Um clássico na rede: “Em nome da razão” (1979)

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"Em nome da razão", o filme símbolo da reforma psiquiátrica brasileira, finalmente está disponível na internet. Há alguns anos procurei este filme por toda parte para exibir em uma mostra de videos que promovi na instituição em que trabalho (veja o cartaz aqui do lado), mas não o encontrei de jeito nenhum. Cheguei até mesmo a enviar um email para o diretor, mas nem ele possuía uma cópia digitalizada. Em 2013, depois de 34 anos de seu lançamento (que ocorreu em 1979), finalmente uma alma bondosa disponibilizou este clássico perdido da nossa história no Youtube. Viva! Comandado pelo grande diretor mineiro Helvécio Ratton (o mesmo de Uma onda no ar, Menino Maluquinho e Batismo de sangue), o filme trouxe à tona, pela primeira vez em imagens cinematográficas, os horrores cometidos, em nome da razão e da ciência, no interior do Hospital Colônia de Barbacena – que agora voltam a ser expostos com o lançamento do livro "Holocausto brasileiro: vida, genocídio e 60 mil mortes no maior hospício do Brasil", escrito pela jornalista Daniela Arbex, também mineira. Importante lembrar que no mesmo ano em que o filme foi lançado, 1979, o jornalista Hiram Firmino começava a publicar, no jornal Estado de Minas, uma série de reportagens que culminou no livro "Nos porões da loucura", outro marco da reforma psiquiátrica. Helvécio, que é formado em Psicologia, na época em que dirigiu o filme estava do 4º período do curso e participava da Associação Mineira de Saúde Mental, através da qual entrou em contato com a realidade do Hospital Colônia. Com um histórico de militância ativa contra a ditadura militar, Helvécio se exilou no Chile por um tempo, regressando ao Brasil pouco antes de filmar "Em nome da razão". Produzido de forma independente, o filme foi gravado em menos de uma semana e contou com o aval da Secretaria Estadual de Saúde Minas Gerais – que posteriormente tentou intervir no processo de edição, sendo impedida. Com relação ao seu conteúdo, este artigo aponta que "o filme se desenvolve a partir das enfermarias e pátios internos, vasculha os corredores, as celas fortes, contrasta a miséria humana e a sofisticação do projeto arquitetônico do manicômio inaugurado, com pompas e honras, em 1904. O som que se capturou foi estritamente o produzido localmente: gritos, lamúrias e relatos impressionantes acerca do cotidiano e das histórias de vida dos que ali resistiam. O foco captura e projeta a fala e expressão dos internos, eventualmente intercaladas pelo depoimento do administrador do hospital acerca das dificuldades de gestão de corpos e subjetividades. Não se escuta a fala dos psiquiatras. Intencionalmente, o diretor ultrapassa a via da responsabilização da equipe técnica e profissional, revelando uma leitura mais desafiante: trata-se de revelar a instituição e seus amplos compromissos com a sociedade que rechaça a loucura e a condena à clausura e à mortificação". Exibido pela primeira vez no III Congresso Mineiro de Psiquiatria, em 1979, "Em nome da razão" chocou a platéia e contribuiu de forma significativa para o fortalecimento do nascente Movimento Antimanicomial brasileiro. Posteriormente, o filme foi exibido em festivais, ganhando diversos prêmios nacionais e internacionais. E desde então circulou, como uma joia rara, pelos grupos de saúde mental do país. Até, finalmente, cair no Youtube. Com vocês, "Em nome da razão"…