“Vidas Roubadas”
Compartilho o vídeo da Daniela Arbex
Daniela Arbex é jornalista do Jornal Tribuna de Minas, autora do livro -Reportagem Holocausto Brasileiro, lançado no Brasil, em 2013. O livro revela uma das tragédias brasileiras mais indignantes: a morte de 60 mil pessoas dentro do maior hospício do país, o Hospital Colônia de Barbacena (MG)
Atualmente, a jornalista realiza uma série de reportagens intituladas "Vidas Roubadas", que contam a história de pacientes que deixaram o isolamento dos hospitais psiquiátricos para começar uma nova vida nas residências terapêuticas.
A proposta do trabalho é discutir o processo de desinstitucionalização na cidade e os desafios da construção de um novo modelo de atendimento – o tratamento em liberdade, para centenas de pessoas excluídas do convívio social por décadas.
O tratamento desumano que era dado aos loucos nos hospícios brasileiros é uma face da história da saúde mental que muito nos envergonha, e não deve ser esquecido. A discussão desta temática tem sido recorrente aqui na Rede, e vale a pena resgatar alguns posts publicados sobre o assunto:
OS MORTOS-VIVOS DO HOSPICIO QUE ENSINAVAM AOS VIVOS SOBRE A VIDA NUA… BARBACENAS NUNCA MAIS!
Por deboraligieri
Emília querida.
Obrigada por trazer ao debate o livro da Daniela Arbex, que foi inclusive ouvida pela Comissão da Verdade a respeito das pesquisas e descobertas que fez para o livro "Holocausto Brasileiro". Achei uma entrevista da jornalista no youtube em que ela menciona que o manicômio em questão era utilizado como forma de se isolar as pessoas indesejadas: negrxs, acoolistas, prostitutas, etc.
Infelizmente sabemos que este não era (e não é) o único exemplo no Brasil de violação dos direitos humanos e de supressão da dignidade humana de pessoas que não se encaixam, por falta de opção ou por escolha mesmo, ao sistema e aos papéis que se pretende que cada um ocupe dentro dele.
Mesmo fora dos manicômios, e às vezes de maneira mais sutil – mas não menos deletéria, quando "incomodamos as pessoas que se acham certas" (lúcida forma como uma das pacientes definiu a loucura neste vídeo que você postou) encontramos como resposta o isolamento. Ontem, durante um encontro de blogueiros e ativistas de saúde, levei cartazes defendendo o SUS com incorporação dos análogos de insulina para os diabéticos, mas recebi uma solicitação para que baixasse esses cartazes por constranger a médica que falava representando a CONITEC (mas acho que incomodei mesmo a organizadora do evento, que é minha amiga inclusive. Liguei no dia anterior para ela avisando que levaria os cartazes e que me manifestaria com respeito, e ela não fez qualquer objeção, e disse que não se preocupava porque me conhecia). Baixei-os em respeito ao bom relacionamento que tenho com ela, mas me senti desrespeitada em meu direito de manifestação democrática, do meu exercício de cidadania. E por isso chorei durante toda a fala das especialistas técnicas da CONITEC. Depois da palestra da Dra. Maria Ines e da Dra. Aline, ambas da CONITEC, a própria organizadora do evento se encarregou de proporcionar uma conversa pessoal com elas. Mas este debate ficou nos bastidores, e mais uma vez a (não) incorporação dos análogos de insulina não teve a repercussão (pública) que eu desejava.
Infelizmente, a existência desses tipos de estabelecimentos manicomiais e a falta de compreensão das manifestações reivindicatórias enquanto defesa da melhoria do sistema de saúde, me passam a ideia de que temos uma democracia ainda muito frágil, muito verde, muito carente de desenvolvimento. A pluralidade de pensamento, que deveria ser desejada enquanto ferramenta de existência digna da humanidade, ainda é combatida.
Acho que continuar a luta por condições dignas de saúde é a melhor forma de construir uma sociedade mais justa, e de "incomodar essas pessoas que se acham certas".
Beijos,
Débora.