O MELHOR DE NÓS

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O ato de sentar em roda é algo que acontece naturalmente entre pessoas que desejam compartilhar suas histórias, suas conquistas. Este momento de circularidade no qual, a comunicação cultural permeia os diálogos se fez presente novamente na 4ª. Roda de Conversa sobre o SUS que temos e o SUS que queremos.

Como bons andarilhos, no ultimo dia 29 de novembro esta roda aconteceu na fronteira entre Ermelino Matarazzo e São Miguel Paulista, mais precisamente na comunidade da Vila Nossa Sra. Aparecida/Vila Santa Inês no espaço Sócio Educativo “Varre Vila”, projeto que faz parte do coletivo São Paulo da ANEPS de Educação Popular em Saúde.

Desenvolvendo ações no âmbito da saúde coletiva, o espaço físico traduz as concepções que permeiam o projeto: Sustentabilidade e Meio Ambiente, Acesso a Cultura Geral, Participação Social, Promoção e produção de saúde dentre outros fatores que mobilizam a comunidade.
Frente à apresentação do espaço e das ações promovidas pelo projeto, o próprio ambiente proporcionou o mote de reflexão deste encontro: Articulação (Moradores, poder público e empresários), empoderamento dos cidadãos e formação política e social.
Assim, após os debates o grupo destacou as seguintes propostas:
• Articulação e divulgação das ações/projetos que visam à saúde integral
• Fortalecimento entre a educação ambiental e a Rede SUS
• Esclarecer a população do papel e atribuições das ACS
• Fortalecimento da participação por meio da formação tendo como base o levantamento das necessidades reflexivas do coletivo.

Esse debate contou com as contribuições da Iya Cristina (RENAFRO), Lourdes (Universidade Popular de Arte e Ciencia), Luzia Aparecida e Adriana Almeida (ANEPS/SP), Silvana (ACS da Vila Isabel), Aragão, Ozana e Sergio (Varre Vila), Sueli Silva (Conselho Tutelar de Guarulhos) e Stella M. Chebli (HumanizaSUS). E para alimentar o nosso corpo (Maria Aparecida, Maria de Lourdes e Katia) prepararam o almoço pra nós.

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Sobre o Varre Vila:
“Havia muito lixo e entulho espalhados pelas ruas e a população tinha se acostumado a conviver com isso. Decidimos começar um trabalho de convencimento com os moradores para cuidar do lugar. Inicialmente foi um mutirão de limpeza na Vila e depois a manutenção diária. Hoje temos financiamento da empresa de lixo local, a partir dos recursos da educação ambiental que as empresas coletoras de lixo são obrigadas a realizar.” – relata Ionilton Gomes de Aragão, mais conhecido como Aragão, morador e um dos coordenadores do projeto.
Do simples ato de manter a frente das casas limpa e dar o destino certo ao descarte de entulho e bagulho, o projeto cresceu, conta com a parceria das escolas locais e com as UBS por meio das Agentes Comunitárias de Saúde. Constitui parceria com outro projeto “Mundo em Foco” que contempla artes, vídeo, literatura, mídia, utilizado por 3 coletivos culturais.
“A Vila não tem nenhum espaço cultural, então uma vez por mês temos exposição de algum artista, cinema (Cine Tiquinho), fotografia” comenta Ozana, moradora e interlocutora entre os projetos.
Agora, após dois anos do início do Projeto a comunidade está demandando formação política… “O nosso trabalho foi o de empoderar as pessoas, então quando o cidadão começa a cobrar, é isso mesmo, está empoderado e demanda mais coisas”, diz Aragão. Para isto, atualmente os varredores estão em atividade formativa utilizando a ferramenta do Teatro do Oprimido, “porque a grande sacada é uma boa abordagem da população, já que a sensibilização é um processo” afirmam os coordenadores.
Belo projeto de saúde coletiva, produção de novos sujeitos, produção de saúde, empoderamento dos cidadãos. Os usuários participam dos colegiados gestores das unidades de saúde e do Fórum de Desenvolvimento local!

 

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Ao final do encontro, Luzia, entregou para cada um de nós uma bonequinha de pano (“Isto é o melhor de mim”, dizia).
Posteriormente, nos contou a história/estória da boneca ABAYOMI:

A história que eu vou contar agora começou a centenas de anos em um tempo que pessoas eram comercializadas como coisas e obrigadas a trabalhar e servir em todos os sentidos a outras pessoas economicamente mais fortes. Os africanos foram trazidos da África para o Brasil em grandes navios, atravessando o oceano Atlântico, com fome, sede, calor, medo e esperança. Eram viagens difíceis, longas e cansativas, e muitas pessoas vieram com a roupa do corpo. Algumas viagens duravam meses.

Muitas pessoas nem chegaram, morreram no caminho. As crianças choravam assustadas, porque viam a dor e o desespero dos adultos. As mães negras, então, para acalentar as crianças, rasgavam com as próprias mãos tiras de panos de suas saias e faziam as bonecas para as crianças brincarem.
As Abayomi são pequenas bonecas negras, feitas de tecidos, sem costura, sem cola, só com nós ou tranças.

A palavra  Abayomi tem origem Ioruba. Abay=encontro + omi=precioso.  Dar uma boneca Abayomi  é um ato de nobreza;  é dar a uma pessoa aquilo que de melhor temos a oferecer, então se as mães negras ofereciam as bonecas em sinal de amor, carinho e consolo arrancando com as unhas pedaços de suas roupas, imaginem quão nobres eram os sentimentos destas mãos…
Embora os africanos sejam muito religiosos neste caso a boneca não tem nada a ver com suas crenças, era na realidade uma forma de acalento para amenizar a travessia…

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Para uma aproximação ao Projeto Varre Vila acessem:

Texto escrito à seis mãos: Luzia Aparecida, Adriana Almeida e Stella Maris Chebli

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