Caos em Marcha

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Não há nenhum grupo, nem ninguém no comando. Há muitas conspirações. Todas respondem a crença de que é possível dar uma direção ao estado caótico das medidas e valores humanos. Desejos inconfessados de negar as contingências, para atenuar a consciência da finitude, estão na origem da fé. De forma similar as certezas baseadas nas repetições e frequências como são observadas, estão na raiz do ceticismo e da crença. Mesmo o conhecimento, ou saber, que deriva em ferramentas e dispositivos tecnológicos, sejam máquinas, alavancas ou modos de ser e agir, tem origem na inquietação de racionalizar a percepção de si mesmo em um meio hostil e fora de controle. Tendemos para uma ideia irresistível de que possamos sentir a morte como uma espécie de não existente. Pode ser que não exista, mesmo a morte. Mas não seria ao preço de que a vida seja, também, uma ilusão?

Não podemos formular um único pensamento sem estarmos imersos em uma pressuposição de saber. Pressupomos, no mínimo, que o que vemos, seja o espelhamento fiel do mundo real em nossa mente. Cada mente, traria em si mesma uma réplica de si, conhece a si mesmo; e do universo, sabe algo do mundo. Mas sendo ínfimas partes do mundo, como poderíamos ter acesso a qualquer totalidade desse mundo? A suposição é de que o todo está em nós. Partilhando dessa conexão misteriosa com “a verdade”, chegamos a noção de que a morte, mesmo existindo fisicamente, não nos afetaria na alma que é parte do espírito universal onde tudo se fundamenta e existe.

A morte como o fim dos elementos ou da matéria, não deixou evidências de que exista, de fato. Tudo no universo parece se expandir ou contrair, mas sem deixar de existir em essência. Há transformação e movimento, ritmos e frequências, flutuações e oscilações.

Mas a personalidade e essa estranha e familiar, noção de pessoa, parecem ser modulações ocasionais da matéria e não essências eternas. Do ponto de vista físico químico, pensamentos são efeitos das relações entre elementos fundamentais. É assim também que explicamos a existência de metais ou gases: relações entre os elementos fundamentais da matéria, as partículas do que já foi tido como indivisível átomo. Cessadas as relações entre as substâncias, ainda que os elementos permaneçam, eles se organizam em novas formas. Se a consciência se resumir a essas relações a pessoa morre com seu corpo.

E a fé, ou é a reação alérgica ao vazio, um indício de que a consciência seja um sintoma. Ou a pista, para “a verdade” que dá o sentido final para a existência dos seres e suas personas. Assim, a alma que, embora seria transcendente a condição humana, se harmoniza com ela de forma imanente. Ou seja, a fé de que existe “a verdade” e que ela nos redime, corrobora a essencialidade da noção de pessoa e da existência da alma imortal.

Mas seja alma, ou seja espírito, a alternativa cética (que sim, é uma outra forma de fé) indica que ao final todos seremos extintos e tudo será esquecido. Platão e o mendigo terão tido existências e elas, no esquecimento, se equivalem. São, desde já, na visão cética, significativamente iguais. Visto de longe serão indistinguíveis. Da mesma forma como os pioneiros que ousaram se aproximar do fogo e os covardes que prefeririam seguir suas vidas longe de inovações, todos desaparecerão entre as brumas densas das profundezas do tempo.

Direita e esquerda, ateus e deístas, homens e mulheres, jovens e velhos, reis e plebeus… Todos seremos parte de um passado imenso e vasto, onde qualquer lembrança é dissipada na amplidão do vácuo.

Você decide.