Ubuntu Francobrasileiro! De quando não aguentamos mais…

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Tenho visto várias mensagens que, de alguma forma, tentam comparar as tragédias que estão ocorrendo em Minas e Espirito Santo e a que ocorreu, com ameaça de prosseguimento, em Paris. Acho que estão certas nos questionamento que fazem da cobertura da mídia e da importância que dá a uma, a de fora, silenciando ou mal noticiando a outra, interna.

Acho que não temos que comparar ou tentar dar maior ou menor importância a uma ou outra. Ambas fazem parte da mesma lama, da nossa lama, que, infelizmente, na globalização, se transforma em uma lama planetária.

Por mim, digo que ambas possuem o mesmo grau de decepção com nossa humanidade em seu pretenso avanço civilizatório. Tenho em minhas mensagens no facebook, como mote “é a lama, é a lama”, tentado chamar a atenção de todos para a situação séria que está ocorrendo no sudeste e que só tende a piorar pelas notícias que temos via redes sociais, já que pela mídia não adianta esperar.

Trata-se de uma ganância desmedida que, incompetente, se mete a fazer o que não sabe e que, não estando sozinha, faz parte de uma rede de ganância cega em que a irresponsabilidade e a insensibilidade com a vida enquanto vida é inerente ao próprio sistema que corrói o mundo e nos torna a todos corruptos por pensamentos, atos ou omissões. É, enfim, a nossa lama.

Sou sim Mariana e, principalmente, Minas Gerais e Espírito Santo, mas antes sou Brasileiro, porque sabe Deus, do jeito que está, até aonde esta lama avançará. Precisamos nos irmanar aos Mineiros e Capixabas e, como fez Paris, em uníssono, gritarmos: Não temos medo, queremos um basta nisto!

A doçura morta parece ser simbolizada nesta primeira catástrofe que, fora as vidas perdidas sem forma de dimensionamento, se espelha no Rio Doce, irremediavelmente morto. Um Rio que, se não tivermos cuidado, acabará avançando em seu fluxo pelo planeta, na morte total da doçura e da delicadeza. Não fosse a solidariedade lá e aqui, lembrando que há ainda vida humana pulsando pelo planeta e que se importa e sofre com o sofrimento, estaria já intolerável viver neste mundo.

Por que então, embora gritando pelo que nos ocorre, visto minha foto de perfil do Facebook com as cores da bandeira francesa?

Porque o que aconteceu na França, não foi na França, foi em nossas almas, em nossas vidas. Não é porque há vítimas brasileiras, ou mesmo porque considere que o terrorismo é o mal em si, filho do capeta, não sou tão obtuso, sei que as coisas não são tão simples assim e que o olhar ocidental é apenas meio olho e meia visão.

Não odeio os terroristas, odeio seu ódio e suas reações, porque não acho que sua forma de agir combata realmente aquilo que eles querem que se modifique. Tornando-se igual àqueles que consideram algozes, seu ódio, como a ganância do outro lado, chega a um ponto tal que não é mais ódio pelo sistema contra o qual lutam, mas ódio pelo próprio humano, sem distintivo algum. Matar franceses, qualquer francês, é mesmo combater por algum ideal louvável?

Matar mineiros e capixabas é mesmo justificável frente a alguma ganância irresponsável?

Os terrorirstas, contra a guerra, declaram a guerra por todo lado e contra todos, sem distinção, e toda guerra é insensata e estúpida, porque nos lembra de que, pré-primatas, nossa possibilidade de expressão e de comunicação é trocada pela ódio que cega. Nenhum Deus que se preze legitima este ato.

Tenho piedade tanto dos que morrem matando, achando que praticam um ato heroico em nome de alguma coisa pela qual, sem saberem, não estão realmente lutando e daqueles que morrem num ato terrorista, porque eles também morrem inutilmente, por não representarem nenhum ganho real para qualquer luta. Ambos, vítimas e mártires do mesmo sistema que os utiliza para continuar sua sanha de desumanização do homem.

É contra o ódio cego, qualquer forma de ódio cego, que visto meu perfil com as cores francesas, para que o mundo saiba que não toleramos este extermínio, como também não toleramos outros que, sem serem chamados de extermínio e de terrorismo, não deixam de sê-lo de alguma forma.

No Brasil, querem votar uma lei que transforma qualquer manifestação justa em um ato terrorista, o que seria um terror institucionalizado. Esta lei não visa acabar com o terrorismo, mas continua-lo até mesmo aonde ele não existe. Pensem, se esta lei existisse na França, a multidão na rua bradando “não temos medo” seria considerada também um ato terrorista. Que contradição! A quem ela serve?

Na França, foi realmente um ato do terror, porque, neste, as vítimas, de um ou do outro lado, não são naturalmente corresponsáveis pelo estado de coisas implantado. Em Minas, há um ato de ganância irresponsável e que precisa ser punido e detido, mas não há uma expressão intencional de matar vidas, embora acabe matando.

Lembro-me do fato da morte do jornalista e de como a mídia se esforçou para transformá-lo em um crime intencional, classificando-o, inclusive, inadequadamente, de terrorismo. Ora, por que agora silencia sobre o que ocorre em Minas e não responsabiliza e incrimina seus responsáveis, já que todos sabemos que NÃO FOI UM SIMPLES ACIDENTE?

Não esperemos, portanto, muito de nossa mídia, mas também não entremos no mesmo jogo, desqualificando o que não pode ser desqualificado.

Neste sentido, Carioca, estou chafurdando nesta lama podre assassina, indignado. Mas, planetário, digo sim, Je suis parisien! Choro em verde, amarelo, azul e branco, sem dúvida, mas choro também desolado em blanc, bleu e rouge.

Não importa a cor, não importa a nacionalidade, não importa a mídia.

Parece-me que a dor é cósmica e que, joelhos dobrados, tenhamos que orar para que tudo isto tenha fim, mas sabendo que, como diz a bíblia: “faça por onde e eu te ajudarei”.

Não basta chorar, rezar e somente ser solidário enviando socorro, temos é que, enquanto humanidade, juntos nos cinco continentes, lutarmos pela manhã de um novo mundo, porque este já deu.

É a lama, é a lama…

É o fogo, é o fogo…

Brasil na lama, França em fogo nos mata a todos, porque não é lá ou aqui, é em nossas vidas que isto dói e mata.

Ubuntu para a vida. Qualquer vida!

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