RECONSTRUINDO HISTÓRIAS DE VIDAS

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A atuação em saúde demanda práticas humanizadas, por meio de atenção integral e valorização dos diferentes sujeitos implicados no processo de produção de saúde. Aliam-se a estes conceitos a noção de clínica ampliada, a qual propõe a consideração da multicausalidade do processo de adoecimento, assim como, práticas clínicas além do foco da doença. A clínica ampliada também possibilita a tentativa de construção da autonomia e protagonismo dos sujeitos, fazendo com que estes sejam participantes de seu projeto terapêutico (BRASIL, 2008).
Em 1999 foi criado, no Hospital Universitário Professor Alberto Antunes da Universidade Federal de Alagoas (HUPAA/UFAL), pela médica reumatologista Heloísa Vital, o grupo “Reconstruindo Histórias de Vidas”. O mesmo tinha como objetivo a construção de um espaço no qual as pessoas acometidas por doenças reumáticas, acompanhadas pela médica, pudessem verbalizar acerca da vivência do adoecimento, o sentido atribuído ao mesmo e sua possível ressignificação. Ressalta-se que os encontros não eram necessariamente focados na patologia, podendo ser abordados outros temas e estabelecidas outras linhas de diálogo, mesmo não focadas no adoecimento. A médica Heloísa instituiu o grupo por avaliar que o surgimento das doenças reumáticas, as limitações decorrentes das mesmas, mudanças no estilo de vida e na aparência física, muitas vezes ocasionavam sofrimento psíquico nos sujeitos e, portanto, a necessidade de reconstrução de suas histórias de vida. A clínica ampliada preconiza que a atuação em saúde deve não apenas basear-se no combate à doença, mas na produção de vida e possibilitar ao sujeito “inventar-se” apesar da vivência de adoecimento (BRASIL, 2008).
Desde a sua fundação o grupo já passou por modificações e contribuições de algumas categorias profissionais do Hospital, bem como, de alguns cursos da Universidade Federal de Alagoas. Desde 2010, o Grupo é realizado com a parceria do Programa de Residência Multiprofissional em Saúde do Adulto e do Idoso do HUPAA/UFAL, composto por assistentes sociais, educadores físicos, enfermeiros, farmacêuticos, nutricionistas e psicólogos. Os residentes participam ativamente nas atividades de planejamento e facilitação dos encontros. A elaboração e realização das ações acontecem de forma multiprofissional, onde as diferentes categorias dialogam e buscam as melhores formas de operacionalizar as atividades propostas. Ressalta-se que a inserção de distintas categorias profissionais é fundamental para viabilizar práticas de prevenção de doenças, promoção à saúde, bem como, permite um maior alcance da interdisciplinaridade e integralidade nas ações do grupo.
O encontro do grupo acontece mensalmente, onde é trabalhado o tema proposto pelos integrantes no mês anterior. A temática é levada em discussão na reunião multiprofissional e daí são elaboradas ações que atendam as demandas trazidas pelo grupo.  Uma semana antes do encontro, a equipe se reúne com a médica reumatologista Heloísa Vital e são apresentadas as atividades programadas, as quais são discutidas e feita a divisão das tarefas.
A metodologia utilizada é a roda de conversa. Cada integrante é livre para expressar sua história de vida, seus posicionamentos e sentimentos. O tema é então abordado no grupo e daí as histórias são contadas, sendo estas de alegrias ou tristezas, de adoecimentos e de tratamento clínico. O grupo também tem a função de escuta e fortalecimento do que é trazido pelo outro.
Foi proposto pelos participantes no mês de setembro o tema infância, uma vez que estava próximo o Dia das Crianças. A equipe multiprofissional elaborou uma roda de conversa na qual buscava conhecer a história da infância de cada integrante, suas alegrias, tristezas e enfrentamentos. Foram dialogados situações como perda de algum familiar querido, abandono, relação entre pais e filhos, brincadeiras da infância, entre outras. As histórias eram contadas e escutadas pelos integrantes. Em alguns momentos o grupo contribuía para ajudar a dar novos sentidos a história contada pelo integrante, de modo que este reelaborasse sua vivência e apresentasse ou não novos olhares para a situação contada.
Observa-se a criação de vínculos e afetos no grupo e valorizam-se os saberes produzidos nos encontros, sejam eles por parte dos profissionais de saúde que participam ou dos usuários. As relações estabelecidas são horizontais e a atuação não é fragmentada por categoria profissional, mas no grupo todos são vistos enquanto profissionais de saúde que contribuem na discussão da temática sem delimitação de área saber.

 

EQUIPE MULTIPROFISSIONAL
Bárbara Tereza Brandão Guerreiro Barbosa (Psicóloga)
Franklin De Oliveira Lima (Psicóloga)
Isis Brandão Tenório (Assistente Social)
Mariane Moraes Oliveira (Enfermeira)
Sineide Maria Santos Farias (Farmacêutica)
Shyrlley Nayara Martins Da Silva Sapucaia (Assistente Social)
Tassia Tatianna Dionizio Firmino (Farmacêutica)
Tereza Lays Cavalcante Calheiros De Melo (Enfermeira)

 

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