QUESTÃO DE PRIORIDADE NO CUIDAR DO IDOSO E DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA NO CONTEXTO FAMILIAR.

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O dia a dia no exercício do papel de secretário municipal do idoso e da pessoa com deficiência, bem como na responsabilidade direta sobre idosa em casa, tem me apresentado nuances multifacetados do que representa o compartilhamento de tarefas na demarcação de prioridades quanto aos cuidados para com essas pessoas no contexto familiar. É fato que as políticas públicas contemplam garantias fundamentais de acesso aos serviços em unidades de atenção básica de saúde, reabilitação, assistência social, educação, cultura, lazer e inclusão social, contudo, sem a efetiva e responsável participação de seus familiares, o que se observam são situações de negligências com teores nada humanísticos.
É comum se ver diante de relatos de episódios conflitantes no meio familiar, quando seus personagens travam batalhas ferrenhas na divisão de bens materiais que envolvem partilhas com idosos e pessoas com deficiência, embora se saiba que a legislação determine garantias especiais às partes vulneráveis. Curiosamente, não se constata a mesma disposição, quando se trata da divisão de responsabilidade para que esses mesmos atores assumam compromissos com as prioridades de cuidados para com seus familiares com dependência funcional/intelectual para desempenho das atividades cotidianas.
No caso de crianças com deficiência, frequentemente, são as mães que acabam assumindo a total responsabilidade de cuidado e acompanhamento do filho deficiente, abrindo mão da própria vida profissional e social, para se dedicar prioritariamente à sua cria. Em contrapartida, raros são os pais que se dispõem abrir mão da vida pessoal, social, para se dedicar ao filho deficiente/dependente na fase da infância e adolescência, como se responsabilidade ética/moral não tivessem. Não me ocorre que se trate de questão de gênero, até porque existem nobres exceções, que sinalizam grandeza de espírito, maturidade, sabedoria, reconhecimento da situação como oportunidade para resgates cármicos de vidas passadas.
O mesmo se pode observar em situações que requerem o compartilhamento de atenção, cuidado e dedicação prioritária aos idosos da família da gente. Há casos de total abandono, até mesmo pela parte dos filhos, que deveriam se lembrar da própria infância, quando foram cuidadosamente atendidos pela mãe ou pai. Mesmo que não tenham recebido atenção considerada ideal, especial, foi-lhes ofertado o melhor que seus progenitores possuíam, não cabendo julgamentos e retribuições na exata medida recebida. Nobreza de espírito é sempre bem-vinda e da Lei do Retorno ninguém escapa!
Há quem sempre alegue compromisso com o corriqueiro para se esquivar da necessidade de estar presente, fazendo companhia, simplesmente emprestando ouvidos para seus familiares idosos, mesmo se servindo de seus bens materiais para fins de moradia, manutenção de despesas de casa, ou de prestígios sociais a eles associados. As necessidades de cuidados do idoso não podem ser postergadas, deixadas para ocasião em que não se tenha nada mais interessante para se fazer, cumprir, ou onde gastar energias, atuar. Necessidades que variam das humanas básicas de Maslow, como de manutenção de padrões em higiene pessoal, ingestão de água, alimentos, auxílio na deambulação e medidas preventivas de quedas, entre outras, que demonstram fragilidades da idade avançada.  
Não tenho dúvida que se trata de uma questão de empatia que, segundo o Dalai Lama, é a capacidade recíproca que todos possuímos. A incapacidade de suportar a visão do sofrimento do outro, participar da dor dos outros. Paralelamente à nossa capacidade natural de empatia com os outros, também temos necessidade da bondade deles, mais aparente quando somos muito jovens e quando ficamos velhos, basta que fiquemos doentes para lembrarmos como é importante que nos amem e cuidem de nós.  Quanto mais acentuarmos nossa capacidade de sensibilidade para com o sofrimento dos outros, menor será nossa tolerância para com a visão da dor alheia e maior o nosso empenho em garantir que nenhuma de nossas ações prejudique quem quer que seja.
Wiliam César Machado
Secretário Municipal do Idoso e da Pessoa com Deficiência – Três Rios/RJ