Clínica ampliada, porquê e para quem?

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Porque hoje há necessidade da proposta de uma Clínica ampliada e compartilhada? 

De modo geral, quando se pensa em clínica, imagina-se um médico prescrevendo um remédio ou solicitando um exame para comprovar ou não a hipótese de determinada doença, um diagnóstico. No entanto, a clínica precisa ser muito mais do que isso.
Todos sabemos que as pessoas não se limitam às expressões das doenças de que são portadoras e alguns problemas, como a baixa adesão a tratamentos, as iatrogenias (danos), os pacientes refratários (ou “poliqueixosos”) e a dependência dos usuários dos serviços de saúde, entre outros, evidenciam a complexidade dos sujeitos que utilizam serviços de saúde e os limites da prática clínica centrada na doença. A OMS já excluiu o conceito de saúde referente apenas a ausência de doença. E é isso que devemos trazer para o nosso cotidiano como usuários e servidores do Sistema de Saúde atual. 
É certo que o diagnóstico de uma doença sempre parte de um princípio universalizante, generalizável para todos, ou seja, ele supõe alguma regularidade e produz uma igualdade. Mas esta universalidade é verdadeira apenas em parte. Isso pode levar à suposição de que sempre bastaria o diagnóstico para definir todo o tratamento para aquela pessoa. Entretanto, como já dizia um velho ditado, “Cada caso é um caso”, e esta consideração pode mudar, ao menos em parte, a conduta dos profissionais de saúde.
Por exemplo: se a pessoa com hipertensão é deprimida ou não, se está isolada, se está desempregada, tudo isso interfere no desenvolvimento da doença. Nossos famosos e já conhecidos Determinantes Sociais da Saúde. O diagnóstico pressupõe uma certa regularidade, uma repetição em um contexto ideal. Mas, para que se realize uma clínica adequada, é preciso saber, além do que o sujeito apresenta de “igual”, o que ele apresenta de “diferente”, de singular. Inclusive um conjunto de sinais e sintomas que somente nele se expressam de determinado modo. O que hoje infelizmente não acontece no atendimento da maioria dos profissionais. 
Muitos  tendem a considerar tudo o que não diz respeito às doenças como uma demanda “excessiva”, algo que violentaria o seu “verdadeiro” papel profissional. A Clínica ampliada não desvaloriza nenhuma abordagem disciplinar. Ela busca integrar várias abordagens para possibilitar um manejo eficaz da complexidade do trabalho em saúde, que é necessariamente transdisciplinar e, portanto, multiprofissional. Ou seja, trata-se de colocar em discussão justamente a fragmentação do processo de trabalho e, por isso, é necessário criar um contexto favorável para que se possa falar destes sentimentos em relação aos temas e às atividades não-restritas à doença ou ao núcleo profissional.
A proposta da Clínica ampliada e compartilhada engloba os seguintes eixos fundamentais:
1. Compreensão ampliada do processo saúde-doença;
2. Construção compartilhada dos diagnósticos e terapêuticas;
3. Ampliação do “objeto de trabalho”;
4. A transformação dos “meios” ou instrumentos de trabalho;
5. Suporte para os profissionais de saúde;

Portanto prevê a integração da equipe multiprofissional, a adscrição de clientela e a construção de vínculo entre profissionais e usuários na elaboração de projeto de cuidado. 

Hoje temos que um dos esforços da Política Nacional de Humanização (PNH) está na possibilidade de retomar o papel central do sujeito enfermo dentro das práticas terapêuticas do sistema de saúde, e dos trabalhadores como protagonistas que têm como responsabilidade operar no sistema, mediando relações e construindo práticas que estimulem a participação. O termo humanização no interior da PNH engloba as seguintes perspectivas: valorização dos diferentes sujeitos implicados no processo de produção de saúde: usuários, trabalhadores e gestores; fomento da autonomia e do protagonismo destes sujeitos; aumento do grau de co-responsabilidade na produção de saúde e de sujeitos.

 

(Fonte: Clínica ampliada e compartilhada / Ministério da saúde, secretaria de atenção à saúde, Política nacional de Humanização da atenção e Gestão do SUS. – Brasília : Ministério da saúde, 2009)