Rede de diálogo

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As propostas de humanização reconhecem que nesta área existem conflitos quanto à concepção, organização e implementação do cuidado à saúde, sendo que o tratamento de pacientes pode ir desde o uso de uma linguagem técnica e impessoal, de difícil compreensão, até uma postura autoritária, que infantiliza os usuários, passando pela indiferença – quando, por exemplo, os profissionais de saúde não chamam os pacientes pelo nome ou não olham em seus olhos enquanto falam.
Assim, a missão da humanização, em um sentido amplo, é incentivar a união e colaboração interdisciplinar, entre todos os envolvidos, incluindo gestores e funcionários de serviços de saúde, assim como a organização para um envolvimento participativo dos usuários nos processos de prevenção, cura e reabilitação. Nesse sentido, a humanização vai ao encontro aos princípios do Sistema Único de Saúde (SUS), ao enfatizar a necessidade de assegurar a integralidade da atenção à população, bem como a de estratégias que busquem a ampliação da condição de direitos e cidadania dos indivíduos.
Debates sobre o significado da humanização e a efetiva implantação de ações nas esferas pública e privada apresentaram crescimento na última década. No setor público, destaca-se, por exemplo, o lançamento da Política Nacional de Humanização da Atenção e Gestão em Saúde no SUS, também chamada de Política Nacional de Humanização (PNH) ou Humaniza SUS, fundamentada em três princípios: 1) transversalidade, indicando a ampliação do grau de comunicação entre usuários e serviços; 2) indissociabilidade entre atenção e gestão, afirmando existir uma relação inseparável entre os modos de cuidar e modos de gerir; 3) afirmação da autonomia dos indivíduos e coletividades, desenvolvendo atitudes corresponsáveis na produção de saúde.
A humanização na atenção primária foi avaliada por Nora e Junges (2013), que conduziram uma revisão sistemática da literatura produzida na América Latina entre 2003 e 2011. Com relação à infraestrutura e organização dos serviços básicos de saúde, verificou-se insatisfação com a estrutura física e material e com os fluxos de atendimento, havendo queixas frequentes dos usuários especialmente com a espera em filas e dificuldades no acesso aos serviços de saúde devido à grande demanda. Além disso, foram identificadas questões referentes ao número insuficiente de profissionais, fragmentação dos processos de trabalho, baixa remuneração e falta de profissionais preparados para atuar de forma humanizada, com maior sensibilidade para perceber as reais necessidades da população.
Os estudos também identificam a importância da comunicação como elemento chave para a humanização da assistência em saúde, proporcionando acolhimento e o estabelecimento do vínculo entre profissionais e pacientes. O vínculo com os usuários de serviços de saúde, por sua vez, é um fator que amplia a eficácia dos programas e ações e favorece a participação do usuário em seu cuidado. Algumas características foram ressaltadas como essenciais para uma boa relação: ouvir, dar atenção, envolver-se, tocar e compartilhar.
Conclui-se que os fatores imprescindíveis para o estabelecimento da humanização são a comunicação, as condições técnicas e relacionadas à infraestrutura. Neste cenário, é possível a construção de uma rede de diálogo em que tanto os usuários quanto os profissionais de saúde tenham voz ativa. Para que o processo se efetive, é necessário o envolvimento de todo o conjunto que compõe um serviço de saúde, ou seja, funcionários, gestores, formuladores de políticas públicas, bem como representantes de conselhos profissionais e instituições formadoras.

https://www.atribunamt.com.br/2014/09/valor-da-humanizacao-em-saude/