Ontem, no turno da noite na reunião de professores, da Educação de Jovens e Adultos – EJA – da escola onde trabalho, conversamos sobre a capacidade que alguns animais têm de reconhecerem seu reflexo no espelho como uma imagem deles mesmos.
Depois, li atento algumas centenas de mensagens no WhatsApp do grupo de professores do diurno. As frases curtas diziam sobre a morte do cãozinho de uma colega nossa do diurno, da tristeza que tomou o casal e seus filhos, com a perda de um amigo tão querido.
Isso me faz pensar no que é, de fato, humano. Talvez a humanidade seja um atributo das relações que os seres estabelecem em reciprocidade. Algo que não é exclusividade de primatas sencientes. Há várias formas de reciprocidade e solidariedade entre espécies.
Com a ubiquidade dos registros fotográficos em tempos de Smartphones, podemos testemunhar muitos flagrantes de solidariedade, tristeza, saudade e alegria entre animais e humanos, de animais para animais de espécies diferentes, inclusive. Qual o sentido de estarmos nos dando conta desses fenômenos afetivos?
O fato de experimentamos o nosso próprio reflexo no espelho, de sentirmos nós mesmos nos desdobrando em existências múltiplas ao longo do tempo parece definir nossa humanidade. Mas de maneira alguma é prova de que os outros seres sejam incapazes das mesmas sensações. Apenas ignoramos suas linguagens e, portanto, os sentimentos que elas podem expressar.
É quando sentimos afeto, amor mesmo por uma outra criatura, que a humanizamos. Ou que reconhecemos que humanidade pode ser uma qualidade dos seres e não apenas a característica definitiva de uma espécie distinta de primatas com menos pelos.
As implicações disso para o que chamamos de educação inclusiva é impactante. Se a definição possível de um outro, diferente, como um ser de outra espécie é tão relativa, como justificar o preconceito contra seres de nossa própria espécie?
Alunos com deficiência ou altas habilidades são diferentes de nós em modos de ser. Mas, em essência, no curso biológico de seus corpos, são muito próximos de nós mesmos. Não há recurso, nem deficiência que possa nos excluir da condição humana. Menos ainda da degeneração cognitiva relacionada ao destino corriqueiro, cada vez mais comum, de simplesmente envelhecer, adoecer e perder as habilidades que nos distinguem.
O tempo humano é extremamente efêmero e qualquer condição que observemos em uma pessoa, ou é muito similar as que já experimentamos em nossa infância, ou será semelhante a outras que iremos experimentar em nossa velhice.
Uma série de fotos do ator Patrick Swayze no Facebook, basta para percebermos que celebridade, sucesso, dinheiro e todo o recurso que possamos imaginar não pode nos poupar do destino que compartilhamos entre nós e com todas as demais criaturas.
Por isso tenho certeza da sinceridade que anima o amor que sentimos por seres de estimação como gatos ou cães. É solidariedade entre seres vivos. Companheiros de caminhada ao longo da vida.
