Dentro das estatísticas com os usuários de janeiro a agosto 93,11% consideraram como satisfatórios os serviços prestados pela unidade, contra 3,86% que avaliaram como razoável e 3,04% ruim.

Certamente não se pode diagnosticar a saúde do país com base nos números da unidade de saúde na qual trabalho, porém, a política solidária, inclusiva e de qualidade ao paciente, aliada às boas condições de trabalho do servidor, em uma gestão participativa tem sido reflexo da qualidade verificada nos números.

Um trabalho que se inicia na portaria e tem seu ciclo findado com o diretor. Temos defendido na unidade, que humanizar, sobretudo está na arte de ouvir: o desespero do parente que procura por notícias; o médico que reivindica melhorias na assistência; do paciente que tem dor; do acompanhante estressado.

Essa arte revela as carências do sistema e da assistência, criando assim pontes que auxiliam no enfrentamento aos problemas das práticas que envolvem as relações interpessoais que permeiam o sistema como um todo.

Dessa transversalidade surge o protagonismo de sujeitos que fazem do Programa Nacional de Humanização, mais do que um compilado de cartilhas guardadas no armário, e sim a praticidade de um sistema que dá certo quando ativado em cadeia, ou seja, todos enxergam as práticas, como direito e dever, apontando mudanças e demonstrando resultados.

Nesse tempo de trabalho, tenho visto diversos pontos que precisam de mudanças concretas. Porém, além do lead, faço parte de um sistema que ouve experiências concretas de humanização que mudaram a forma de enxergar o SUS e a vida.

Posso compartilhar experiências de gente que chegou desesperada e foi ouvida, assistida, e traz imensa gratidão. São por elas e por tantos servidores que ouvem, posso dizer que acredito sim na pesquisa do Datafolha e Serpes, porém, sei que na base da pirâmide da informação existe disposição e dispositivos sólidos de mudar esse cenário.